Empresas cobram até R$ 32 mil para transportar mercadorias para Manaus, que vive seca recorde


A chamada taxa da pouca água é cobrada temporariamente por transportadoras de cargas em contêineres, quando os rios no Amazonas estão extremamente secos e as condições de navegabilidade exigem adaptações. Empresas cobram até R$ 32 mil para transportar mercadorias a Manaus, que vive seca recorde.
Alexandro Pereira/Rede Amazônica
A seca no Amazonas tem feito com que empresários paguem até R$ 32 mil para transportar contêineres com mercadorias até Manaus. O valor é mais que o dobro do montante cobrado durante a seca do ano passado e tem elevado o preço dos produtos comercializados na cidade.
Neste ano, o Amazonas vive um cenário ambiental crítico devido à combinação de seca dos rios e queimadas. Todas as calhas dos rios que banham o estado estão em situação crítica de vazante. Só em Manaus, a seca mudou o cenário da cidade, que vive a pior seca do Rio Negro em mais de 120 anos. Além da capital, todos os demais 61 municípios do Amazonas enfrentam um cenário crítico.
Em todo o estado, mais de 800 mil pessoas estão sendo impactadas pelo fenômeno.
Conhecido por suas águas escuras e com quase 1,7 mil quilômetros de extensão, o Rio Negro é um dos principais afluentes do Rio Amazonas e banha a capital do estado. No final de outubro do ano passado, o rio voltou a encher, mantendo um crescimento lento e constante. No dia 17 de junho deste ano, as águas pararam de subir e começou o período de vazante.
Por conta da previsão de mais uma seca recorde em 2024, os dois portos da capital montaram terminais fluviais no meio do Rio Amazonas, em Itacoatiara. Os navios descarregam as mercadorias em balsas que, por serem menores e mais leves, conseguem navegar por trechos críticos do Rio Negro e levar para Manaus alimentos e insumos para indústria.
Mas essa ação tem um custo. A chamada taxa da pouca água é cobrada temporariamente por transportadoras de cargas em contêineres, quando os rios no Amazonas estão extremamente secos e as condições de navegabilidade exigem adaptações.
Durante essa época, as empresas são obrigadas a reduzir o tamanho e o peso dos navios utilizados. A taxa é utilizada pelas empresas para compensar as perdas com a limitação de cargas.
No entanto, neste ano, as transportadoras estão cobrando cobrando até R$ 32 mil por contêiner. O valor, segundo os empresários, é praticamente o dobro do cobrado no ano passado – R$ quase 12 mil reais. Eles também reclamam que o valor começou a ser cobrado antes do previsto.
“Essas plataformas foram para a frente de Itacoatiara, que hoje ainda tem um volume muito grande de água. Esses navios com mais de 3000 contêineres estão descarregando em cima de balsas. E as balsas chegando até Manaus. Nós estamos perdendo aí em torno de três a quatro dias a mais de um descarregamento normal, que seria em Manaus. Porém, aconteceu um fato muito ruim que essas empresas resolveram aumentar o preço do contêiner”, explicou o presidente da CDL Manaus, Ralph Assayag.
Durante essa época, as empresas são obrigadas a reduzir o tamanho e o peso dos navios utilizados.
Alexandro Pereira/Rede Amazônica
Para o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Navegação Interior, Claudiomiro Filho, a cobrança da taxa é inevitável.
“O navio precisa transbordar a carga lá e tem o serviço lá. Então, o navio reduz sua capacidade para ele chegar até Itacoatiara e as balsas que são mais limitadas com a sua capacidade de carga fazem o serviço. Então não tem como não ter uma sobretaxa. Não tem como não ter um sobrepreço neste período”, defendeu.
O Ministério Público do Amazonas abriu uma investigação para apurar um possível abuso por parte das transportadoras.
Rio Negro volta a subir
Seca do Rio Negro em Manaus.
Alexandro Pereira/Rede Amazônica
O Rio Negro, em Manaus, voltou a encher após atingir o recorde histórico de 12,11 metros, sendo o nível mais baixo já registrado desde o início do monitoramento em 1902. Após três dias de estabilidade, o rio apresentou um aumento de dois centímetros, com elevações de um centímetro no domingo (13) e um nesta segunda-feira (14).
Entretanto, a repentina subida das águas pode indicar o fenômeno conhecido como “repiquete”, um comportamento típico dos rios da região amazônica, em que os níveis oscilam, subindo e descendo, como uma espécie de efeito sanfona.
Ainda quinta-feira (10), o nível do rio tinha se estabilizado na capital, pela primeira vez, após 104 dias seguidos de descida das águas. Entre quinta (10) e sábado (12), o nível do rio permaneceu em 12,11 metros.
Nesse intervalo, o Rio Negro o rio atingiu 12,68 metros, em 3 de outubro de 2024, ultrapassando o recorde do nível mais baixo já registrado. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), a marca se configura como a pior seca da história de Manaus pelo segundo ano consecutivo.
Em 2024, a descida dos rios no Amazonas começou antes do esperado. Em Manaus, o período da seca teve início em 17 de junho, apresentando oscilações até o dia 28, quando iniciou a descida de forma ininterrupta. Historicamente, o fenômeno ocorre entre a última semana de junho e as primeiras semanas de julho.
Devido à estiagem, a Prefeitura de Manaus decretou situação de emergência por 180 dias e interditou a Praia da Ponta Negra, após o rio ultrapassar a cota mínima de segurança de 16 metros.
Números da seca no Amazonas
Além da capital, os 61 municípios do Amazonas também enfrentam uma situação de emergência devido à seca. Segundo a Defesa Civil, todas as calhas de rios do estado estão em estado crítico de vazante.
Em Manacapuru, o Rio Solimões enfrenta a pior seca de sua história. Na cidade, as águas chegaram a marcar 2,06 metros no sábado (12). Embora o rio tenha subido um centímetro no domingo (13), se manteve estável nesta segunda (14) com a marca de 2,07 metros.
Já no Alto Solimões, em Tabatinga, a situação foi ainda pior, com o rio registrando uma cota negativa. No dia 26 de setembro, o Solimões atingiu a marca histórica de -2,54 metros.
Portos provisórios operam no AM para reduzir impactos da seca no transporte de cargas

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