Humilhações, agressões e estupro: mulher esfaqueada por ex-marido em Franca revela série de abusos durante relacionamento


Amanda Baldim Ramazini e Luís Fernando Moreira Bentivoglio Silveira estavam juntos há quase 10 anos. O casal tem dois filhos e ela está grávida do terceiro. Mulher fala pela primeira vez depois de ser atacada pelo ex-marido
Três dias após ser esfaqueada pelo ex-marido, o engenheiro Luís Fernando Moreira Bentivoglio Silveira, de 32 anos, Amanda Baldim Ramazini, de 31 anos, ainda tenta entender o que aconteceu na segunda-feira (21) e se emociona ao lembrar de situações anteriores vividas ao longo dos quase dez anos de relacionamento. O homem está preso desde o dia do ataque e disse que “está arrependido”
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Os casos revelados por ela vão desde humilhações e xingamentos, até agressões físicas, além de estupros (veja mais abaixo). Os dois estavam juntos desde 2017.
Amanda Baldim Ramazini, Ribeirão Preto (SP), Franca (SP)
Alexandre David/EPTV
Luís Fernando segue preso preventivamente e, segundo o advogado de defesa dele, está arrependido e ‘sabe que errou’.
Grávida de 3 meses e mãe de um menino de 7 anos e de uma menina de 1, Amanda chorou ao falar pela primeira vez da relação que tinha com Luís Fernando, pai das crianças. Ela teme que ele seja solto.
O episódio mais recente foi logo depois que ela descobriu a terceira gestação e teve um sangramento durante um passeio no shopping com o ex-marido.
“Eu já vinha passando por alguns abusos surreais. Eu tive um sangramento no meio do shopping no começo da minha gestação, jurava que eu tinha perdido meu filho, jurava. Ele me empurrou no shopping e falou ‘se você perdeu essa criança, você perdeu. O que você quer que eu faça? Você espera que eu estou com fome'”.
Amanda Baldim Ramazini está grávida do terceiro filho de um relacionamento que teve com o agressor
Arquivo pessoal
Segundo a mulher, neste dia especificamente, ela teve de esperar Luís Fernando comer para que ele a levasse ao hospital. Ela ainda relatou que ele a deixou sozinha no pronto atendimento e foi embora.
“Ele foi, pegou o lanche dele, e na hora que chegou no hospital, ele me largou no hospital. Deu entrada comigo, ficou falando ‘eu preciso fumar, eu preciso sair daqui’ e me largou lá. Voltou horas depois para me buscar”.
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Questões envolvendo dinheiro também foram usadas pelo então companheiro contra ela por diversas vezes durante o relacionamento. Luís Fernando trabalhava em uma empresa ligada ao agronegócio como especialista em sistemas de irrigação.
“Ele falava ‘você é burra demais pra trabalhar fora, você nunca vai conseguir um salário que pague o que você faz, então você tem de ser uma doméstica mesmo’. Só que eu nunca me vi dessa forma, porque eu estava cuidando da minha família, meu bem mais precioso. Então, eu lavava roupa, estava lavando as roupas dos meu filhos, do meu marido. Eu cuidava da casa, fazia uma comida, estava alimentando a minha família. Não porque era uma obrigação ou porque eu sou incapaz de conseguir algum serviço”.
Na quinta-feira (24), a companhia informou que suspendeu o contrato de trabalho dele.
Casos de estupro no relacionamento
Amanda também chorou ao lembrar que foi estuprada pelo ex-marido ao longo dos anos que ficaram juntos. Eles se casaram em 2021, mas o relacionamento começou em 2017.
“Muitas vezes, quando a gente está dentro de um relacionamento, a gente não percebe a questão do estupro também, porque a gente acha que a gente tem de fazer o que tem de ser feito dentro de um relacionamento e não é assim. Não é assim. Além de toda a dor que eu já vinha passando, agora ser vista como uma pessoa que foi estuprada pelo próprio marido”.
Amanda Ramazini, de 31 anos, e o ex-marido, Luís Fernando Silveira, de 32 anos, meses antes do término do relacionamento
Reprodução/ Redes sociais
Ela também revelou episódios de abusos psicológicos e disse que Luís Fernando a proibia de sair de casa.
“Ele pegava a chave do carro e não me deixava eu sair, que o carro era dele, que não tinha como saber que eu queria sair. Eu queria ir pra Ribeirão Preto [visitar a família] e ele dizia ‘você vai quando eu mandar, você vai quando eu deixar’. E xingamentos também, ‘você vai se arrepender do que você está fazendo’. Mas a gente nunca acha que vai ser algo que vai acontecer isso, chegar neste ponto é algo que não tem uma justificativa”.
A família de Amanda afirma que sempre notou que o relacionamento entre ela e Luís Fernando era conturbado e cheio de discussões. Em um dos casos, Amanda chegou a revelar aos irmãos que foi agredida e o filho mais velho foi ‘jogado contra a parede’ durante uma briga.
Mas, segundo ela, a situação ficou pior após o casal comprar o apartamento onde morava e onde o ataque aconteceu, em um condomínio no Jardim Noêmia, em Franca.
“Piorou quando envolveu uma questão financeira da compra do apartamento que a gente morava. Ele falava que eu não merecia o apartamento, não merecia ter nada na vida. E eu não queria, falava que podia colocar no nome dos nossos filhos, nunca vi problema em nada disso e nunca vi algo que fosse uma ameaça”.
Amanda Baldim Ramazini, Luís Fernando Silveira, Ribeirão Preto (SP), Franca (SP)
Arquivo pessoal
O ataque
Amanda, a mãe Rosana Ramazini, de 57 anos, e a filha de 1 ano foram atacadas a facadas na segunda-feira, quando estiveram no apartamento onde a mulher vivia com o ex-marido e os filhos, em Franca (SP).
Imagens de câmeras de segurança mostram momento em que engenheiro chega correndo atrás da ex, que acabou esfaqueada no banheiro em Franca, SP
Câmeras de segurança/ Arquivo pessoal
O casal estava separado há um mês e havia uma medida protetiva contra o engenheiro por conta das agressões anteriores. Amanda estava morando em Ribeirão Preto com a mãe e os filhos.
Ela conta que o filho mais velho completou 7 anos um dia antes e ia comemorar a data na escola. A família, então, aproveitou a ida a Franca para passar no imóvel pegar roupas das crianças e fazer a cobertura do bolo que entregaria à professora do menino em seguida.
Rosana e a neta já estavam no apartamento, quando Amanda voltou para o carro buscar o bolo, que estava no porta-malas.
“A gente ia fazer uma cobertura e eu ouvi ela gritar, que o apartamento é no térreo. Ela veio correndo e falou ‘mãe, pega a Aurora que ele chegou, ele está correndo, corre, corre’. Fomos para o único lugar [do imóvel] que tinha chave, que era o banheiro. Foi algo desesperador, porque eu não achei que ele ia arrombar a porta, mas ele arrombou e entrou”, conta Rosana.
Segundo ela, as duas chegaram a implorar para que Luís Fernando parasse. A bebê levou uma facada de raspão, que precisou de quatro pontos, e Rosana também foi atingida na coluna. Amanda foi golpeada por, pelo menos, 20 vezes.
Bebê de 1 ano foi esfaqueada pelo pai durante ataque à mãe em Franca, SP
Arquivo pessoal
“Nós implorávamos para ele parar. Eu olhando pra minha filha muito atenta para onde ele ia direcionar a faca. Foram momentos desesperadores. Ele estava com um olhar obstinado, eu não conseguia tirar o olhar dele, da faca e da minha filha. É tudo tão rápido e a gente precisa fazer [alguma coisa] muito mais rápido”, diz Rosana.
Amanda teve um dos pulmões perfurados, levou mais de 100 pontos, 60 pontos só na cabeça, e também foi ferida gravemente no pulso, quando a faca ultrapassou o local e, por pouco, não pegou uma artéria, segundo os médicos.
“Nesse momento eu ainda estou vivendo a gratidão de estar viva porque tenho certeza absoluta, pelo jeito que ele me atacou, que era pra eu estar morta”.
Amanda Baldim Ramazini, Ribeirão Preto (SP), Franca (SP)
Alexandre David/EPTV
O socorro veio quando vizinhos ouviram os gritos das mulheres e Luís Fernando foi contido. (veja vídeo abaixo)
A Polícia Militar e uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionadas.
“Fiquei conversando com minha filha o tempo todo para que ela não perdesse a consciência, que falasse comigo. Uma pessoa num momento de raiva, de ira, que razões seriam estas para que ele estivesse tão destinado a cumprir essa maldade”.
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Medo do ex-marido
Ela já tinha revelado a familiares anteriormente que tinha medo que ele pudesse fazer alguma coisa contra ela e os filhos. Dias antes do ataque, Luís Fernando tentou sequestrar o filho mais velho do casal, segundo um irmão de Amanda.
Amanda Baldim Ramazini, Ribeirão Preto (SP), Franca (SP)
Arquivo pessoal
“Tenho muito medo, ele não pode ser solto. Ele não pode sair da cadeia nunca mais. A gente começa a pensar e refletir e como não enxergou isso antes? Quando a gente está dentro de um relacionamento, é difícil perceber isso. Ninguém espera que uma fala mais alta, um xingamento possa acabar assim”, diz a mulher.
O filho mais velho do casal foi informado pela família de Amanda que o pai a atacou e está preso.
“Ele foi avisado de que foi o pai que machucou a mãe. Ele está muito abalado, chorou muito. Acredito agora que é o momento de recuperação para todo mundo. O que eu mais agradeço é o fato de eu estar viva e poder estar com meus filhos porque é o que importa. Eu sou uma mãe, estou grávida e eles são tudo na minha vida. Abri mão de tudo para estar com eles e vai continuar sendo assim”.
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