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Serginho Aguiar conheceu Luiz Fernando Ribeiro do Carmo nas seleções de samba da escola. Ele leva cerca de 3 horas para se transformar no artista. Intérprete de Laíla em enredo da Beija-Flor é um dos compositores do samba
Sérgio Luiz da Costa Aguiar, o Serginho Aguiar, vive múltiplos papéis no desfile da Beija-Flor neste carnaval. De um lado, ele é um dos autores do samba que presta um tributo a Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, que foi diretor de carnaval da escola. Do outro, ele é o responsável por interpretar o próprio na Sapucaí durante o desfile.
“Eu coloco as guias, me maquio, boto a roupa e vou com o meu sentimento no coração de representar o meu amigo”, disse Sérgio ao g1.
Sérgio era amigo de Laíla e enfrenta um ritual de 3 horas cada vez que vive o diretor de carnaval.
A primeira vez que ele se vestiu como Laíla foi na seleção do samba-enredo, em uma performance da música da qual é um dos compositores. Emocionou e repetiu a apresentação na final. Com a vitória, recebeu o convite para interpretar o principal personagem do enredo.
Serginho assina a canção que a escola levará para a avenida com Romulo Massacesi, Junior Trindade, Ailson Picanço, Gladiador e Felipe Sena.
Conexão
Laíla e Serguinho Aguiar, que interpreta o diretor de carnaval na Sapucaí
Reprodução/ TV Globo
Interpretar Laíla não é simples. Exige uma preparação que leva 3 horas. Assim como o homenageado do enredo, Sérgio é adepto do candomblé.
Além do preparo com maquiagem artística e as roupas semelhantes às do diretor de carnaval, ele cumpre uma série de rituais nos quais ele pede permissão para viver o diretor de carnaval.
As guias que o compositor leva no pescoço são as originais, cedidas pela família de Laíla, somadas às dele, que também leva no peito.
“É emocionante quando coloca tudo assim, guias, maquiagem. É uma coisa que transcende. Eu não estou vestido de Batman. Eu sou uma pessoa que há pouco tempo desencarnou e que todos no mundo do samba conviveram com ele, de alguma forma”, refletiu Sérgio.
A caracterização o ajuda a diminuir as diferenças em relação ao homenageado: Laíla era mais baixo que Sérgio e mais velho.
Parte das guias que Sérgio leva no peito eram de Laíla
Cristina Boeckel/ g1
Amigos
Sérgio era amigo de Laíla. Os dois se conheceram por meio do carnaval, paixão em comum dos dois. No dia a dia, ele é policial militar. Como compositor já assinou com seus parceiros outros sambas que a azul e branca de Nilópolis levou para a Sapucaí: o que homenageou Roberto Carlos, com o qual a Beija-Flor ganhou o carnaval, e os que homenagearam Brasília e São Luís.
“O Laíla, eu frequentava a casa dele, ele frequentava a minha casa, como de outros amigos também, de comer uma peixada e deitar no chão. Extremamente simples. Todo mundo tem vaidade. Mas a simplicidade dele que gerava esse encantamento”.
Griô
Laíla durante desfile da Beija-Flor de Nilópolis
Reprodução/ TV Globo
O samba-enredo da Beija-Flor chama Laíla de griô, termo usado na cultura africana para definir os responsáveis pela transmissão das histórias de geração em geração. Sérgio, um dos autores, destaca o papel de Laíla como vetor do conhecimento da escola.
“Ele era um grande orientador. Sempre, em algum momento, ele te passava algum tipo de ensinamento. Isso na observância. Tinha que ficar ao lado dele, vendo as coisas acontecerem e ir aprendendo. Ele não era aquele do: ‘fica comigo que vou te ensinar’. Ele era aquele cara do ‘observa que você vai aprender’”, contou Sérgio.
O diretor de carnaval Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, conhecido como Laíla, trabalhou com o carnaval por mais de 50 anos. Teve passagens pela Beija-Flor, Salgueiro, Vila Isabel, União da Ilha e Unidos da Tijuca.
Na Azul e Branca de Nilópolis, ele ficou por quase 3 décadas, em 3 passagens diferentes.
Ele começou no Salgueiro na década de 1970, mais ou menos na mesma época em que despontavam por lá Joãosinho Trinta, Rosa Magalhães, Maria Augusta, Lícia Lacerda e Arlindo Rodrigues.
Laíla era conhecido pela disciplina que comandava a harmonia das escolas por onde passou. Ele morreu de Covid em 2021.
“O Laíla sempre teve com os mais novos uma postura de pai e orientador. Você nunca ia ler nada escrito pelo Laíla. Ele era um cara antigo, de oralidade”, finalizou.
Serginho Aguiar com a bandeira da Beija-Flor
Reprodução/ TV Globo
O compositor Serginho Aguiar é o responsável por interpretar Laíla na Sapucaí
Ana Luísa Marques/ g1