Trajetória de Vladimir Carvalho o sagrou um dos maiores cineastas do Brasil


Paraibano natural de Itabaiana, Vladimir Carvalho morreu nesta quinta-feira (24) aos 89 anos, em Brasília. Cineasta paraibano Vladimir Carvalho
Diogo Almeida/G1
Vladimir Carvalho, um dos mais importantes cineastas do Brasil, morreu nesta quinta-feira (24) aos 89 anos, em Brasília, Distrito Federal. O cineasta paraibano é um dos grandes nomes do cinema nacional, sendo responsável por uma vasta obra cinematográfica e pela formação de milhares de profissionais da área.
Vladimir Carvalho nasceu em janeiro de 1935 na cidade de Itabaiana, no Agreste da Paraíba. Ainda na infância, ele se mudou para a capital pernambucana Recife, e depois voltou para a Paraíba, onde morou na capital João Pessoa.
Na juventude, Vladimir Carvalho iniciou a carreira cinematográfica realizando críticas de filmes em jornais da Paraíba. Em ‘Aruanda’ (1960), marco do cinema paraibano, Vladimir atuou como assistente de direção Linduarte Noronha, e também participou do roteiro. Cursando Filosofia na Universidade da Bahia, em Salvador, passou a integrar o movimento Cinema Novo, época em que se tornou também assistente de direção do filme ‘Cabra Marcado para Morrer’, de Eduardo Coutinho. Com o golpe militar de 1964, as gravações foram interrompidas.
Ainda na década de 1960, Vladimir Carvalho se mudou para Brasília para ser professor da Universidade de Brasília (UnB), instituição que o nomeou professor emérito em 2012. Na capital federal, o cineasta morou até a morte. Em Brasília ele também fundou a Associação Brasileira de Documentaristas e a Fundação Cinememória, que contém todo o seu acervo.
Vladimir Carvalho recebendo título de professor emérito na UnB
Divulgação/UnB
Entre as principais obras de Vladimir Carvalho estão ‘O País de São Saruê’ (1967) e ‘Conterrâneos Velhos de Guerra’ (1991). Em 2007, o cineasta lançou o documentário ‘O Engenho de Zé Lins’ sobre o escritor José Lins do Rego.
Em 2017, Vladimir Carvalho falou com o g1 sobre a relação com o pintor Cícero Dias, tema do então mais recente documentário de Carvalho, intitulado ‘Cícero Dias – O Compadre de Picasso’. O filme, que chama atenção por mostrar a vida do “compadre de Picasso”, foi premiado no Festival de Brasília e exibido na edição 2016 do Fest Aruanda, em João Pessoa.
Vladimir Carvalho no Fest Aruanda, em João Pessoa
Reprodução/TV Cabo Branco
Em 2006, mesmo ano em que foi homenageado no Fest Aruanda, Vladimir Carvalho recebeu o título de Professor Honoris Causa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde iniciou sua formação acadêmica.
Lúcio Vilar, fundador e produtor executivo do Fest Aruanda, principal festival audiovisual da Paraíba, trabalhou com Vladimir Carvalho e falou ao g1 sobre a importância dele para a cultura brasileira. Lúcio afirmou que Vladimir ele era “uma espécie de padrinho do Fest Aruanda”, já que acolheu de imediato a ideia da iniciativa.
Segundo Lúcio, Vladimir era “a última das testemunhas oculares do Cinema Novo ainda vivo, e que continuava produzindo”. Ele também era, para Lúcio, “grande entusiasta do Fest Aruanda”.
“Aos 89 anos ele continuava ativo, produzindo. Ou seja, ele manteve um ritmo de produção ao longo de sua carreira que começa efetivamente com Aruanda, que teve um impacto profundo logo que foi exibido no eixo Rio-São Paulo. Com isso, ele criou uma escola documentarista paraibana. Ele nunca fez ficção, foi documentarista fiel ao gênero, com importância latino americana”, afirmou Lúcio.
Lúcio também afirmou que, apesar de ter morado em Brasília durante grande parte da vida, Vladimir nunca deixou de retratar seu estado natal, a Paraíba, em suas obras.
“Ele nunca perdeu o retrovisor paraibano, digamos assim. Ele morava em Brasília mas sempre voltava aos filmes com temática paraibana e nordestina. Nos filmes de Vladimir você vai encontrar a história paraibana vista pelo ângulo crítico de um documentarista, que espelhava as contradições sociais no que fazia”, explicou.
Silvio Osias, jornalista especialista em cultura que acompanhou a carreira de Vladimir Carvalho, também afirmou, em depoimento à TV Cabo Branco, que o cineasta é o grande nome do cinema paraibano.
“Vladimir Carvalho era o nome mais importante do cinema paraibano, e era um dos grandes documentaristas brasileiros em qualquer tempo”, finalizou Silvio Osias.
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