Professor usa Pink Floyd, cabo de guerra e fogo para ‘desconstruir’ física em aulas: ‘Só quero que aprendam’


Jean Silva estava quase prestando vestibular para direito quando descobriu que queria ser professor. Mais de 20 anos depois, ele quer que seus alunos percam o medo da física enquanto se divertem. O professor Jean Silva em sala durante aula de física.
Arquivo pessoal
“Sou professor de física, mas não sou de exatas”. É assim que o catarinense Jean Silva, de 48 anos, se apresenta em conversa com o g1.
Ele leciona para alunos do ensino médio em um colégio particular de Florianópolis, e também dá aula em um cursinho preparatório para vestibular na capital e em Criciúma.
Jean diz ser um professor como qualquer outro, mas nas redes sociais, onde compartilha “teasers” de suas aulas, ele mostra que não é bem assim.
Nos vídeos, ele leva os alunos para a quadra esportiva para explicar impulso, quantidade de movimento e força de atrito, fala de rock e explica a relação de Pink Floyd com a refração da luz, ou ainda, brinca com fogo para contextualizar termodinâmica, eletrodinâmica e propagação de calor.
Professor de Santa Catarina ensina física de um jeito descontraído.
Reprodução/Instagram @profjeansilva
O professor diz que tem dois objetivos:
deixar uma marca nos alunos, fazendo-os se interessar pela física para que compreendam que a disciplina não é tão complicada ou tão teórica quanto parece.
se divertir enquanto leciona.
Eu quero que meus alunos possam dizer: ‘Eu tive um professor louco, mas muito legal, que me ensinou tal conceito de física’. ‘Ensinou’, porque quero que eles aprendam.
‘Físico’ desde criança
Jean conta que sempre teve curiosidade de entender como as coisas funcionam.
“Quando eu era criança, fazia pipa, carretilha, arminhas de brinquedo. Sempre tive essa ‘manha’ de mexer nas coisas, de desmontar e remontar tudo que conseguia”.
Apesar dessa conexão com a física desde cedo, o catarinense não planejou transformar a afinidade em profissão. “Na verdade, antes de tudo, eu queria ser advogado”.
Foi enquanto fazia cursinho para prestar direito que vislumbrou outra alternativa. “Eu virei mentor no cursinho, dava mentoria de química, física e matemática. Um professor de matemática dizia que eu não seria advogado, e sim professor. Aquilo me marcou, e quando prestei vestibular, não foi para direito”, lembra ele.
Jean Silva, professor de física, durante aula sobre indução eletromagnética.
Arquivo pessoal
Professor em formação
Mas Jean conta que foi só após concluir a licenciatura em Física pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2002, que ele começou a se formar verdadeiramente professor.
“Não é desde sempre [que leciono dessa maneira]. Precisei de tempo e experiência para entender o tipo de professor que eu queria e podia ser. Mas sempre fui proativo, para frente, e acho que sempre marquei os alunos [que assistiam minhas aulas]. Mas, agora, acho que estou na minha melhor fase.”
Apesar disso, o professor conta que sua técnica de ensino só dá certo se os alunos participarem da aula. E, para isso, ele precisa ganhar a confiança deles.
Eu gosto de pensar que existe professor profissional. Para ser um professor profissional, é preciso separar a parte pessoal da profissional. Por exemplo, se eu tenho algum problema em casa, não vou levá-lo para minha sala de aula. Na sala, eu preciso ensinar física e preciso estar disponível para o aluno, não importa o que aconteça. Eu digo que, se estou disponível, eu não erro.
Segundo a experiência do professor, isso é o suficiente para fazer os jovens baixarem a guarda e darem uma chance para a física.
“Muitos deles chegam à escola com medo de física. E tem uma parte teórica que exige cálculo, tem aulas que eles precisam copiar o que eu passo no quadro e fazer a lição. Mas eu garanto para eles que, nas aulas práticas, eles vão entender aquelas teorias e vão se divertir enquanto estudam. E, claro, eu me divirto junto”.
Quando perguntado se acredita que sua forma de lecionar se distaca de alguma maneira, o professor não é tão incisivo.
“É fácil ir encontrar uma aula melhor que a minha no YouTube. Também sei que a realidade média dos professores do Brasil é diferente da minha. Não tenho a pretenção de dizer que minha aula é melhor, que sou um professor melhor, ou que meus alunos aprendem mais. Eu só faço desse jeito e funciona para mim e para meus alunos. Para mim, é isso que importa”.
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