Domingos Brazão admite no STF que conhecia miliciano de Rio das Pedras: ‘Se eu falar que nunca tive medo é mentira’


Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado volta a depor no Supremo respondendo a perguntas de representantes da Procuradoria da República, assistentes de acusação e advogados dos outros 4 réus Conselheiro do TCE Domingos Brazão presta depoimento no STF nesta terça-feira (22)
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Acusado pela Procuradoria Geral de República de ser um dos mandantes da morte da vereadora Marielle Franco, o conselheiro Domingos Brazão disse, em seu segundo dia de depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) que conhecia um miliciano de Rio das Pedras que foi preso em uma operação do MP.
No depoimento, o conselheiro do TCE disse que frequentava comunidades, não apenas Rio das Pedras, mas que tinha medo dessa relação com traficantes e milicianos.
“Se eu falar que nunca tive medo é mentira. Mas tem que visitar. Não pode abandonar as pessoas. Minha família se preocupava, mas eles não se metem com autoridades”, afirmou o conselheiro do TCE, em depoimento por videoconferência.
Domingos Brazão voltou a depor nesta quarta-feira (23) na audiência do STF. Nesta terça-feira, o depoimento foi interrompido após duas horas de relatos sobre o caso.
Brazão responde a perguntas do promotor Olavo Pezzotti, representante da PGR na audiência.
Brazão contou quando conheceu Marcus Vinícius Reis dos Santos, o Fininho, da milícia de Rio das Pedras e que foi preso em operação do Ministério Público estadual.
“Se me perguntar quantas vezes estive com o Marcus Vinícius eu posso dizer que foram muitas. Lógico que ele não aparecia todas as vezes em Rio das Pedras. Ele com certeza votou em mim. Eles (os moradores) ficaram muito gratos à gente pelas melhorias que fizemos no local. Agora, que me preocupou, sempre me preocupou”, relatou o conselheiro.
Na audiência desta terça, Brazão disse que não conhecia pessoalmente Ronnie Lessa — o assassino confesso da vereadora — e que só o viu pela televisão.
“Nunca vi esse senhor. A primeira vez que vi a imagem do Ronnie Lessa, me parece que foi no IML, no dia que ele foi preso”.
Domingos Brazão se emocionou novamente e desabafou sobre as acusações da Procuradoria Geral da República que responde de ser o mandante da morte da vereadora Marielle.
“Eu preferia ter morrido no lugar da Marielle. Ele tá destruindo a minha família. Que tipo de gente faz isso? O senhor acha que ia ter coragem de levar e envolver meu irmão nisso? É claro que a família da Marielle sofre, mas ele poderia ter me matado. Eu não sei como ele (Ronnie Lessa) dorme”.
Ele contou que já perdeu 26 quilos em 7 meses de prisão e disse não acreditar no que está acontecendo.
“A gente duvida até de Deus. Não entendo por que estou preso por envolvimento com pessoas que não conheço. Estou perdendo a minha vida aqui sem ter a oportunidade de me defender. Uma vírgula muda uma sentença. O maior alvo da CPI das Milícias (em 2008) foi o Cristiano Girão. Aí em 2010, 2011, o pessoal começa a ser preso, denunciado. Período em que começa um certo encolhimento da milícia”, afirmou o conselheiro do TCE.
Interrogados pelo STF
Os depoimentos começaram na segunda-feira (21). O primeiro a ser ouvido foi o seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido).
Como o irmão, Domingos se emocionou logo no início do relato ao STF ao lembrar da família. O deputado Chiquinho acompanhava o depoimento de Domingos, por videoconferência, e também foi às lágrimas ao ver o irmão em prantos.
No primeiro dia de relato ao falar da família, Chiquinho Brazão chorou. No segundo dia contou que nunca se interessou em receber denúncias contra facções criminosas. Ele respondeu às perguntas dos assistentes de acusação e dos advogados de defesa dele e dos outros réus.
“Caso de polícia eu nunca tratei. Eu nunca me interessei. A Marielle também corria desses assuntos. Tenho família que frequenta Jacarepaguá. Não quero saber o que é milícia ou o que é tráfico”, disse.
O deputado depôs por videoconferência, direto do presídio federal de Campo Grande (MS).
Chiquinho Brazão falou ainda que Marielle era uma pessoa muito amável:
“Fizeram uma maldade muito grande com ela. Marielle sempre foi minha amiga. Era uma vereadora muito amável e com quem a gente tinha uma boa relação. Ela (Marielle) sempre foi muito respeitosa e carinhosa”, disse Chiquinho Brazão
O depoimento de Domingos Brazão segue a mesma estrutura da audiência do seu irmão: o desembargador Airton Vieira, que conduz a sessão, faz perguntas e depois repassa para perguntas do representante da Procuradoria Geral da República, o promotor Olavo Pezzotti.
A seguir são as assistentes de acusação que representam as famílias de Marielle e de Anderson. Depois, os advogados dos outros quatro réus fazem questionamentos a Domingos Brazão.
Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos no dia 14 de março, no Rio de Janeiro
Reprodução/TV Globo
O processo no STF
O processo tem como relator Alexandre de Moraes, e os réus também serão julgados em um júri no Tribunal de Justiça do Rio.
Essa fase de interrogatório faz parte da instrução penal. Depois dessa semana, tanto as defesas quanto a acusação vão ter cinco dias para avaliar se vão pedir novas diligências. Caso não peçam, o processo entra na fase de alegações finais.
O que dizem depoimentos
O g1 fez um resumo dos primeiros 15 dias de audiência do processo que apura a responsabilidade de supostos mandantes nos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes. Foram cerca de 75 horas de depoimentos de 10 testemunhas. Todas arroladas pela Procuradoria Geral da República (PGR).
Em três semanas, houve depoimentos que reforçaram a investigação, enquanto outros mantiveram dúvidas que não foram levadas em conta pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, na homologação das delações premiadas de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz e ao aceitar a denúncia da PGR.
São cinco os réus do processo no Supremo:
Domingos Brazão – Conselheiro do TCE do RJ é apontado como mandante da morte de Marielle.
Chiquinho Brazão – Deputado federal também responde como mandante junto com o irmão, Domingos.
Rivaldo Barbosa – Delegado da Polícia Civil do RJ é acusado de saber do crime antes de sua realização, em 14 de março de 2018, quando ocupava a direção da Divisão de Homicídios.
Ronald Paulo Pereira – Major da PM está preso por outro processo por envolvimento com a milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, onde teria praticado homicídios e ocultação de cadáver. No caso Marielle, o major Ronald é acusado de participar do homicídio ao monitorar os passos da vereadora.
Robson Calixto Fonseca, o Peixe – Policial militar. É acusado de integrar a organização criminosa que seria chefiada, de acordo com a denúncia da PGR, pelos irmãos Brazão. Segundo a denúncia, Peixe teria ajudado a desaparecer com a MP5, submetralhadora usada para matar Marielle.
Desembargador Airton Vieira, em sessão do caso Marielle no STF
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