‘Maníaco do Parque’ foi expulso de escola por agredir aluna e ‘escapou’ da prisão ao tentar estuprar mulher em Rio Preto, diz escritor de livro


Francisco de Assis Pereira, de 56 anos, foi preso em agosto de 1998 e condenado a mais de 280 anos de prisão por matar sete mulheres e estuprar e roubar outras nove. Corpos foram encontrados no Parque do Estado, em São Paulo. Criminoso nasceu em São José do Rio Preto (SP). Preso há 20 anos, ‘Maníaco do Parque’ deve ser solto em 2028
O homem conhecido como “Maníaco do Parque” nasceu e viveu a infância e a adolescência em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, onde cometeu os primeiros crimes, incluindo a expulsão de uma escola por agredir uma aluna e uma tentativa de estupro, segundo o escritor Ullisses Campbell, autor do livro “Francisco de Assis: O Maníaco do Parque”.
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Francisco de Assis Pereira, atualmente com 56 anos, foi preso em agosto de 1998 e condenado a mais de 280 anos de prisão por matar sete mulheres e estuprar e roubar outras nove (veja acima o vídeo do júri obtido pelo g1). Os corpos foram encontrados no Parque do Estado, em São Paulo – fato que deu origem ao apelido do criminoso.
As mortes geraram comoção no país e a intensa investigação foi iniciada. Francisco cumpre pena na penitenciária de Iaras (SP) e ganhará liberdade a partir de 2028, uma vez que, na época do julgamento, um preso não poderia cumprir mais de 30 anos em uma penitenciária (entenda abaixo).
Nascido em Rio Preto (SP), Franscisco de Assis Pereira, conhecido como ‘Maníaco do Parque’, está preso desde 1998
Ullisses Campbell/Arquivo pessoal
Lançamento de filme e livro
O caso do serial killer, que estampou capas de jornais com chamadas para o “suspeito mais procurado do país”, voltou à tona após o lançamento do novo filme e de um livro, escrito por Ullisses Campbell e publicado em setembro deste ano.
Para elaborar a biografia, intitulada “Francisco de Assis: o Maníaco do Parque”, que traz uma visão aprofundada sobre a vida do criminoso, Campbell morou três meses em Rio Preto, onde fez uma ampla pesquisa e entrevistou familiares e amigos.
Ullisses Campbell escreveu biografia de Francisco de Assis, conhecido como ‘Maníaco do Parque’
Ullisses Campbell/Arquivo pessoal
“O intuito do livro é mostrar as negligências na infância, na adolescência e, inclusive, na polícia, porque ele já tinha passagens por violência contra a mulher. Em vez de encaminhar ele para um tratamento, punem”, detalha Ullisses.
Em entrevista ao g1, Ulisses reviveu a trajetória de Francisco em Rio Preto, cidade onde ele nasceu, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em 29 de novembro de 1967. Hoje, a unidade de saúde acolhe e atende idosos e Pessoas com Deficiências (PCDs).
Expulso da escola
Escola Estadual ‘Voluntários de 32’ em Rio Preto (SP)
Ulisses Campbell/Arquivo pessoal
Quando criança, em 1974, aos sete anos, o criminoso foi expulso da primeira série do ensino fundamental na Escola Estadual “Voluntários de 32”, ao morder o rosto de uma colega de classe.
Segundo as pesquisas do escritor, Francisco tinha dificuldades para aprender a ler e a escrever. Durante uma aula, a professora pediu que lesse para a turma, mas ele apresentou dificuldade e, por isso, foi motivo de ofensas por parte dos colegas.
Devido aos xingamentos, o menino urinou nas calças, o que provocou risadas dos demais, entre eles, a menina que foi atacada por ele.
Franscisco de Assis Pereira, conhecido como ‘Maníaco do Parque’, estudou na Escola Estadual ‘Voluntários de 32’ em Rio Preto (SP)
Ullisses Campbell/Arquivo pessoal
Personalidade assassina
Aos 14 anos, Francisco trabalhou na limpeza de um frigorífico localizado no bairro Vila Esplanada, em Rio Preto. Depois, foi transferido para a função de marreteiro: ele abatia os bois que chegavam ao local.
Conforme as pesquisas de Ullisses, foi neste momento que Francisco começou a desenvolver a personalidade assassina, uma vez que tinha prazer em matar os animais.
Mais tarde, de acordo com o escritor, a investigação da polícia concluiria que o criminoso assassinava as mulheres ajoelhadas, em uma posição de reverência, assim como deixava os bois no frigorífico (entenda abaixo).
Francisco de Assis Pereira, conhecido como ‘Maníaco do Parque’, nasceu em Rio Preto (SP)
Ullisses Campbell/Arquivo pessoal
Ainda em Rio Preto, Francisco conheceu um amigo, na praça próxima ao Hospital Bezerra de Menezes, que trata pessoas com doenças psiquiátricas. Anos depois, ele o acompanharia até São Paulo, onde os dois cometeriam crimes, como matar animais na rua.
Ullisses revela que o amigo de Francisco dizia que também queria trabalhar como marreteiro em um frigorífico. Por isso, os dois compraram uma marreta, que usavam para matar principalmente cavalos que eram deixados em descampados.
Tentativa de estupro
Em outubro de 1995, três anos antes de cometer os assassinatos em série, Francisco, aos 28 anos, foi preso em flagrante, em Rio Preto, suspeito de agredir uma mulher. No entanto, segundo Ullisses, o criminoso conseguiu converter a tentativa de estupro em lesão corporal.
Na ocasião, Francisco levou uma amiga da antiga namorada para um terreno abandonado, onde tentou estuprá-la, com a justificativa de que a vítima apresentava outros homens para a companheira.
Contudo, não conseguiu cometer o abuso devido ao nó de um avental que a mulher usava. Ao tentar fugir, a vítima ficou com hematomas, o que, de acordo com Ullisses, convenceu a polícia de que ele “somente” a teria agredido.
À época, a mulher foi salva por um vigilante que ouviu os gritos dela. Francisco foi preso, mas pagou fiança e foi liberado. “O crime foi enquadrado como lesão corporal, ele enganou a polícia, disse que era uma vingança”, detalha Ullisses.
Destaque nos patins
Francisco de Assis Pereira, conhecido como ‘Maníaco do Parque’, gostava de andar de patins
Ulisses Campbell/Arquivo pessoal
Na década de 1990, Francisco ganhava dinheiro como instrutor de patins. Inclusive, o talento rendeu a ele o apelido de “Chico Estrelas” – por conta das manobras de “estrelinha” – e entrevistas em emissoras de televisão.
No mesmo ano em que tentou estuprar a mulher em Rio Preto, o criminoso almejava ser conhecido como patinador profissional. Por isso, começou a fazer trajetos sobre as duas rodas, indo, por exemplo, de São Paulo a Rio Preto.
Com o intuito de entrar para o Livro dos Recordes, Francisco desenhava o projeto de viajar de patins até os Estados Unidos.
Relembre o caso
Local onde o ‘Maníaco do Parque’ cometia os crimes
Betta Jaworski/g1/Arquivo
Sedutor, Francisco convencia as vítimas, com idades entre 17 e 27 anos, com a mentira de que iria tirar fotos delas na mata para um catálogo de produtos de beleza.
Segundo o Ministério Público (MP), as estudantes Isadora Fraenkel, de 19 anos, e Selma Ferreira Queiroz, de 17; as vendedoras Raquel Mota Rodrigues, 23, e Patrícia Gonçalves Marinho, 24; a telefonista Rosa Alves Neta, 21; e duas mulheres não identificadas “caíram” na conversa de que Francisco fotografava modelos.
Ao subirem na garupa da moto de 125 cilindradas com baú, as sete garotas não tinham ideia de que seriam obrigadas a se despir e, depois, acabariam esganadas e violentadas pelo falso fotógrafo no Parque do Estado.
Arte do g1 das vítimas do ‘Maníaco do Parque’
Betta Jaworski/g1 Arte/Arquivo
De janeiro a agosto de 1998, os corpos delas começaram a ser encontrados. Estavam ajoelhados, em uma posição de reverência, e com sinais de violência sexual e marcas de mordidas. A Polícia Civil, então, se convenceu de que todas foram vítimas de um mesmo serial killer.
Após denúncia, ele foi preso em 4 de agosto de 1998, em Itaqui, no Rio Grande do Sul, onde estava escondido. “Sou inocente”, disse o “Maníaco do Parque” aos jornalistas. Mas, dias depois, confessou aos policiais parte dos ataques, indicando, inclusive, o local onde havia deixado as vítimas.
Ossada de uma das vítimas do motoboy, que foi encontrada em 1998, no Parque do Estado, zona sul de São Paulo
Reprodução/Acervo TV Globo
Francisco admitiu ter matado as mulheres, mas sempre negou tê-las estuprado. Oficialmente, foram 16 vítimas confirmadas, sendo que sete foram mortas e nove estupradas.
“Levava para matar. Era uma coisa que era para matar. Não era para estuprar”, se defendeu Francisco em entrevista ao Fantástico, em novembro de 1998, de dentro da prisão. “Isso é um absurdo na minha vida.”
Nove cadáveres foram encontrados na mata do Parque do Estado, mas só sete foram apontados como vítimas do motoboy, descartando dois corpos. Para a polícia, a estudante Elisângela Francisco da Silva, 21, e a professora de dança Michele dos Santos Martins, 20, foram mortas por outro criminoso.
Liberdade em 2028
Para quem acusou Francisco pelos crimes e até mesmo para quem o defendeu à época, é certo que, quando deixar a cadeia e ganhar a liberdade, ele pode voltar a cometer assassinatos, estupros e roubos.
Em sua pesquisa, Campbell reuniu detalhes dos laudos do chamado Teste de Rorschach, ao qual Franscisco foi submetido na prisão. Esse exame é comumente aplicado em condenados e serve para investigar aspectos de personalidade.
O psiquiatra Paulo Argarate Vasques, que fez o laudo oficial do “Maníaco do Parque”, concluiu que Francisco é semi-imputável. Em outras palavras, o motoboy tinha compreensão da gravidade dos crimes que praticou, mas não possuía controle sobre suas ações.
O laudo dos psiquiatras ainda atestou que ele tinha transtorno de personalidade antissocial, nome para quem tem psicopatia, termo já em desuso, na qual a principal característica é a ausência de sentimentos. Portanto, não é uma doença mental, como esquizofrenia ou bipolaridade.
Ficha criminal do ‘Maníaco do Parque’
Victor Moriyama/g1/Arquivo
Um interno semi-imputável com restrição de liberdade fica no mínimo três anos em tratamento até passar por uma junta médica que o avalia. Se for considerado curado ou retornar ao convívio social, será liberado. Do contrário, pode permanecer na unidade até as próximas avaliações ou por tempo indeterminado.
Mas nem essas declarações do criminoso de que estava possuído por uma “força maligna” e muito menos o laudo psiquiátrico que o apontava como semi-imputável e pedia sua internação para tratamento convenceram a Justiça.
“Uma coisa em mim. Uma vontade. Eu não sei que vontade. Era uma vontade, uma vontade de alguma coisa. Eu saía como se fosse para caçar alguma coisa”, disse Francisco ao Fantástico, ao mesmo tempo em que negava ser maluco. “Dizem que sou louco. Eu não sou louco.”
Em quatro julgamentos, realizados entre 2001 e 2002, juízes singulares e jurados decidiram o contrário: que Francisco é imputável. Em resumo: pode responder criminalmente por seus atos, pois compreende o ilícito que cometeu e não possui qualquer doença, mas um transtorno.
Em 2018, o Ministério Público pediu à Justiça um novo Exame de Estado Mental (EEM), também conhecido como exame de sanidade. O objetivo é impedir que o preso seja solto em 2028.
A ideia da Promotoria é que ele possa continuar sem contato com a sociedade, dessa vez internado em um hospital psiquiátrico. Como está preso em uma cadeia comum, onde não recebe tratamento médico específico para sua psicopatia, existe a possibilidade de que o transtorno dele tenha se agravado.
Lá, Francisco passaria por avaliações periódicas de médicos, anuais, por exemplo, para saber se pode ou não voltar a conviver em sociedade. Se estiver apto, receberá alta e sairá. Se não estiver apto, poderá ficar a vida toda no manicômio.
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