‘Que explicação plausível tem pra aquilo?’, pergunta professor que denunciou racismo em vitrine com bonecas


Moisés Machado, de 30 anos, é professor do ensino fundamental e diz que desenvolve um trabalho contra o racismo com seus alunos. Ele se indignou ao ver macaco fazendo par com boneca negra em loja. O professor Moisés Machado
Reprodução/TV Globo
O professor Moisés Machado, que denunciou, pelas redes sociais, uma loja de brinquedos por montar uma vitrine racista, disse ao g1 que o que mais o chocou foi o fato de terem usado um macaco para fazer par com uma boneca negra ao lado de outras duas bonecas brancas.
“Estavam em par. Estavam dois nenenzinhos brancos e por associação você pensa que são dois negros. Aí ficou muito forte, muito latente. O problema não é nem o bebê macaquinho, se tivessem colocado ele separado. Mas fazer em par?”
“Qualquer pessoa que vê aquilo ali, entende, percebe o tipo de arranjo. Por que não colocaram ali duas pessoas brancas e duas negras? Que explicação plausível tem pra aquilo?”
A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) abriu inquérito para investigar o caso.
Carlos Minc, presidente Comissão de Representação para Acompanhar o Cumprimento das Leis (Cumpra-se!), da Alerj, disse que vai entrar com uma representação no Ministério Público para multar a loja.
Professor denuncia loja de shopping da Zona Sul do Rio por montagem de vitrine racista
Moisés, de 30 anos, é professor do ensino fundamental em uma escola municipal do Rio desde 2021. Os alunos têm entre 9 e 11 anos. Em paralelo, ele diz que faz um trabalho antirracista na escola, com música, brincadeiras e dinâmicas para tratar o assunto. A ideia é desenvolver a autoestima dos alunos, sem preconceitos.
O educador disse ainda que demorou a “processar” a imagem. Ele foi no shopping na quinta-feira (22) com a esposa, grávida do primeiro filho.
“Eu vi que demorei a processar aquilo que estava na vitrine. Não foi nem de imediato, eu fiquei processando aquilo e me perguntei ‘será que é isso mesmo?’. Eu não consegui outra resposta na minha mente. Não teve outra.”
Ele disse que preferiu não falar com a loja para evitar “o embate”, já que estava com a mulher grávida. Foi ela que o incentivou a gravar o vídeo e denunciar.
“Fiquei naquela dúvida, ‘Jéssica, é isso aqui mesmo que eu tô vendo?’ Antes de postar, perguntei a ela o que ela achava e ela disse que eu tinha que postar porque era um absurdo. Ela ame deu força pra denunciar.”
Moisés disse que mesmo os alunos que não sabiam da denúncia falaram se tratar de racismo ao ver a imagem.
“Teve criança que não sabia da denúncia e aí quando viu a foto bateu na hora.”
“Ao ver isso eu fiquei imaginando o impacto que isso tem na cabeça de crianças, tanto negras quanto brancas, porque isso passa uma imagem acerca da subalternidade de uma pessoa negra.”
Moisés disse que a loja não entrou em contato com ele, apenas o shopping.
Professor denuncia loja de shopping da Zona Sul do Rio por montagem de vitrine racista
Reprodução
O que dizem o shopping e a loja
Após a repercussão do caso, o shopping enviou uma resposta ao professor.
“Já acionamos o lojista, responsável pela vitrine, e o brinquedo já foi retirado do berço com os outros bonecos. Vale ressaltar que não temos gerência sobre as vitrines das lojas, mas reforçamos nosso compromisso com o respeito, a pluralidade e a diversidade.”
Ao g1, o shopping enviou a seguinte nota:
“O Botafogo Praia informa que não tolera nenhuma forma de preconceito e esclarece que, assim que tomou conhecimento, entrou em contato com o lojista para a retirada do brinquedo. O shopping reforça que o boneco já foi retirado da vitrine e ressalta que está em constante revisão dos seus processos para garantir o compromisso com o respeito, a pluralidade e a diversidade e evitar que situações como esta voltem a se repetir.”
A Gamelândia Brinquedos, responsável pela vitrine, publicou uma nota na Instagram afirmando que “em momento algum houve intenção de promover qualquer tipo de ato racista.”
A loja disse que é conhecida é por oferecer produtos artesanais de alta qualidade e que o objetivo sempre foi proporcionar aos clientes “peças únicas e encantadoras, sem distinção de raça ou origem.”
A empresa disse ainda que tem o compromisso com a promoção da igualdade e que repudia “qualquer interpretação que vá contra nossos valores.”
Críticas nas redes sociais
Nas redes sociais, alguns usuários disseram ter visto a mesma composição em outras filiais. Outros criticaram a atitude da loja de brinquedos.
“Na loja do Nova América tb tem! Acabei de ver!”, disse uma usuária.
“Nas lojas Magal do Méier também tem. Eu fui lá com uma amiga para falar com gerente e pedir para retirar. Estava junto com as bonecas brancas! Eles mudaram de lugar, mas não retiraram. Mandamos mensagem para a fabricante, falamos com a ouvidoria e continuam trabalhando com esse produto. Agora é fazer queixa formal na delegacia”, disse outra mulher.
“Gente mas não se há um minuto de paz !!! Pelo amor de Deus onde esse mundo vai parar? Não é possível que a loja, os fabricantes, os shopping, não saibam que r@c¡sm0 é CR¡M& !!!!!”
“Racismo recreativo, depois como conseguir que nossas crianças se aceitem…😢”
“Quando você acha que já viu de tudo, se depara com esse absurdo.”
Adicionar aos favoritos o Link permanente.