Oito perdem olho após infecção em mutirão de cirurgia de catarata

Ao menos 15 pessoas foram infectadas por uma bactéria após a realização de procedimentos cirúrgicos de catarata, feitos no dia 27 de setembro, em um mutirão organizado pela prefeitura da cidade de Parelhas, no Rio Grande do Norte. O Ministério Público do estado instaurou um procedimento para apurar o ocorrido.

Oito pessoas perderam o globo ocular por conta da infecção. Outras quatro contaminadas precisaram passar pelo procedimento de vitrectomia – uma cirurgia de alta complexidade que remove o vítreo e o substitui por um gás ou líquido – e três pacientes estão sendo acompanhados em casa, com boa evolução do quadro e com mais de 80% do quadro infeccioso já solucionado, porém, ainda sem enxergar.

A Prefeitura de Parelhas informou ao Metrópoles, por meio de nota, que encaminhou uma notificação formal à empresa Oculare Oftalmologia Avançada Ltda., responsável pelas cirurgias oftalmológicas. A Oculare foi contratada pelo município de Parelhas após licitação.

A empresa afirma que as cirurgias foram conduzidas por um oftalmologista experiente, que seguiu os protocolos médicos e de segurança exigidos.

“Esclarecemos que durante a atuação médica especializada em oftalmologia não possuímos registros de infecções em cirurgias realizadas em outras oportunidades. O oftalmologista responsável pelas cirurgias em Parelhas/RN possui em seu histórico mais de 2 mil cirurgias realizadas com sucesso e satisfação”, disse em nota.

Além disso, a Oculare diz que, de forma simultânea, a gestão municipal está oferecendo atendimento contínuo e acompanhamento médico de alta qualidade aos pacientes afetados e monitorando de perto todos os casos. A empresa lamenta o ocorrido e afirma estar “trabalhando em estreita colaboração com as autoridades de saúde para investigar e solucionar a situação o mais rapidamente possível”.

O mutirão foi realizado nos dias 27 e 28 de setembro, na Maternidade Graciliano Lordão. Ao todo foram feitas 48 cirurgias. Entretanto, apenas aquelas realizadas no dia 27 de sembro sofreram contaminação.

Um inquérito civil também foi instaurado pela prefeitura, com o objetivo de “investigar as circunstâncias e responsabilidades” do caso. De acordo com o órgão, as audiências com técnicos, médicos e com a empresa responsável pelos procedimentos foram iniciadas na terça-feira, 15 de outubro de 2024.

Ainda serão realizados testes pelo Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN) para determinar onde ocorreu a contaminação. A investigação abrangerá a água utilizada, o centro cirúrgico, o processo de esterilização e outros possíveis fatores, conforme solicitado pela Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária (SUVISA).

A prefeitura afirma ter disponibilizado assistência médica integral imediata às vítimas, suporte psicológico aos pacientes e suas famílias, além de custear todos os tratamentos, consultas e medicamentos. O órgão diz que irá manter um acompanhamento constante das vítimas “até a estabilização de seus quadros clínicos.”

Bactéria

As queixas dos 15 pacientes infectados começaram a surgir entre 24 a 36h após o procedimento cirúrgico. Foi, então, realizado o colhimento e cultura do material infeccioso encontrado nas vítimas, sendo este conclusivo para a bactéria Enterobacter cloacae.

De acordo com a empresa global de tecnologia médica, Olympus, a Enterobater cloacae representa um risco para as pessoas com um sistema imunitário enfraquecido. A bactéria já foi localizada em amostras de excrementos ou fezes de seres humanos e animais e também em plantas, água, insetos e alimentos.

A bactéria “suscita elevada preocupação”, já que apresenta resistência a inúmeros antibióticos.

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