20 anos de Orkut | Rede social ensinou a uma geração o que é internet

20 anos de Orkut | Rede social ensinou a uma geração o que é internetAndré Lourenti Magalhães

O Orkut foi oficialmente lançado no dia 24 de janeiro de 2004, pelo engenheiro turco e funcionário do Google Orkut Büyükkökten. Hoje, exatos 20 anos depois, a rede não existe mais e só restam alguns prints que mostravam o sucesso daquilo que foi uma das primeiras ondas de popularidade na internet brasileira.

Antes dos aplicativos para celulares, feeds infinitos, algoritmos personalizados e vídeos curtos, a rede social que dominava por aqui era o Orkut. Alguns aspectos da plataforma foram incorporados por outras redes mais novas, mas o principal legado foi a nova forma de usar a internet por quem passou por lá.

Como tudo começou

Lá em 2004, a rede surgiu como uma plataforma para conectar profissionais, parecida com o LinkedIn (lançado um ano antes). No entanto, não levou muito tempo para que as pessoas começassem a perceber o potencial social do Orkut e usá-lo para outros propósitos, principalmente no Brasil.

– Siga o Canaltech no Twitter e seja o primeiro a saber tudo o que acontece no mundo da tecnologia. –

Vale a pena entender o contexto da internet brasileira naquele momento: a quantidade de domicílios com conexão banda larga começava a aumentar entre 2004 e 2005, ainda com uso restrito aos computadores pessoais. Essa nova leva de usuários ainda tinha poucas opções para socializar com pessoas, normalmente recorrendo à troca de e-mails e mensageiros, como ICQ e MSN Messenger, mas isso representava uma comunicação direta com outro internauta.

Não dá para saber ao certo como ele chegou por aqui, mas é fato que o Orkut quebrou muitas dessas barreiras. Lá era possível participar de comunidades com os assuntos do interesse de cada um, personalizar o perfil, compartilhar fotos e outras memórias, entrar em contato com pessoas distantes, e por aí vai — tudo isso no mesmo lugar.

Você não precisava saber o endereço de e-mail de alguém para entrar em contato, bastava stalkear pela pessoa na busca ou na lista de amigos de outra pessoa (o termo “stalkear”, inclusive, ainda nem era popular por aqui) ou iniciar uma conversa na cara dura a partir do mural de recados — os famigerados scraps.

Não havia um feed que mostrava posts e as interações eram feitas pelas comunidades ou diretamente com cada perfil, ou seja, ninguém era inunundado por atualizações em uma timeline.

Além de ser um elemento novo na internet, o Orkut chamava a atenção pela exclusividade: por muito tempo, a rede só permitia que novas pessoas criassem contas se recebessem um convite de quem já estava lá, e isso não era tarefa fácil. Conforme mais pessoas entravam na rede e conheciam as maravilhas do espaço, mais queriam entrar, e isso ajudou na explosão da plataforma no país.

As comunidades trouxeram um novo jeito de usar a internet: era possível participar de qualquer grupo que fosse do interesse da pessoa, desde o time do coração até o sentimento compartilhado de não querer acordar cedo. Novas formas de relacionamento surgiram, as amizades virtuais ganharam força e ajudaram a convergir pessoas distantes, unidas pelos interesses em comum. Até mesmo a pirataria popularizou-se por lá, com comunidades para download de discos que chegavam a ter mais de 900 mil participantes.

Além disso, o Orkut permitia fazer muita coisa num só lugar, como interagir nas comunidades, fazer depoimentos elogiando amigos, jogar, flertar, reencontrar familiares e colegas de escola e postar as fotos de uma viagem (ainda que inicialmente de forma limitada, já que por muito tempo era possível publicar apenas 12 fotos no seu perfil).

Numa época em que os sites eram muito segmentados e voltados para funções específicas, a rede era o sinônimo de polivalência na internet.

No coração dos brasileiros

Mesmo com a limitação dos convites, os brasileiros dominaram o Orkut, que ganhou uma versão em português um ano depois do lançamento. O sucesso por aqui foi tão grande que o Google decidiu transferir o escritório responsável pelo Orkut para Belo Horizonte (MG) em 2008.

Curiosamente, o Orkut não engrenou em mercados como EUA e Europa e concentrou a maior base de usuários em Brasil, China e Índia. Estima-se que a rede tinha 66 milhões de usuários em 2014, quando encerrou suas atividades, e mais da metade eram brasileiros — cerca de 34 milhões de contas.

O fim e o legado

A popularização de novas redes sociais, como Facebook e Instagram, fez com que o Orkut perdesse forças. Os concorrentes faziam mais sucesso em outros mercados, ofereciam uma experiência mais controlada para evitar contas fakes e ainda tinham uma estrutura para a publicação de anúncios, o que trouxe muitas empresas e figuras públicas ao cenário.

A virada para a década de 2010 foi um grande golpe para a rede, que via o Facebook incorporar vários recursos de lá e conquistar a audiência. Sem fôlego, a rede encerrou oficialmente as operações em 30 de setembro de 2014, mas ainda é possível encontrar os registros de algumas comunidades no Web Archive.

Mesmo com um auge relativamente curto, o Orkut ainda é símbolo de nostalgia e do reflexo de como era usar a internet entre na primeira década do novo milênio. Foi superado porque opções melhores surgiram e não conseguiu acompanhá-las, mas ainda é um marco para uma população tão ativa em redes sociais como é a brasileira. Se fosse possível ver uma ruína da internet antiga, ela provavelmente teria a forma de uma comunidade ou de um scrap.

Muitos elementos de lá foram mantidos na rede de Mark Zuckerberg, como a possibilidade de inserir depoimento no perfil de um amigo, algo “copiado” pelo LinkedIn, e criar um avatar 3D (Buddy Poke), algo que se tornou febre nos últimos anos com avatares da Meta e Bitmojis do Snapchat. No caso das comunidades, talvez o melhor substituto seja o Reddit, que concentra os mais diversos nichos num só lugar.

Bateu a saudade? Você pode conferir alguns prints de como o Orkut funcionava e ver uma lista de recursos que existiam lá e foram adotados por outras redes.

Leia a matéria no Canaltech.

Trending no Canaltech:

Adicionar aos favoritos o Link permanente.