Comissão do Senado abre sessão que vai sabatinar Gabriel Galípolo, indicado a presidir o Banco Central


Galípolo já é diretor de Política Econômica do BC e, agora, foi indicado para presidir a instituição de 2025 a 2029. Nome tem que ser aprovado pela comissão e pelo plenário do Senado. Senado vota nesta terça indicação de Galípolo para a Presidência do BC
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado deu início na manhã desta terça-feira (8) à reunião que pode dar aval à indicação do economista Gabriel Galípolo ao cargo de presidente do Banco Central.
Ao longo desta manhã, o economista será sabatinado pelos membros do colegiado, que avaliam, por exemplo, a capacidade técnica e a isenção do indicado para assumir o posto (veja o rito mais abaixo).
Galípolo foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em agosto para assumir a cadeira de Roberto Campos Neto, que encerra o mandato em 31 de dezembro.
Gabriel Galípolo no Congresso, em 3 de setembro de 2024
Adriano Machado/Reuters
Segundo a legislação, o comandante do BC é escolhido pelo presidente da República, mas precisa ter o nome aprovado pelo Senado — primeiro pela CAE e, em seguida, pelo plenário principal da Casa.
Se for chancelado pelo Senado, Galípolo assumirá o posto em 1º de janeiro de 2025 e cumprirá um mandato de quatro anos.
O indicado de Lula é o atual diretor de Política Monetária do Banco Central. Entre 2022 e 2023, ele esteve nas equipes de campanha do então candidato ao Planalto, de transição de governo e do Ministério da Fazenda, chefiado por Fernando Haddad.
Galípolo substituirá, se aprovado pelos senadores, uma gestão duramente criticada por Lula à frente do BC, em grande parte pelos movimentos na condução da taxa básica de juros, a Selic.
Roberto Campos Neto, que foi escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2019, já foi classificado por Lula como um “adversário político”.
Senadores de diferentes partidos e o presidente da CAE avaliam que Gabriel Galípolo não deve enfrentar resistências tanto no colegiado quanto na votação em plenário. Para ser aprovado na CAE e no plenário, Galípolo precisará reunir maioria dos votos dos presentes à sessão.
Gabriel Galípolo é visto pelos senadores como alguém já conhecido. Em 2023, ele foi sabatinado pela CAE e aprovado pelo Senado para assumir a diretoria de Política Monetária do Banco Central. Na ocasião, o conjunto dos parlamentares aprovou o nome, também indicado por Lula, por 39 votos a 12.
Miriam Leitão: Mercado de olho em cada palavra de Galípolo
A sabatina
Pelo rito, o relator da indicação, senador Jaques Wagner (PT-BA), faz a leitura de seu parecer, indicando se o economista está apto ou não para o cargo.
Na sequência, Galípolo discursará por dez minutos, em uma breve apresentação aos senadores. Desde agosto, Gabriel Galípolo, que é o atual diretor de Política Monetária do BC, tem percorrido gabinetes de senadores e realizado o chamado “beija-mão” em busca de apoio.
Após a fala, terá início a sabatina. As regras internas do Senado estabelecem que os senadores poderão questionar o indicado de Lula por até dez minutos. Há expectativa de que temas como o patamar da taxa básica de juros, a Selic, e a gestão de Campos Neto à frente da autoridade monetária sejam explorados.
Galípolo poderá responder às perguntas pelo mesmo tempo. Há ainda possibilidade de réplica e tréplica.
Gabriel Galípolo (dir.) ao lado do relator da indicação no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) (esq.)
Kevin Lima/g1
Desafios
À época da indicação de Lula, o nome de Galípolo foi bem-recebido pelo mercado financeiro. Há, porém, um entendimento de que existem desafios à frente da autoridade monetária.
O Banco Central tem autonomia do governo. Apesar de os diretores e o presidente terem as indicações feitas pelo presidente da República, há mandatos, que não coincidem com o do chefe do Executivo.
O BC tem como missão a garantia da estabilidade do sistema financeiro, amenizando a variação dos preços e da taxa de desemprego.
À frente do BC, além de se provar um nome independente — ou seja, que não irá tomar decisões influenciado pelo poder Executivo —, Galíplo terá que trabalhar no combate à inflação sem deixar de lado os efeitos prejudiciais que a taxa básica de juros pode causar à economia.
A taxa Selic está, atualmente, em 10,75% ao ano, valor alto e que é usado como referência por bancos e instituições financeiras para, por exemplo, balizar a oferta de crédito.
⬆️ Quanto mais elevada a taxa, mais caro fica para pessoas e empresas tomarem crédito — o que diminui investimentos e o consumo das famílias. Em geral, esse ciclo se reflete na economia do país com uma atividade econômica mais fraca.
⬇️ Quanto mais baixa a taxa, mais a economia se aquece, em um momento que o mercado de trabalho já está bastante preenchido e a inflação encostou em 4,50% na janela de 12 meses, teto da meta que o BC deve perseguir.
Os desafios da condução de Galípolo à frente do BC vão, portanto, muito além do controle da Selic. As decisões se refletem em dados de desemprego, inflação, PIB, dólar e, principalmente, inflação.
Quem é Gabriel Galípolo
Gabriel Galípolo atuou na campanha de Lula à Presidência da República e na equipe de transição de governo. No ano passado, foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda, a função mais importante da pasta depois da do ministro.
Em julho, exerceu momentaneamente a Presidência do BC, nas férias de Roberto Campos Neto. É mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), onde também é professor.
É professor do MBA de PPPs e Concessões da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em parceria com a London School of Economics and Political Science.
Em 2007, o economista foi chefe da Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo. E, no ano seguinte, foi diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento do estado.
Quem é Gabriel Galípolo
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