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O flagrante feito pelo biólogo Arthur Moreira revela comportamento pouco conhecido da espécie, que, apesar da fama de terrestre, é uma excelente nadadora Preguiça-de-coleira é registrada tomando banho de mar em praia no Espírito Santo
O que você faria se, ao andar pela praia, encontrasse uma preguiça a caminho do mar? Foi exatamente essa cena que o biólogo Arthur Thomazi Moreira testemunhou e registrou na praia do Rio Piraquê-Açu, em Aracruz (ES). O vídeo viralizou, despertando curiosidade e até preocupação entre internautas.
O biólogo voltava para casa, no dia 31 de janeiro, por volta das duas da tarde, quando avistou a preguiça já na areia, indo em direção a água. Segundo ele, esse comportamento já foi observado anteriormente na região.
“Não é o primeiro relato de pessoas que já viram a preguiça atravessando esse mesmo local, indo se molhar e depois voltando. Então, quando eu olhei, tinha certeza que ela ia tomar banho de mar”, relatou Arthur.
Mesmo com moradores querendo intervir e devolver a preguiça à mata, o biólogo explicou que o comportamento era natural e que o animal apenas buscava se refrescar em um dia de calor intenso. Na sequência, a preguiça seguiu para a rodovia, onde daí sim o biólogo resolver agir para evitar um acidente.
“Ela subiu na rodovia, aí eu peguei ela, atravessei, para facilitar, e a soltei no fragmento de onde ela veio”, diz o biólogo da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi.
Biólogo ajudou preguiça a atravessar rodovia para evitar acidente
Acervo Arthur Thomazi Moreira
O vídeo compartilhado por Arthur rapidamente viralizou, ultrapassando de longe o alcance habitual de suas postagens no Instagram. A peculiaridade da cena despertou a curiosidade de internautas e foi amplamente divulgada por páginas especializadas em meio ambiente.
Ao contrário do que muitos imaginam, a preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus) é, na verdade, uma nadadora nata, segundo Flávia Miranda, pesquisadora especialista na ordem Xenarthra – tamanduás, tatus e preguiças -e coordenadora do Instituto Tamanduá.
“Não é incomum encontrar a espécie na praia. Preguiças são ótimas nadadoras, todas as espécies de preguiça nadam muito bem, as Choloepus atravessam rios enormes, as Bradypus também. Nós tínhamos até preguiças marinhas na antiguidade”, explica Flávia.
O deslocamento pela água pode ser uma estratégia natural da espécie para alcançar novas áreas ou atravessar trechos de vegetação fragmentada.
A preguiça-de-coleira é endêmica da Mata Atlântica.
Toni Mendes/TG
“Ela vive ali na Mata Atlântica, nesse ambiente costeiro mesmo, e atravessa de uma área para outra pela água. Elas nadam muito bem. A gente vê isso mais em rios amazônicos do que no mar, mas pode acontecer, sim”, diz.
Por fim, sobre como agir em situações semelhantes, a pesquisadora recomenda cautela e respeito ao comportamento natural do animal.
“Acho, sim, que tem que intervir, mas sempre observando para onde o animal quer ir. Muitas vezes, a preguiça está atravessando uma rodovia e, em vez de ajudá-la a cruzar, as pessoas a colocam no mesmo lado de onde ela veio. Ela vai tentar atravessar de novo. Então, é interessante ver para onde o animal está indo e ajudá-lo a chegar ao seu objetivo”, conclui a especialista.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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