A fome da Shark

A fome da SharkEduardo Rocha

Para morder o Agro

BYD aposta no apetitoso mercado de picapes médias com a Shark híbrida

por Eduardo Rocha

Auto Press

A BYD já está se sentindo em casa no Brasil. O bom desempenho no mercado impulsionou a marca a apostar na pródiga elite do setor agro, com a picape híbrida plug-in Shark. E talvez por se tratar de um público especialmente privilegiado, a fabricante chinesa foi com um apetite exagerado em relação ao valor: R$ 379.800 para a versão GS, a única por enquanto. Esta estratégia é bem distante da usada com carros de passeio, em que apostou no custo/benefício para se apresentar ao consumidor nacional.

Esse preço posiciona a tabela da Shark entre 10 e 20% acima das versões mais completas das principais rivais. Em relação ao conteúdo, a picape chinesa traz todos os itens de conforto presentes nas rivais de topo. Ela revestimento em couro sintético, bancos dianteiros com ajustes elétricos, ventilação e aquecimento, ar-condicionado digital duplo, painel digital com tela de 10,25 polegadas, chave presencial para travas e ignição, compatibilidade com sistema de aproximação em cartão ou celular.

A central multimídia tem a clássica tela giratória da BYD com 12 polegadas. Ela traz GPS interno, espelhamento sem fio com Android Auto e Apple CarPlay, carregador sem fio e sistema de áudio Dirac. Na parte de segurança, a Shark tem seis airbags, câmera 360º, head-up display, e recursos ADAS nível 2, que inclui controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão, frenagem autônoma de emergência, monitor da faixa, iluminação full led e farol alto automático.

No visual, a Shark segue o conceito Ocean da BYD, que se inspira em animais marinhos – mesma linha do hatch Dolphin e do sedã Seal. No caso, o tubarão é representado pela grade avançada ladeada por faróis duplos sobrepostos, tudo envolve em uma moldura em led que dá bastante personalidade ao modelo. As dimensões da picape são compatíveis com o segmento. Ela tem 5,30 metros de comprimento, 1,88 m de largura, 1,84 m de altura, com entre-eixos de 3,10 m.

Mas o ponto que valoriza a picape chinesa é mesmo a tecnologia híbrida. Ela conta com dois motores elétricos, um por eixo, e um motor 1.5 turbo a gasolina, conectados a um câmbio automático que altera as relações através de um conjunto planetário, sem interface com o condutor – basta engatar o D e acelerar. Combinados, esses propulsores rendem até 437 cv de potência, com 65 kgfm de torque.

A bateria tem 29,6 kWh de capacidade e aceita recargas de 6,6 kWh AC e 55 kWh em DC. Em modo puramente elétrico, autonomia é de apenas 57 km, pelos critérios do InMetro. Mas pela taxa de consumo, de 0,9 MJ/km, a média de consumo deve girar em torno de 1 kW a cada 3,5 km, o que resultaria em uma autonomia de 103 km.

Mesmo com essa autonomia, o uso da picape é otimizado com a utilização do sistema híbrido, pois a carga da bateria é mantida pelo sistema, que usa o motor a combustão tanto para movimentar as rodas dianteiras quanto como gerador, o que faz com que os motores elétricos fiquem sempre disponíveis para promover a tração integral sob demanda.

Estruturalmente, a picape traz a plataforma DMO – dual mode off-road -, que é conceitualmente semelhante às demais plataformas da marca, em que o conjunto de baterias faz parte da estrutura do chassi. A capacidade de carga declarada foi limitada a 790 kg, a menor entre as picapes médias do mercado. A explicação é simples: a Shark pesa exatamente 2.710 kg, o que gera um Peso Bruto Total de 3.500 kg, limite para a utilização de CNH categoria B. A ideia foi facilitar a vida mercadológica da picape, para a qual a BYD tem expectativas altas de vendas, de até 1.500 unidades mensais.

Primeiras impressões

Faces opostas

Apesar da exuberância ostentada na apresentação da BYD Shark, no Autódromo de Goiânia – com direito a show de dupla sertaneja -, o trajeto para a avaliação do modelo foi bastante modesto: uma pequena volta em parte do circuito e outro na pista off-road montada em uma área próxima. À primeira vista, a picape chinesa impressiona bastante. O visual externo bastante moderno – a frente lembra a da Ford F-150 -, com uma grossa linha de led contornando a grade dianteira e outra ligando as lanternas traseiras, atravessando a tampa traseira.

Por dentro, o aspecto tecnológico é dado pelas duas enormes telas: uma de 10,25 polegadas para o painel e outra de 12 polegadas para a central multimídia. Com um console central largo, com uma detalhes inspirados em cabine de avião, com alavanca de câmbio semelhante a um manete de potência e botões tipo tecla. Há detalhes em laranja metálico nas saídas de ar, porta-copos e botão de ignição, combinando com os pespontos do revestimento em couro sintético – que tem uma textura um tanto plástica, que destoa com os demais elementos do habitáculo.

Na parte dinâmica, além da brevidade do contato, o tempo não ajudou: a pista molhada pela chuva não permitiu extrair da picape toda sua capacidade. No asfalto de autódromo, que tem uma aderência bem maior que os de rua, foi possível constatar uma acentuada rolagem lateral nas curvas. Mesmo com o centro de gravidade rebaixado pelos 150 kg da bateria sob a cabine, a suspensão dianteira e traseira independente de duplo triângulo não mostrou versatilidade para combinar o longo curso das molas com um controle de carroceria mais restrito. Já a aceleração, prometida em 5,7 segundos no zero a 100 km/h, é daquelas que pressiona os ocupantes contra o encosto. A máxima é limitada 160 km/h – e mais que isso já entraria no campo da insanidade.

Já no ambiente off-road, a Shark mostrou qualidades praticamente inigualáveis por qualquer modelo que não seja impulsionado por motores elétricos. O descomunal torque de 65 kgfm está a pleno a qualquer velocidade e o modelo conta com um controle de aceleração absolutamente preciso. Ou seja: ultrapassa trechos alagados de baixíssima aderência sem maiores dificuldade. Aqui, o sistema suspensivo mostra a sua grande virtude: os pneus mantêm contato com o piso mesmo em desníveis que certamente deixariam outras picapes com alguma roda no ar.

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