Os adjetivos com os quais o povo julga (e condena) Lula e Bolsonaro

Já foi dito aqui que a Lava Jato pode ter perdido nos tribunais, mas venceu na opinião pública sobre Lula e o PT. Outra mostra disso, e mostra bastante eloquente, está nos resultados de uma pesquisa do Datafolha divulgada hoje.

O instituto foi a campo, na cidade de São Paulo, cadinho brasileiro, para saber qual é a primeira coisa que vêm a cabeça dos cidadãos quando pensam em Lula e Jair Bolsonaro.

Em relação a ambos, as associações são mais negativas do que positivas. O petista tem 48% de menções negativas, contra 39% de positivas, ao passo que o seu suposto antípoda tem 58% e 30%, respectivamente. Em termos quantitativos, Lula vence Bolsonaro.

A negatividade em relação ao petista, contudo, é expressa por adjetivos muito mais fortes e específicos no julgamento do caráter. A maior parte dos que o veem sob mau prisma o considera bandido, trambiqueiro, ladrão, corrupto, golpista, mau caráter, criminoso, fraudador, péssimo (“Deus me livre”, sem especificar), mentiroso, manipulador, vagabundo, pilantra, falso, farsa, divulgador de fake news.

A abundância de epítetos desonrosos não se repete quando os entrevistados se referem a Jair Bolsonaro. A maioria dos que não gostam do ex-presidente disse que ele é péssimo (“Deus me livre, sem especificar), não gosta dele, não tem saudades, que não foi um bom presidente, foi incompetente, não deveria ser presidente, foi mau gestor, é despreparado, mau administrador e é manipulado. Há também quem o ache doido, louco, insano.

Entre as menções positivas a Lula, não aparece nenhum adjetivo associado a honestidade. Ele é principalmente um bom presidente, simpático, apoia a população de baixa renda. Já em relação a Jair Bolsonaro, além de ser visto como bom presidente, ele é honesto, correto e, dado curioso apenas para quem não vive no mundo real, o ex-presidente é elogiado por ser de direita, representar a direita e a extrema direita.

O mensalão e o petrolão grudaram em Lula como carrapatos, e é explicável porque o chefão petista foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em todas as instâncias, com provas criminais robustas, no âmbito da maior operação anticorrupção da história brasileira. A anulação dos processos pelo STF e a intensa campanha da imprensa contra a Lava Jato não foram suficientes para apagar essa verdade factual da memória coletiva.

Arrisco dizer que ela se fixou também por outro aspecto: a grande decepção causada por um político e por um partido que se construíram sob a crença de que representavam a inédita introdução da ética na política brasileira. O ponto era mais importante até do que a ideologia de esquerda nos primórdios eleitorais do PT. As ilusões perdidas sempre deixam um travo incancelável.

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