Sem horário de verão, temos mesmo segurança energética?

A decisão do governo federal de não retomar o horário de verão não coloca em risco a segurança energética. Este foi um dos argumentos do ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, ao anunciar que a medida não retorna neste ano.

A decisão se ampara em outras medidas que foram adotadas para ampliar a capacidade do sistema. Entre elas estão o adiantamento na operação de usinas de geração termelétrica e o funcionamento de interligações nas linhas de transmissão.

“Chegamos à conclusão de que não há necessidade de decretação do horário de verão para este período, para este verão. As medidas de planejamento adotadas pelo MME garantiram a segurança energética, diminuindo o impacto do horário para este ano”, afirmou Alexandre Silveira.

A nota técnica que embasou a decisão foi elaborada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). Nas 74 páginas do documento a expressão risco energético não aparece. No tópico “principais conclusões” os técnicos mencionam que o horário de verão poderia contribuir para a “estabilidade e eficiência do sistema elétrico”, mas sem apresentar preocupação com possíveis falhas, caso a medida não fosse implementada.

No entanto, a nota técnica coloca como benefício importante a redução no ritmo de aumento de demanda no horário de maior pressão, entre 18h e 21h. Também é destacada a redução no pico de uso do sistema, mas sem dizer que haveria risco sem a adoção da medida.

“Nesse sentido, a partir deste estudo, recomenda-se a implantação do HV [horário de verão], visto que há ganhos positivos para o setor elétrico, contribuindo para a eficiência do Sistema Interligado Nacional (SIN) e, principalmente, ampliando a capacidade de atendimento na demanda de máxima no horário noturno”, diz trecho da nota técnica.

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Linhas de transmissão de energia elétrica

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O engenheiro eletricista e gerente de Análise Técnica do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal (Crea-DF), Silvio Roberto Sakamoto, acompanha o setor e considera que não há risco de desabastecimento no presente cenário.

“Não há necessidade de se implementar o horário de verão sobre os aspectos técnicos. Haveria, sim, caso não houvesse a injeção de outras energias alternativas, aí realmente o risco seria muito alto”, afirma.

Sakamoto acrescenta que a adoção do horário de verão seria benéfica do ponto de vista da agenda da transição energética, pois haveria economia de combustível fóssil, usado nas termelétricas.

“As usinas termelétricas funcionam contrariando toda a agenda das especialidades da redução de emissão de CO2”, diz.

Outras ações

O MME sustenta que o horário de verão era apenas uma das medidas para promover a segurança de que não faltaria energia. Outras medidas foram tomadas neste sentido.

A pasta fez o adiantamento da operação da Usina Termelétrica (UTE) Termopernambuco. Ela estava contratada para operar em julho de 2026, mas deve se tornar um recurso disponível nos próximos meses. Outras estruturas também tiveram o adiantamento na operação efetuado.

Além da segurança no abastecimento energético, a nota técnica do ONS também avaliou a economia com a medida. Foi estimado que, de outubro deste ano a fevereiro de 2025, poderia haver economia de R$ 244 milhões a R$ 356 milhões com combustíveis fósseis em usinas termelétricas, que teriam as horas de uso reduzidas.

Para o consumidor final, a economia proporcionada pelo horário de verão não é explícita. Pelas estimativas do ONS, haveria economia geral em três meses: novembro (2,5%), dezembro (1,4%) e fevereiro (0,2%). Em janeiro haveria um repique com incremento de 0,1%.

Atualmente, o Brasil está com a vigência da bandeira vermelha patamar 2, o mais elevado. Com a medida, as contas de energia têm um acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. A bandeira tem a função educativa de sinalizar a situação para o consumidor e também de buscar um equilíbrio com o maior gasto das termelétricas.

As usinas tiveram uma orientação do ONS de acionamento ainda em agosto. O motivo foi a baixa nos reservatórios das usinas hidrelétricas. Atualmente os níveis dos reservatórios estão baixos. Conforme os dados do ONS, o subsistema Sudeste/Centro-Oeste está com 41,19% da capacidade. Os demais subsistemas estão em situação menos desconfortável: Sul (65,03%), Nordeste (45,91%), Norte (66,91%).

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