Eleições 2024: confira os momentos mais marcantes da corrida eleitoral em SP


Debates com cadeirada, apelidos, fala machista e briga com carteira de trabalho foram os protagonistas do período de campanha. Disputa entre candidatos ainda teve laudo falso de uso de drogas, choro e dobro de ações na Justiça em comparação a 2020. José Luiz Datena (PSDB) dá cadeirada em Pablo Marçal (PRTB) após acusação em debate na TV Cultura, em São Paulo.
Reprodução/TV Cultura
Ricardo Nunes (MDB) foi reeleito prefeito de São Paulo no domingo (27), com 59,35% dos votos, em uma corrida eleitoral ficará marcada na história democrática da capital pelas situações insólitas vivenciadas pelos candidatos.
Com o protagonismo voltado para os debates que contaram com cadeirada, apelidos, fala problemática sobre voto feminino e briga com carteira de trabalho, campanha ainda contou com laudo falso de uso de drogas, choro, lembrança de boletim de ocorrência por violência doméstica e mais.
Confira os momentos mais marcantes da eleição para prefeito em São Paulo:
Cadeirada
Datena agride Pablo Marçal com cadeirada durante debate em São Paulo
No debate promovido pela TV Cultura em 15 de setembro, o então candidato José Luiz Datena (PSDB) deu uma cadeirada em Pablo Marçal (PRTB).
A agressão aconteceu depois que Marçal fez uma pergunta para Datena. O candidato do PRTB perguntou ao apresentador quando ele pararia com de “palhaçada” e desistiria da candidatura. Antes, ele havia citado uma denúncia de assédio sexual contra Datena que já foi arquivada.
Após a agressão, o debate foi interrompido momentaneamente, e os dois envolvidos se retiraram. Marçal foi levado para o Hospital Sírio-Libanês e, segundo a equipe dele, sofreu uma fratura na costela. Por dias, após o ocorrido, ele utilizou um gesso no braço.
Laudo falso de uso de cocaína
Laudo falso de Marçal
Arte g1
Às vésperas do primeiro turno, Marçal, divulgou um laudo falso que apontava dependência de cocaína de Guilherme Boulos (PSOL).
A informação, divulgada na sexta-feira, 4 de outubro, foi desmentida pelo Instituto de Criminalística de São Paulo no sábado, ainda antes do primeiro turno (confira indícios de falsidade na arte acima).
Os advogados de Boulos entraram com ações na Justiça (criminal e eleitoral) pedindo a prisão de Marçal, a cassação da candidatura dele e também entraram com uma representação na Justiça Eleitoral exigindo a remoção dos documentos falsos.
A filha do médico que teve a assinatura fraudada no documento também move uma ação contra Marçal na Justiça.
Menção a ‘salve geral’ do PCC
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou que conversas de integrantes de uma facção criminosa foram interceptadas pelo serviço de inteligência e mostram que havia orientações para que determinadas pessoas votassem em Boulos. A declaração foi feita na manhã do domingo (27), durante a votação do segundo turno.
“Aconteceu aqui também, teve o salve. Houve interceptação de conversas, de orientações que eram emanadas de presídios por parte de uma facção criminosa orientando determinadas pessoas em determinadas áreas a votar em determinados candidatos. Houve essa ação de intercepção, de inteligência, mas não vai influenciar nas eleições”, disse o governador em entrevista à imprensa após votar ao lado de Nunes.
Questionado em qual candidato os integrantes pediam para votar, Tarcísio respondeu: “Boulos”.
Entretanto, o secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubo, afirmou ao blog da Daniela Lima que os sistemas de inteligência federais não detectaram “qualquer ordem” de facção criminosa para voto “neste ou naquele” candidato em capital em todo o país neste segundo turno.
Boulos afirmou, em coletiva, que a fala de Tarcísio é “irresponsável”, ‘”mentirosa” e “crime eleitoral”. A campanha entrou com uma ação de investigação eleitoral por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) afirmou que não recebeu nenhum relatório de inteligência nem nenhuma informação oficial sobre esse caso específico.
Carteira de Trabalho
No debate realizado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, pelo portal Terra e pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), Marçal fez, novamente, provocações a adversários.
Em um embate acalorado com Boulos, o candidato do PRTB chegou a mostrar uma carteira de trabalho para o psolista. Após os dois já terem respondido a pergunta, que era sobre cidades inteligentes, Marçal continuou mostrando o documento para Boulos que deu um tapa no objeto.
Apelidos
Em debates e nas redes sociais, os candidatos se referiam uns aos outros por apelidos. Entre os nomes criados estavam:
“Boules” (criado por Marçal, em referência a Boulos);
“Chatabata” (criado por Marçal, em referência a Tabata Amaral);
“Bananinha” (criado por Marçal, em referência a Nunes);
“Dapena” (criado por Marçal, em referência a Datena);
“Tchutchuca do PCC” (criado por Nunes, em referência a Marçal);
“Invasor” (usado por Nunes, em referência a Boulos).
Ações na Justiça
Segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), o número de processos eleitorais entre os candidatos mais do que dobrou entre as eleições de 2020 e as de 2024.
Até 25 de setembro, o número de representações com o objeto “propaganda eleitoral” era de 111, que incluem as agressões. Já nas eleições de 2020 foram registrados 50 processos.
Para Silmar Fernandes, presidente do TRE, esse aumento se dá por conta de ofensas e ataques entre os candidatos.
“Nós achávamos que a inteligência artificial seria o problema na nossa eleição, mas não está tendo. Foram pouquíssimos casos envolvendo inteligência artificial. O que está acontecendo é essa debandada de xingamentos, agressões nos debates eleitorais e isso está refletindo aqui na justiça eleitoral nos números de representações”, explicou.
Sabatina de Marçal com Boulos
Pablo Marçal liga para Ricardo Nunes (MDB) após sabatina com Guilherme Boulos (PSOL)
Reprodução/YouTube
Após um primeiro turno cheio de ataques entre os dois candidatos, Boulos concordou em realizar uma sabatina com o ex-candidato, às vésperas do segundo turno. Ricardo Nunes também havia sido convidado, mas preferiu não participar.
Em uma entrevista sem ofensas, chamada por Marçal de “Entrevista de Emprego”, o candidato do PSOL disse que não tinha ressentimento em relação ao empresário, criticou Nunes por não ter participado da sabatina, falou sobre empreendedorismo e ainda assumiu promessas de Marçal sobre escolas olímpicas e educação financeira no currículo escolar. Já o ex-candidato do PRTB ressaltou várias vezes que não teria baixaria no encontro.
‘Mulher não vota em mulher’
Em embate com Tabata Amaral (PSB), durante o debate realizado pelo UOL e pela Folha de S.Paulo em 30 de setembro, Marçal afirmou que “mulher não vota em mulher, porque mulher é inteligente”.
A fala apenas espelhou a desaprovação que o candidato do PRTB tinha entre o público feminino. Segundo o Datafolha daquela semana, 53% das mulheres diziam não votar nele.
Na mesma semana, Marçal apareceu na entrevista coletiva que sucedeu o debate da TV Globo de mãos dadas com a esposa Ana Carolina Marçal.
Choro dos candidatos
Boulos protagonizou uma cena de emoção nesta campanha. O candidato do PSOL, segundo colocado no pleito, chorou ao relatar o efeito que as acusações de usar drogas teve em suas filhas.
“Eu nunca usei e eu desafio o Pablo Marçal, que diz que tem prova: a apresente agora”, disse o candidato no programa Roda Viva de 26 de agosto.
Boulos afirmou também que foi a primeira vez que pensou em desistir da política.
Outro candidato que chorou ao falar dos acontecimentos da corrida eleitoral foi Datena. O tucano se emocionou durante sabatina realizada pelo UOL e pela Folha de S.Paulo, no dia 13 de setembro, pelo baixo número de eleitores que havia conquistado até aquele momento.
Abatido após os resultados das últimas pesquisas eleitorais, Datena disse que ainda tinha esperança de ser eleito. Naquela semana, no levantamento da Quaest, ele passou de 12% de intenções de votos para 8% e, no Datafolha, oscilou de 7% para 6%.
“Outra coisa que reforcei nessas eleições é que tentei ajudar as pessoas a votar em mim. Até agora não consegui, porra. O que eu posso fazer? E outra coisa que eu encerro bem é tendo o maior respeito por vocês, jovens de imprensa. Já sou um velho jornalista. Reconheço a ética e capacidade da maioria de vocês. Muito obrigado [levanta e abandona a entrevista].”
Datena emocionado durante sabatina.
Reprodução/ Canal Uol
B.O. de violência contra a mulher
Citado em diferentes debates, um boletim de ocorrência registrado pela esposa de Nunes, Regina Carnovale, contra o marido foi usado pelos adversários do prefeito reeleito.
O documento foi registrado em 2011 por violência doméstica. Três meses depois, Nunes também registrou um BO por lesão corporal contra a mulher. O caso não teve andamento porque a mulher não representou contra ele. Nunes nega a violência.
Em 2020, quando o caso veio à tona em uma reportagem da Folha de S.Paulo, o casal disse que os boletins foram registrados em um período de mágoas e exaltação.
*Sob supervisão de Paula Lago
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