HÁ VINTE ANOS – Um ministro amador de pavio curto

Tem uma regrinha de ouro que jornalistas e entrevistados deveriam respeitar literalmente: não existe pergunta idiota ou cretina. Existe, ou pode existir, resposta idiota ou cretina. Jornalista existe, entre outras coisas, para perguntar. E entrevistado, para responder se quiser.

Um jornalista perguntou, ontem, em São Paulo, ao ministro José Dirceu de Oliveira, chefe da Casa Civil, se o governo já pensa no que fazer com a prefeita Marta Suplicy (PT) caso ela perca a eleição.

O ministro poderia ter respondido: “Ela vai ganhar”. Ou então: “Nós confiamos na vitória dela”. Ou ainda: “E quem lhe disse que Marta perderá?” Ou qualquer outra variação em torno do tema. Mas, não. O ministro preferiu responder assim:

– Só um retardado discute uma coisa dessas antes do resultado eleitoral. Ou então eu seria um idiota se respondesse essa pergunta. Não vou fazer elucubrações sobre a derrota de um candidato que está disputando uma eleição.

José Dirceu perdeu a chance de renovar sua confiança na vitória da prefeita. Indiretamente, chamou o jornalista de retardado e de idiota – porque somente alguém assim, segundo ele, discutiria uma coisa dessas a essa altura. E como ele se recusa a discutir, retardado e idiota é quem propôs a discussão.

Foi ríspido e grosseiro. O ministro já tem idade e tempo suficiente de estrada para não cometer idiotices como essa. E não é nenhum retardado.

 

(Publicado aqui em 18 de outubro de 2004)

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