O silêncio das palavras: entendendo o atraso na fala no desenvolvimento infantil


Nem sempre essa condição é um sinal isolado de autismo. Em um mundo repleto de sons e palavras, o silêncio pode ser mais revelador do que se imagina. Quando uma criança não fala, a preocupação logo se instala, levando pais e educadores a um mar de incertezas. Mas nem sempre a ausência de palavras significa, automaticamente, um diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O desenvolvimento da linguagem na infância é um processo gradual. Segundo a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA), aproximadamente 10% das crianças apresentam algum atraso na fala. Compreender as razões por trás desse atraso é vital para evitar diagnósticos incorretos.

Divulgação – Assessoria Soulmare
O ambiente no qual a criança cresce é crucial para o seu desenvolvimento linguístico. A interação verbal constante entre pais e filhos é fundamental. Quando essa troca falta, o resultado pode ser um atraso na fala, sem que haja qualquer indício de autismo. “O atraso de fala pode estar associado a uma variedade de causas, sendo elas: falta de estímulo adequado, alterações auditivas, frênulo lingual alterado, flacidez/hipotonia muscular, apraxia de fala, autismo, entre outros. No caso de não estimular a criança a falar e não incentivar autonomia em poder expressar seus sentimentos e desejos, pode gerar grandes prejuízos em sua comunicação e socialização. É essencial que a família tenha momentos de lazer, trocas dialógicas e brincadeiras com seus filhos, isso fará com que o seu repertório e vocabulário aumentem cada vez mais”, explica Juliana Puchalski Lopes, fonoaudióloga com ênfase no atendimento a autistas, atraso de linguagem e fala, linguagem oral e escrita, motricidade orofacial e apraxia de fala.
Conversas diárias sobre atividades cotidianas, a leitura de livros ilustrados e brincadeiras de faz de conta são algumas das melhores maneiras de expandir o vocabulário e incentivar a comunicação verbal. Além disso, cantar músicas infantis e utilizar jogos educativos tornam o aprendizado mais lúdico.
Modelar a linguagem correta é uma técnica eficaz; ao reforçar tentativas de comunicação, os pais ajudam a criança a aprender novas palavras e estruturas. Incentivar a contação de histórias permite que as crianças organizem seus pensamentos e desenvolvam habilidades narrativas. Com paciência e criatividade, os pais podem criar um ambiente cheio de oportunidades de comunicação, fortalecendo os laços familiares e promovendo a autoestima dos pequenos.
E quando é autismo?
Para caracterizar o autismo, é necessário mais do que a presença de um único sinal. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), aponta que o diagnóstico de autismo exige um conjunto de déficits. “Podemos identificar o atraso de fala, junto a outras características, sendo elas: Contato visual não sustentado nas interações, dificuldade em imitar movimento motores e fonoarticulatórios, dificuldade em brincar funcional, simbolizar, socializar, interagir entre pares, e presença de comportamentos restritos e repetitivos, interferentes em seu desenvolvimento”, explica Juliana.
É essencial entender que o atraso na fala também pode indicar outras condições que não se restringem ao autismo. “Alterações auditivas e atrasos no desenvolvimento geral podem gerar prejuízos no desenvolvimento da linguagem expressiva e receptiva. Em relação ao sistema auditivo, precisamos avaliar e encaminhar ao médico responsável, e se necessário a exames complementares para verificar se a criança está recebendo o som com qualidade, processando e compreendendo de forma adequada, caso apresente alguma alteração nesse processo, podem gerar atrasos sim em sua comunicação. Em relação ao desenvolvimento geral infantil, precisamos observar se a criança está conseguindo acompanhar os marcos do desenvolvimento infantil e investigar”, completa.
Fonoaudióloga Juliana Lopes, Pós graduada em Análise do Comportamento Aplicada em contexto clínico, atendimento infantil com ênfase em TEA, atraso de linguagem e fala, linguagem oral e escrita, motricidade orofacial e apraxia de fala. Formação PECS nível 1, Laserterapia, Multigestos e Pós Graduanda em Fonoaudiologia no Transtorno do Espectro Autista.
Divulgação – Da Assessoria
Quando pode ser apenas atraso de fala?
Pode ocorrer quando a criança interage bem socialmente, demonstra boa compreensão de comandos simples e tenta se comunicar de outras formas, como gestos e sons. Além disso, a criança pode responder a estímulos verbais, apresentar um desenvolvimento motor normal e mostrar interesse em imitar sons, mesmo que incompletos. Ambientes pouco estimulantes, onde a interação verbal é escassa, podem contribuir para esse atraso.
Quando pode ser autismo?
Por outro lado, o autismo pode ser indicado por déficits na interação social, como dificuldade em manter contato visual e falta de interesse em interagir com os outros. Crianças autistas geralmente apresentam pouca comunicação não verbal, foco em rotinas e comportamentos repetitivos, além de interesses restritos. Elas também podem não responder ao nome e ter dificuldades em brincar de forma simbólica, com o atraso na fala frequentemente associado a outros sinais.
Quando pode ser apraxia da fala?
A apraxia da fala infantil se manifesta por dificuldade em imitar sons ou palavras, inconsistência na fala e simplificações frequentes de palavras. As crianças podem ter problemas com a pronúncia de palavras mais longas e apresentar um discurso truncado. Além disso, podem ter dificuldade para iniciar palavras e tendem a falar mais claramente palavras automáticas, como “mamãe” ou “papai”.

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