Em reencontro, Paul McCartney e Florianópolis deram um banho!

Foi um banho! Em sua segunda passagem por Florianópolis após 12 anos, o beatle Paul McCartney mostra mais uma vez porque é o regente do maior show da atualidade no mundo – e o maior da história da cidade.

O cantor britânico levou mais de 30 mil pessoas no sábado para o Estádio da Ressacada para o encerramento da sua turnê “Got Back” no Brasil. E mais uma vez foi uma catarse catarinense, daquelas que repercutirão por muitos anos.

E Paul mostrou o que sabia em português para gritar: ‘E aí, manezinhos!’ – Foto: Marcos Hermes/Divulgação/ND

O manezinho até pode se gabar de que um beatle na cidade já não é mais novidade, mas em se tratando de receptividade, euforia e surpresas tudo ganhou uma dimensão maior. Floripa retribuiu com carisma à altura desse gênio da música. Pelo menos dentro da Ressacada, o espetáculo foi completo. Aos 82 anos, Paul McCartney está mais disposto do que nunca, com uma produção de palco, banda e som impecáveis. O mesmo pode-se dizer do público, que garantiu um clima acolhedor, participativo e muito particular que o diferenciou até dos demais shows aqui no Brasil.

Um “match” tão providencial que parece ter empolgado o próprio astro que na despedida frisou um “até a próxima”. Paul surgiu no palco às 22h, em meio a uma arena em frenesi, lotada por pessoas de todas as gerações, de crianças, adolescentes à idosos e famílias. O que se seguiu a partir de então foi uma maratona de 34 canções que perpassam os 70 anos de carreira, de Beatles à banda Wings e discos solos.

Bastou dar início aos acordes do clássico dos Beatles “Can’t By Me Love” para o estádio não “vir abaixo”, mas sim “disparar às alturas”. Com um manezês aparentemente mais aprimorado do que há 12 anos, ele saudou a multidão: “E aí, menezinhos. Boa noite, Floripa. Vamos nos divertir muito!”.

Foi a senha para uma catarse de quase três horas de apresentação. O público repetidamente chamava por Paul, puxava coros e fazia juras de amor, ao passo que o astro respondia com acordes, acenos e falas descontraídas. A plateia ia ao delírio a cada virada de repertório e os clássicos cantados na ponta da língua: “Let it Go”, “Drive My Car”, “Let me Roll It”, “My Valentine” (dedicado à esposa Nancy, que o acompanhava do palco”), “Maybe I’m Amazing”, “Blackbird”, “Love Me Do”, “Dancing Tonight”, “Hey Jude”, “Let it Be”, “Jet”, “Band on The Run” e tantos mais.

Um repertório que pouco se diferenciou daquele de 12 anos atrás, mas que trouxe surpresas na sua execução. Logo de início, o público foi surpreendido com a performance do trio de metais em uma das arquibancadas. Multiinstrumentista reconhecido, Paul se revezou entre vários instrumentos: guitarra, piano, violão, bandolim, ukulelê e o seu histórico baixo Hofner.

O palco foi um “integrante” importante desse espetáculo, com suas plataformas de elevação, telões e estrutura de luz que se movimentava constantemente. Após “Lady Madonna”, Paul reconheceu: “Floripa, dás um banho!”. E dedicou “Hey Jude” para “as queridax e toda a raça”.

 

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Os momentos mais emotivos foram durante as homenagens que ele prestou aos amigos e beatles “John Lennon” (em “I’ve Got a Feeling”, em dueto com Lennon no telão”) e George Harrison (“Somethings”). Mas foi em “Now and Then” que a Ressacada se libertou às lágrimas. A canção dos Beatles foi uma das raras novidades no repertório e lançada em novembro do ano passado. A faixa era inédita e veio à luz após décadas graças a tecnologia desenvolvida pelo diretor de cinema Peter Jackson.

Paul tocava presente com os demais Beatles (Lennon, Harrison e Ringo Starr) no telão. Aqueles “quatro garotos” estavam ali presentes. Pouco depois ensaiou um “encerramento” com “Live and let Die” e uma verdadeira explosão de pirotecnia, com fogos, labaredas e lazer do palco. Mas ninguém acreditou que seria o fim.

Na volta para o bis, Paul e a banda surgem empunhando as bandeiras do Brasil, Inglaterra e do movimento LGBTQINAP+, representado pelo arco-íris. “O pai tá on”, anunciou para enfileirar uma sequência de hits que privilegiou o álbum “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, obra-prima dos Beatles de 1968 e considerada a maior da história do rock. Emendou a própria “Sgt Peppers” e “Helter Skelter” (essa também fora do setlist de 2012) de forma delirante.

Músico fez show em Florianópolis há 12 anos e escolheu a capital catarinense como palco do encerramento da turnê no Brasil - Marcos Hermes/Divulgação/ND

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Músico fez show em Florianópolis há 12 anos e escolheu a capital catarinense como palco do encerramento da turnê no Brasil – Marcos Hermes/Divulgação/ND

McCartney movimentou público em Florianópolis, na noite do sábado (19) - Marcos Hermes/Divulgação/ND

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McCartney movimentou público em Florianópolis, na noite do sábado (19) – Marcos Hermes/Divulgação/ND

Sir Paul Mccartney cantou clássicos como 'Let It Be' e 'Hey Jude' - Marcos Hermes/Divulgação/ND

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Sir Paul Mccartney cantou clássicos como ‘Let It Be’ e ‘Hey Jude’ – Marcos Hermes/Divulgação/ND

E Paul mostrou o que sabia em português para gritar: 'E aí, manezinhos!' - Marcos Hermes/Divulgação/ND

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E Paul mostrou o que sabia em português para gritar: ‘E aí, manezinhos!’ – Marcos Hermes/Divulgação/ND

Fãs acompanharam a chegada do astro no Estádio da Ressacada - Marcos Hermes/Divulgação/ND

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Fãs acompanharam a chegada do astro no Estádio da Ressacada – Marcos Hermes/Divulgação/ND

- Marcos Hermes/Divulgação/ND

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– Marcos Hermes/Divulgação/ND

Já estava bom demais para o fechamento de fato. “É hora de vazar”, brincou para finalizar com “Golden Slumbers” esse reencontro que, na melhor definição ilhéu, foi mágico.

Desde as primeiras horas da manhã do sábado (19), fãs já aguardavam para entrar no local do show – Foto: Marcos Hermes/Divulgação/ND

Fãs exaltam show, mas não poupam mobilidade

Eles vieram de várias partes do país, de outros estados e até países. Foram se chegando já na madrugada no Estádio da Ressacada para ver o ídolo, seja da sua geração, ou dos pais, avós, enfim. Uns já quase perderam as contas de quantas vezes assistiram Paul McCartney, outros estava ali pela primeira vez. Nunca é tarde.

O músico e professor Marco Antônio Jaguarito despertou para a música com os Beatles há 30 anos, mas estava ali para ver Paul ao vivo pela primeira vez na vida. “Eu aprendi a tocar com algumas músicas dos Beatles e do Paul. Por duas vezes perdia a oportunidade de vê-lo e isso me frustrou muito. Ele representa muito na minha vida como músico, é um artista que aos 82 anos faz isso de forma tão genuína e autoral. É um show que mexe com a nossa história de vida”, emociona-se.

Já o jornalista Rafael Weiss tem um invejável histórico com “Macca” a quem ele carinhosamente se refere a Paul. Acompanha os passos, lançamentos e faz parte de comunidades de fãs. Inclusive, foi ele quem deu a primeira a primeira notícia sobre a possibilidade do retorno do beatle a Florianópolis.

Weiss acompanha Paul no Brasil desde 2010 e de lá para cá já soma 16 shows. Esteve em 2012 também na Ressacada e descreve a noite de sábado como “memorável”. Para ele, não importa qual seja o lugar do Planeta, Paul entrega magistralmente tudo o que espera a sua “hora de fiéis”. “Confesso que eu posso cansar fisicamente de passar o dia na espera numa fila pelo seu show, mas jamais vou cansar de sair de casa para ver a lenda em pessoa, um Beatle, como Paul McCartney”, descreve para completar.

Ainda que o amor ao ídolo o leve a encarar os ditos “perrengues”, Weiss faz coro ao grande número de fãs que reclamaram muito do esquema de trânsito, transporte e estacionamento para chegar ao show. “Todos perrengues compensam para gente como eu, porém, acredito que as dificuldades de locomoção nessa noite, nos faz pensar, como catarinenses, que não temos um local para receber eventos como esse”, lamentou.

Jornalista Rafael Weiss, de Balneário Camboriú, acompanha as turnês de Paul McCartney no Brasil desde 2010. Com mais esse show de sábado já soma 16 no seu currículo de fiel seguidor do Beatle. – Foto: Divulgação

Para a designer Daniela Bianchini, o reencontro de sábado com Paul em Floripa “lavou a alma” e ajudou a apagar a frustração que deixou raras memórias positivas do show de 2012. Também por conta do caos da mobilidade que se instaurou na saída do espetáculo naquele ano.

“Esse segundo show na Ressacada lavou a alma, mas sem chuvas e o desespero na volta”, comenta Dani que assistiu ao show na pista bem próxima do seu ídolo e não da arquibancada. Também estava acompanhada de amigos, da mãe, irmão, tia, primas e não sozinha. “Tenho os vinis todos da fase inicial dos Beatles, sabe, que é disparada minha favorita, e ele não economizou nos clássicos desses álbuns. Nas três horas de show ficou essa “coisa” diferente no ar, que só alguém com o talento e o carisma do Paul consegue causar”, celebrou.

A situação reincidente do trânsito em mais esse show foi resumida, no melhor estilo “manezês”, por um popular no meio da multidão que deixava o estádio: “Todos os caminhos levam sim à Ressacada. Mas o problema é justamente os caminhos, não tem?.

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