
Hoje começa o expediente de Gleisi Hoffman como ministra das Relações Institucionais – em tese, um cargo criado para azeitar o entrosamento entre Executivo e Legislativo. Ocorre que Gleisi é dona de um perfil combativo e ideológico, defensora dos ideais de esquerda e presença frequente em bate-bocas com políticos oponentes. Seria ela a melhor opção para um posto que precisa negociar frequentemente com o Centrão?
A resposta imediata à pergunta é “não”. Diante disso, por que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a escolheu para ocupar a sala onde despachava Alexandre Padilha, transferido para o ministério da Saúde?
Cresce entre os integrantes do Centrão a tese de que a escolha de Lula foi motivada pela crença de que os deputados centristas iriam debandar da base aliada de qualquer forma, dada a onda de impopularidade do governo no ano anterior às eleições.
Dessa forma, a solução seria agradar os partidos esquerdistas, que estarão com Lula faça chuva ou faça sol. E nada melhor que uma representante da esquerda raiz, como Gleisi, para jogar para a torcida do chamado bloco progressista. Neste caso, diga-se, Lula acha que a nova ministra, embaixo do verniz radical, cultiva alguma relações com próceres do Centrão. Ou seja, ela não iria inviabilizar o diálogo com os moderados, mesmo que eles abandonem o barco governista. Mas, ainda assim, vai provocar alguns fuzuês com seu estilo agressivo.
Com o desembarque do Centrão, o governo ficará em uma posição frágil no Congresso. Mas isso não quer dizer que temas defendidos pela oposição, como a anistia a Jair Bolsonaro ou um eventual pedido de impeachment de Lula, serão colocados em pauta. Isso deverá ocorrer muito mais por desinteresse de Hugo Motta e Davi Alcolumbre do que pela articulação do Planalto.
A debandada do Centrão, porém, pode trazer um efeito pernicioso na economia. Com Gleisi prestigiada e sem a marcação cerrada do Centrão, a força do ministro Fernando Haddad pode diminuir junto a Lula – e o compromisso do governo em controlar as contas públicas, visto como frágil pelos economistas, pode acabar se esvaindo. Lembremos que, em janeiro, Gleisi fez o PT soltar uma nota oficial na qual se criticava o “austericídio fiscal” promovido pelo ministério da Fazenda.
A ascensão de Gleisi e a retirada dos centristas da base aliada somam-se à queda nos índices de aprovação de Lula. A combinação destes três fatores pode levar o Planalto a rompantes de irresponsabilidade fiscal, algo que ocorre até em governos de direita preocupados com a reeleição.
Esse foi o caso, por exemplo, do governo Bolsonaro, que patrocinou a chamada PEC Kamikaze em julho de 2022, criando ou turbinando benefícios sociais ao custo de R$ 41 bilhões. Ocorre que, naquela época, as contas do governo estavam controladas (o número de funcionários públicos, por exemplo, caiu 7,5% durante o mandato do ex-capitão). Isso está longe de acontecer na gestão Lula. O Brasil deverá encerrar o ano de 2025 com um déficit público equivalente a 8,6% do Produto Interno Bruto, o segundo maior do mundo, ultrapassado apenas pelos índices da Bolívia, com 9,7% do PIB.
Numa situação dessas, ceder a impulsos populistas seria fatal para um país como o Brasil. Ou seja, teremos chuvas e trovoadas à frente. Mas, como estamos no Brasil, as piruetas de Lula para manter o consumo em alta podem surtir efeito no segundo semestre. Mas, se isso ocorrer, será mais um voo de galinha, que dificilmente terá continuidade em 2026.
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