Antonio Cicero, integrante da ABL, morre aos 79 anos


Poeta sofria de Alzheimer e se submeteu a um procedimento de morte assistida na Suíça. Poeta Antonio Cicero morre aos 79 anos, na Suíça
Morreu nesta quarta-feira (23), aos 79 anos, o poeta e integrante da Academia Brasileira de Letras Antonio Cicero.
O fardão imponente da Academia Brasileira de Letras vestia Antonio Cicero, um poeta na essência.
“Ele tinha uma capacidade de ser um erudito e, ao mesmo tempo, era popular. Fazia música popular, letras belíssimas”, diz Merval Pereira, presidente da Academia Brasileira de Letras.
Carioca, filósofo, ensaísta, crítico literário, escritor. Suas poesias ecoaram pelas pistas de dança dos quatro cantos do país quando a irmã mais nova, a cantora Marina Lima, musicou seus poemas. O Brasil adorou.
“Escrevia poemas e tal, mas pensar assim ‘o que você vai ser quando crescer?’ era filósofo. Então, nunca me preparei para isso. Quer dizer, nunca aprendi um instrumento, foi um acaso, um acaso feliz, uma felicidade que, por causa de Marina, eu tenha começado a fazer letra de música”, disse Antonio Cicero.
A parceria com Marina virou trilha sonora de muitas gerações. E Antonio Cicero se juntou a outros parceiros, como Lulu Santos.
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Antonio Cicero foi diagnosticado com Alzheimer, mas continuava atendendo aos compromissos. Há menos de duas semanas, esteve em uma sessão plenária na Academia Brasileira de Letras. Leu para os colegas imortais um poema de Carlos Drummond de Andrade, chamado “A Flor e a Náusea”.
Em seguida, viajou para Paris com o companheiro, Marcelo Pies. Marcelo contou que Antonio Cicero queria ver a cidade que tanto amava pela última vez antes de ir para Zurique, na Suíça. Lá, ao lado do parceiro, foi submetido nesta quarta-feira (23) à morte assistida – que é permitida por lei no país. Poucos amigos sabiam da decisão. Para eles, foi deixada uma carta de despedida. Entre outras palavras, escreveu:
“Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços”.
Antonio Cicero e Marina Lima
Jornal Nacional/ Reprodução
Antonio Cicero tinha acabado de completar 79 anos. No último aniversário dele, em 6 de outubro, Marina escreveu em uma rede social:
“Cicero é meu maior parceiro nesses anos todos de carreira, um grande letrista, poeta e filósofo que tenho a alegria de ser irmã”.
Nesta quarta-feira (23), ela postou a dor silenciosa do luto. Caetano Veloso postou fotos ao lado do amigo e escreveu:
“Cicero foi meu melhor amigo, a pessoa mais correta que conheci. O afeto de amizade mais límpido que se possa imaginar; e uma inteligência luminosa”.
Adriana Calcanhotto fez uma declaração emocionada:
“Que privilégio conhecê-lo, jantar com ele, compor com ele, ouvir suas ideias e guardá-lo para sempre. Sigo te amando, Cicero, doce príncipe, dorme em paz”.
Antonio Cicero, integrante da ABL, morre aos 79 anos
Jornal Nacional/ Reprodução
Antonio Cicero escreveu o poema “Guardar”, incluído na antologia dos 100 melhores poemas brasileiros do século XX, organizada por Ítalo Moriconi. Ele é declamado por Fernanda Montenegro:
“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado”.
É o poeta Antonio Cicero guardado na memória afetiva do país.
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