Motorista morto em acidente com atletas do remo foi contratado para substituir amigo, diz filha


Ricardo Leal da Cunha, de 52 anos, deixa mulher e dois filhos. Corpo de motorista será velado em Pelotas (RS). Motorista Ricardo Leal da Cunha, de 52 anos, vítima de acidente no PR
Reprodução
O motorista Ricardo Leal da Cunha, uma das vítimas do acidente com nove mortes na BR-376, em Guaratuba (PR), foi contratado para substituir um amigo, que faria a viagem com a equipe de remo de Pelotas até São Paulo. O relato é da filha mais velha do condutor, Francielly Tavares, nesta terça-feira (22), enquanto ela esperava a chegada do corpo para o velório coletivo.
“O moço que ia fazer a viagem para eles não tinha mais data. Ele era conhecido do meu pai, confiava no meu pai e passou a viagem para o meu pai”, disse Francielly.
A filha, que trabalha como psicóloga, disse ter conversado com o pai no final de semana, enquanto ele aguardava os atletas nas competições de remo.
“Tinha me mandado alguns vídeos do pessoal, me mandou alguns vídeos de São Paulo, disso que ele estava fazendo durante o dia. Ele estava ansioso para voltar para casa”, contou a filha.
Ricardo tinha 52 anos e deixou a esposa, a filha Francielly e um filho de oito anos. Além do motorista, morreram sete atletas, com idades entre 15 e 20 anos, e o coordenador do time.
As vítimas são:
Oguener Tissot (coordenador), 43 anos, natural de Pelotas
Samuel Benites Lopes, 15 anos, natural de São José do Norte
Henry Fontoura Guimarães, 17 anos, natural de Pelotas
João Pedro Kerchiner, 17 anos, natural de Pelotas
Helen Belony, 20 anos, natural de Pelotas
Nicole da Cruz, 15 anos, natural de Pelotas
Angel Souto Vidal, 16 anos, natural de Pelotas
Vitor Fernandes Camargo, 17 anos, natural de Pelotas
Ricardo Leal da Cunha (motorista), 52 anos
As vítimas participavam do projeto “Remar para o Futuro”, realizado em parceria com o clube Centro Português e a Academia de Remo Tissot, e que contava com o apoio da Prefeitura de Pelotas e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Milgarejo fazia parte do projeto desde os 14 anos.
Atleta sobrevivente
O único integrante da equipe de remo a sobreviver ao acidente falou com exclusividade à RBS TV nesta terça-feira (22). João Pedro Milgarejo, de 17 anos, contou que, no momento da colisão, estava dormindo no fundo da van, que foi atingida por uma carreta.
“Quando eu acordei, nem sabia o que tava acontecendo. Depois que eu fui ver que tava tudo desmoronado. […] Quando eu saí daquela van, eu já sabia que ia ser só eu, não tinha como mais ninguém sobreviver”, relembra.
Após o resgate, o atleta recorda que “apagou” na ambulância. Quando ele lembra de ter retomado a consciência, já estava no hospital de Joinville (SC), para onde foi encaminhado com ferimentos leves.
O jovem recebeu alta na segunda-feira (21) e retornou ao RS com a família a bordo de um avião do governo gaúcho. Ele teve apenas machucados no rosto e torção em um dos pés, que ficou preso ao banco quando a van tombou.
“Meus pêsames por todo mundo que não sobreviveu. Meus amigos, meu treinador e pela família deles, sinto muito”, solidariza-se.
‘Quando eu saí daquela van, já sabia que ia ser só eu’, diz sobrevivente de acidente no PR
‘Um milagre’
Ainda em choque e com sentimentos conflitantes, a mãe de João Pedro Milgarejo, Graciele Timm Nolasco, diz sentir gratidão pela vida do filho, mas o pesar pela perda dos outros jovens.
João Pedro teve poucas escoriações e nenhuma lesão grave, o que a mãe atribui a “um milagre”. “Graças a Deus ele tá bem. Ele é um milagre. Minha definição hoje é gratidão, porque meu filho nasceu de novo. Só o psicológico dele que a gente vai ter que tratar. Vai ser muito difícil”, desabafou Graciele.
No dia anterior ao acidente, o remador conquistou medalha de ouro no Campeonato Brasileiro e dedicou ao pai falecido e à mãe. O registro com a declaração, ao lado de três companheiros, foi compartilhado no perfil oficial da Confederação Brasileira de Remo nesta segunda-feira (21) (veja abaixo).
Sobrevivente de acidente no PR que deixou 9 mortos dedicou medalha de ouro aos pais
Manifestações de pesar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou a morte da delegação. “Não há palavras que possam descrever a dor de perder um filho ou neto. A dor é irreparável. Meus sentimentos e solidariedade aos familiares e amigos das vítimas”, disse.
Natural de Pelotas, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse que “esses jovens eram exemplos de dedicação, superação e orgulho para todos nós. Estavam no auge de suas carreiras, conquistando medalhas e levando o nome do nosso Rio Grande ao topo em uma competição de grande relevância nacional, o Campeonato Brasileiro Unificado, disputado em São Paulo”.
Acidente na BR-376: manifestações do presidente Lula e do governador do RS, Eduardo Leite
Reprodução/RBS TV
A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), decretou luto oficial de sete dias. “Eles partiram de forma inesperada, deixando uma dor imensa em todos nós. Que possamos encontrar consolo nas lembranças que eles nos deixaram, e na esperança de que seu legado de amor, determinação e companheirismo continue vivo em cada um de nós, inspirando nossas ações e nossas vidas”, disse.
O ministro do Esporte, André Fufuca (PP), destacou que quatro vítimas eram beneficiárias do programa Bolsa Atleta. “Em nome de toda a comunidade esportiva, expressamos nosso profundo pesar por essa tragédia que afeta a todos. Desejamos força e coragem para enfrentarem essas perdas irreparáveis e colocamos o Ministério do Esporte à disposição para auxiliar naquilo que for necessário”, falou.
A presidente da Confederação Brasileira de Remo, Magali Moreira, divulgou uma nota em nome da entidade em que “se solidariza com a dor de amigos familiares dos atletas, da equipe do Centro Português e Remar para o Futuro, atingidos pela tragédia”.
O clube de futebol Grêmio Esportivo Brasil, que perdeu três integrantes de sua delegação em um acidente de ônibus em 2009, manifestou pesar pela tragédia. “Neste momento difícil e de grande dor, desejamos força aos familiares, amigos e toda a comunidade pelotense”, afirmou, em nota.
O Esporte Clube Pelotas também lamentou o acidente. “O Esporte Clube Pelotas está de luto pela tragédia envolvendo os atletas do projeto vitorioso Remar para o Futuro que retornava para cidade após competição em São Paulo”, disse a entidade.
Grêmio, Internacional e Juventude, clubes gaúchos da série A do Campeonato Brasileiro de futebol, também se solidarizaram diante da tragédia.
Carreta container tomba sobre van e mata nove pessoas de equipe de remo na BR-376 no Paraná
Corpo de Bombeiros
O acidente
O acidente ocorreu após uma carreta contêiner tombar sobre a van que transportava a equipe de remo na BR-376, por volta das 21h40 de domingo, em Guaratuba, no litoral do Paraná.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o acidente aconteceu no km 665, sentido Santa Catarina. A van saiu de São Paulo e tinha como destino o município de Pelotas. Por conta do acidente, a rodovia ficou interditada por 15 horas e chegou a registrar 22 quilômetros de congestionamento. A pista no sentido Santa Catarina foi liberada às 11h57 de segunda, de acordo com a concessionária Arteris Litoral Sul.
A PRF informou que a suspeita é a de que a carreta perdeu os freios e colidiu na traseira da van. Com o impacto, a van bateu em outro carro, rodou na rodovia e, em seguida, foi arrastada para fora da pista pelo caminhão, que tombou sobre ela.
Mata mostra local do acidente que vitimou 9 pessoas do RS no PR
Arte g1
Investigação
A Polícia Civil do Paraná investiga se a carreta que tombou sobre a van perdeu os freios antes do acidente. A polícia pretende ouvir o motorista do caminhão, um homem de 30 anos.
“O procedimento vai ser devidamente instaurado pela Delegacia de Delitos de Trânsito de Curitiba, inicialmente pela prática do crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor. Já temos a identificação do condutor do caminhão, que provavelmente será ouvido nas próximas horas para que possa contribuir no esclarecimentos dos fatos”, disse o delegado Edgar Santana na segunda-feira.
Ilustração mostra como teria ocorrido acidente na BR-376, no Paraná
Reprodução/TV Globo
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