‘Referência’, ‘mestre’ e ‘gênio’: veja a repercussão da morte do fotojornalista Evandro Teixeira


Fotógrafo morreu aos 88 anos por falência múltipla de órgãos. Morre o fotógrafo Evandro Teixeira, aos 88 anos
O presidente Lula (PT) emitiu uma nota de pesar lamentando a morte do fotojornalista Evandro Teixeira, que faleceu nesta segunda-feira (4) em decorrência de falência múltipla de órgãos. “Referência no fotojornalismo do nosso país e do mundo”, foi uma das frases usadas pelo presidente para falar do legado de Evandro.
Aos 88 anos, o fotógrafo inúmeras vezes premiado e autor de imagens marcantes da história do Brasil – e até de outros países – estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea, na Zona Sul.
“É de sua autoria uma das fotos mais emblemáticas desse período: a Tomada do Forte de Copacabana, de 1964. Evandro deixa um acervo de mais de 150 mil fotos, com imagens que fazem parte da história do Brasil. Cobriu posses presidenciais, registrou a fome, a pobreza, esportes, personalidades e a cultura do nosso país. Meus sentimentos aos familiares, amigos, colegas e admiradores de Evandro Teixeira”, escreveu Lula.
Diversos jornalistas também lamentaram a perda nas redes sociais e lembraram das décadas em que ele esteve no Jornal do Brasil.
Initial plugin text
Initial plugin text
Initial plugin text
O corpo de Evandro será velado na Câmara dos Vereadores, no Centro do Rio, na terça-feira (5), das 9h às 12h.
Passeata dos 100 mil, Tomada do Forte, enterro de Neruda: fotógrafo Evandro Teixeira contou ao g1 as histórias por trás da cobertura de ditaduras
Fotógrafo histórico
Visitante observa foto da exposição “Evandro Teixeira. Chile, 1973”, que também tinha fotos da ditadura no Brasil, como essa histórica
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Evandro registrou, quase sempre em preto e branco, boa parte do que de mais importante aconteceu na segunda metade do século 20.
Nascido na Bahia, em 1935, Evandro Teixeira deixou Irajuba, um povoado a 307 quilômetros de Salvador, para fotografar o Brasil.
Ainda jovem, fez um curso de fotografia à distância e, em 1957, chegou ao Rio de Janeiro com uma carta de recomendação para trabalhar no Diário da Noite.
Logo depois, foi convidado a integrar a equipe do Jornal do Brasil, onde trabalhou por 47 anos, tornando-se uma referência no fotojornalismo.
Evandro Teixeira em setembro de 2023, quando lançou mostra no CCBB do Rio
Marcello Cavalcanti
Em quase 70 anos de carreira, registrou eventos marcantes como o golpe militar de 1964 e a ocupação do Forte de Copacabana em 1º de abril de 1964.
Com a câmera escondida, ele se disfarçou de oficial sem farda, acompanhado por um amigo militar.
“Aí ele bateu continência, eu bati também e falei que era o capitão tal – já não me lembro mais o nome (risos)”, lembrou ao g1, em entrevista feita em setembro de 2023.
Em seguida, bateu a poética foto que estampou a primeira página do Jornal do Brasil no dia seguinte, com militares em contraluz debaixo de chuva (veja acima).
“Tirei o filme da câmera, botei na meia. Na saída, tive que mostrar a câmera, mas já estava com o filme escondido”, lembra, revelando um hábito que tinha para evitar ter o rolo apreendido e perder as fotos.
As lentes de Evandro Teixeira foram fundamentais para imortalizar a luta contra os horrores da ditadura no Brasil.
Suas fotos, como a da multidão de cariocas na Passeata dos 100 Mil em 1968, na Cinelândia, no Centro do Rio, são exemplos marcantes de seu trabalho.
“Estava lotado e eu nunca vi tanta gente. Aquela faixa de ‘Abaixo a ditadura, o povo no poder’ me chamou a atenção.”
Em um dia de confusão e corre-corre no Centro do Rio, Evandro capturou uma de suas fotos mais icônicas: a de um estudante caindo enquanto era perseguido por dois policiais (veja abaixo).
Caça ao estudante durante a Sexta-feira Sangrenta, série de manifestações contra a ditadura realizadas no centro do Rio e duramente reprimidas pelo regime, Rio de Janeiro, RJ, 21/06/1968
Evandro Teixeira/Acervo IMS
Recentemente, a imagem circulou com uma mensagem falsa alegando que o estudante seria o atual presidente Lula.
“Ele soltou um gemido alto e ficou estirado no chão. Os policiais tentaram levantá-lo, eu tirei mais uma foto e saí correndo porque eles começaram a me perseguir”, disse ao g1, no ano passado.
Em outra ocasião, na Candelária, Evandro registrou a repressão policial com agentes montados a cavalo.
Repressão policial na Candelária durante a missa de sétimo dia do estudante Edson Luís, assassinado durante protesto estudantil no restaurante Calabouço, Rio de Janeiro, RJ, 04/04/1968
Evandro Teixeira/Acervo IMS
Golpe militar do Chile
Presos políticos encarcerados no subsolo do Estádio Nacional, Santiago, Chile, 22/09/1973
Evandro Teixeira/Acervo IMS
Em setembro de 1973, Evandro Teixeira voltou sua câmera para o golpe militar no Chile, que resultou na morte do presidente Salvador Allende.
Durante sua estadia, ele capturou fotografias que se tornaram documentos históricos. Algumas dessas imagens foram feitas no Estádio Nacional, onde Evandro conseguiu documentar a violação dos direitos humanos.
Também são dele as fotos do adeus a um dos ícones da esquerda no Chile, o poeta Pablo Neruda (veja histórias sobre as fotos no Chile).
Matilde Urrutia, viúva de Pablo Neruda, na Clínica Santa Maria ao lado do corpo do poeta, Santiago, Chile, 24/09/1973.
Evandro Teixeira/Acervo IMS
Também eternizou em imagens Pelé e Ayrton Senna, acompanhou a visita da Rainha Elizabeth e do papa João Paulo II, documentou fome e pobreza e as festas populares, como o carnaval.
O fotógrafo reuniu em livros tudo que lhe dava orgulho. Além da mulher Marli, duas filhas e netos, Evandro deixa um tesouro captado por um olhar incomparável.
Não foi à toa que ganhou, em vida, uma honraria: uma poesia escrita só para ele por Carlos Drummond de Andrade, um admirador do seu trabalho.
Evandro Teixeira em setembro de 2023, quando lançou mostra no CCBB do Rio
Marcello Cavalcanti

Adicionar aos favoritos o Link permanente.