‘Fiquei agarrada com ele, puxando’, diz mãe de menino morto após levar choque em academia pública no Recife


Thomas, de 10 anos, brincava de esconde-esconde quando levou descarga elétrica. Família pediu providências à prefeitura. Parentes de menino morto após levar choque em academia da cidade prestam depoimento
“Fiquei agarrada com ele puxando. Meu filho, eu não salvei. Puxei, puxei, e ali era tudo de alumínio. Não tinha um disjuntor, prefeito. Quem aprovou aquilo ali? Quem fez aquilo ali? Eu preciso saber”.
A fala é de Tassia Raquel Bandeira, mãe de Thomas Felipe Bandeira da Rocha, menino de 10 anos que morreu na quarta-feira (2) após ser atingido por uma descarga elétrica enquanto brincava com um amigo numa unidade da Academia Recife, localizada numa praça no bairro de Engenho do Meio, na Zona Oeste da Cidade (veja vídeo acima).
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Thomas brincava de esconde-esconde e na academia instalada no Parque Doutor Arnaldo Assunção, por volta das 21h45. Em determinado momento, ele se escondeu atrás do armário onde são guardados os pesos da academia. Foi lá que o menino recebeu a descarga elétrica.
Nesta terça-feira (8), a família e uma testemunha prestaram depoimento à Polícia Civil. A mãe do menino contou que, todas as noites, ela levava o filho para a praça, que, segundo ela, é um dos poucos locais disponíveis para as crianças brincarem. Ela contou, também, que tinha chamado o menino para ir para a casa minutos antes.
“Cheguei lá e disse ‘mãe, bora para casa’. Ele disse ‘mãe, só mais dez minutos, que eu estou contando’. Meu filho tem dez anos, os dez anos foram na praça. Ele faz catecismo na igreja que é de frente à praça, ele brinca todas as noites. Quando eu largo do trabalho, eu levo ele, mesmo cansada. Eu levo todos os dias, porque meu filho gostava de ser livre”, afirmou Tassia.
Thomas foi socorrido e levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Torrões, também na Zona Oeste, mas não resistiu.
Bastante abalada com a morte do filho, Tassia cobrou apoio da prefeitura, citando o prefeito João Campos (PSB), e da empresa responsável pela gestão do equipamento. Ela também pediu que o local seja interditado e que a academia da cidade seja removida da praça, para que, segundo ela, as crianças possam brincar com segurança.
“Não tinha sinalização de perigo, não tinha nada. Eles fizeram um corte atrás do armário e botaram esse fio. Meu filho disse ‘mãe, vou me esconder’, e eu olhei para dizer ‘filho, não se esconde aí não’, e eu não consegui dizer. […] O senhor [prefeito] pode tudo. O senhor não é Deus, mas o senhor pode tudo dentro do Recife, porque o senhor não é do povo? Me mostre. Eu preciso que o senhor interdite, faça uma pracinha pequena, tire aquela academia dali, bote em outro local ali na pracinha”, declarou.
Thomas Felipe Bandeira da Rocha, de 10 anos, morreu após levar um choque elétrico em praça na Zona Oeste do Recife
Acervo pessoal
Fabio Pereira da Rocha, pai do menino, também prestou depoimento. Ele disse que sofre de transtornos psiquiátricos e que, desde a morte do filho, a situação piorou.
“Tenho medo da minha reação. Sou um pai que perdeu um filho, e só Deus sabe como estou me sentindo, como é que eu ando na rua. Sou parado a todo tempo, as pessoas falando comigo, isso está mexendo comigo e eu estou sufocado. É muita coisa na minha mente. Alguém vai ter que se responsabilizar. O prefeito fez campanha, o nome do meu filho foi levado a debate”, afirmou, citando o debate da TV Globo em que candidatos à prefeito do Recife falaram sobre a morte de Thomas.
O g1 entrou em contato com a prefeitura do Recife para falar sobre as queixas dos pais de Thomas e aguarda resposta.
Testemunha
O comerciante Antônio Carlos da Cruz foi uma das pessoas que socorreram o menino. Ele contou que ouviu pessoas gritando e pulou para dentro da academia para socorrer Thomas, que estava caído, com uma pessoa fazendo primeiros socorros.
“Peguei, botei no meu braço, e fiz o socorro com dois amigos. Botei ela no meu carro, fiquei no banco de trás, e comecei a fazer os primeiros socorros no carro, pedindo a Deus que não levasse ele. Quando cheguei na UPA dos Torrões, coloquei ele na sala de emergência e os médicos de toda a UPA ficaram em cima dele, e foi aí que foi aquele desespero”, afirmou.
O comerciante também afirmou que a praça é um dos poucos locais de lazer do bairro, e que o filho dele também costuma brincar no local.
Foi uma situação difícil, que eu não desejo a pai nenhum, a mãe nenhuma, a nenhum ser humano presenciar uma criança de 10 anos daquele jeito. Aquela é a única praça que a gente tem para todas as crianças brincarem. Todas as crianças brincam, meu filho brinca lá toda noite. Inclusive, não vou deixar mais. Era amigo dele, também. Só tem aquela praça na comunidade, e as crianças da comunidade dependem daquela praça para brincar”, disse.
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