No dia dedicado a eles, professora de Florianópolis reflete sobre a educação inclusiva

Neste dia 15 de outubro é celebrado em todo o país o Dia do Professor. No Brasil, são mais de 2,2 milhões de profissionais na educação básica e 323 mil no ensino superior, segundo o Censo Escolar 2021 e o Censo da Educação Superior de 2020. Dia após dia, educadores enfrentam os obstáculos das salas de aula e procuram tornar a educação mais inclusiva.

Foto mostra crianças sorrindo em uma escola que preza pela educação inclusiva

“Intenso, difícil, gratificante”, resume Nathalia sobre a educação inclusiva – Foto: Germano Rorato/ND

Na história da educação brasileira, o ensino de PCDs (Pessoa com Deficiência) vem evoluindo gradativamente e se expandindo para acomodar alunos com deficiências físicas, intelectuais e psicossociais, entre outras necessidades especiais e muito específicas. Em Florianópolis, são 3.098 alunos PCDs apenas na rede municipal, de acordo com a Secretaria de Educação da Prefeitura de Florianópolis. Desses, 1.755 estão na educação infantil.

Embora muito se fale agora sobre educação especial, o desafio de atender a um público específico vem de mais de um século. Tanto que a primeira instituição para ensino de PCDs no país foi o Instituto dos Meninos Cegos (hoje, Instituto Benjamin Constant), fundado em 1854, no Rio de Janeiro.

Na capital catarinense, demorou quase um século depois do Rio e somente em 1957 se iniciou o atendimento público na área da educação especial. Hoje, novas abordagens pedagógicas buscam incorporar a educação especial dentro de uma visão que compreende e se ajusta à diversidade dos alunos: a educação inclusiva.

Nathalia Cardoso, 27 anos, é professora desde 2018 e começou como auxiliar de educação especial. Hoje, é professora regente das salas do grupo G6 do Neim (Núcleo de Educação Infantil Municipal) em Coqueiros, no Continente, atendendo a duas turmas de alunos de 5 a 6 anos pela manhã e pela tarde.

Ao todo, já educou mais de 280 crianças. “As pessoas pensam que só o educador da educação especial trabalha com educação inclusiva. Mas o professor regente é também da educação inclusiva, porque ela é para todas as crianças”, explica a professora e diretora Sharlene dos Santos, 43.

Estratégias para uma educação inclusiva

As atividades pedagógicas do Neim Coqueiros, onde cerca de 30% dos alunos são PCDs, são projetadas com base no que as crianças levam à sala de aula e já planejadas para incluir a todos, independentemente das necessidades. “Agora, estamos vendo ‘Os Três Mosqueteiros’, que eles trouxeram, e trabalhando a alfabetização. Eles vão ter que fazer uma apresentação e já estamos pensando juntos em como incluir as crianças que têm dificuldades para falar em público”, explica Nathalia.

A equipe da escola também desenvolveu estratégias de comunicação alternativa, como placas com símbolos de “sim” e “não” para as crianças não verbais, que têm dificuldades para se expressar pela fala. “E não só elas usam. Nós, professores, também nos comunicamos com elas assim”, diz Sharlene, mostrando o conjunto de placas que leva penduradas no pescoço. Com o tempo, foram incorporadas outras mensagens, de acordo com o que cada aluno precisa comunicar.

“A educação inclusiva é uma escolha que fazemos todos os dias”, destaca Sharlene – Foto: Germano Rorato/ND

As adaptações estão por todos os ambientes, do parquinho ao banheiro. Há um quadro para colocar, na ordem, as atividades que farão parte da rotina do dia, para ajudar na regulação emocional de alunos autistas, que podem se estressar com mudanças inesperadas. Os banheiros têm ilustrações com as instruções para higienizar os dentes e usar os sanitários, o que contribui para o aprendizado de todos os alunos.

Esforço recompensado

Para Nathalia, as palavras que definem a docência são “intenso, difícil e gratificante”. Ela conta que, recentemente, a escola organizou um passeio pela Costa da Lagoa com as turmas do grupo G6, seus alunos. Eles organizaram a viagem de barco e a trilha para que todas as crianças pudessem participar.

“Foram dois professores só para carregar a cadeira de rodas de uma aluna. Ela fez todas as atividades, tomou banho na Lagoa junto com todos os alunos. E quando ela olha nos olhos do professor e sorri, não tem explicação”, diz, emocionada.

“Naquele momento, tínhamos três opções. A primeira era não levar ninguém e excluir todos os alunos do passeio. A segunda, levar apenas os alunos típicos, o que discriminaria os alunos PCDs. E a terceira, a que a gente escolheu, a de proporcionar a todas as crianças essa experiência, independente do diagnóstico”, reflete Nathalia.

Sharlene, que atua na educação há 27 anos, diz que a profissão a escolheu. “Se vocês conseguissem ver a ação daquele dia, entenderiam os motivos pelos quais escolhemos ser professores. A educação inclusiva é uma escolha que fazemos todos os dias.”

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