FOTOS: Nível de poluição do ar piora e fica ‘perigoso’ em Rio Branco


De acordo com a plataforma suíça IQAir, segunda-feira (16), capital acreana tinha concentração de partículas de 65 μg/m³, já na manhã desta sexta-feira (20), chegou a 480 μg/m³. Situação atual está mais de 30 vezes acima do tolerável pela OMS. Nível de poluição do ar piora ao longo da semana e chega a ‘perigosa’ em Rio Branco nesta sexta-feira (20)
Eladio Neto/Arquivo pessoal
😷 A poluição do ar piorou ao longo da semana e se apresenta como “perigosa” na manhã desta sexta-feira (20) em Rio Branco. De acordo com a plataforma suíça IQAir, que utiliza sensores instalados em diversas localidades do planeta, a capital acreana tinha a concentração de partículas de 480 μg/m³ (microgramas por metro cúbico).
O número se iguala à medição do software Purple Air, que apresentou às 9h a concentração de partículas de 480 μg/m³ (microgramas por metro cúbico). A apuração chega a ser 32 vezes acima do considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 15 μg/m³.
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Segundo a IQAir, na segunda-feira (16), o ar foi avaliado como insalubre e apresentou a concentração de partículas de 65 μg/m³ (microgramas por metro cúbico). Por ter apresentado uma melhora, as escolas municipais, que atendem cerca de 22 mil alunos, voltaram às aulas.

Na terça-feira (17), a concentração de material particulado ainda era considerada muito insalubre, e estava em 234 μg/m³, número 15 vezes acima do índice apontado pela OMS, mas menor que o registrado nesta sexta.
Já na quarta (18), o nível de poluição aumentou ainda mais, apresentando 247 μg/m³ de partículas. Na quinta-feira (19), a capital acreana tinha concentração de partículas de 310 μg/m³, às 9h, sendo 20 vezes acima do considerado aceitável.
🚨 Rio Branco amanheceu ainda pior nesta sexta (20), apresentando 369 μg/m³, estando 32 vezes acima do aceitável. Os sensores apontam, inclusive, que o Índice de qualidade do ar (IQA) chegou a 1.045 IQA às 7h , sendo este o recorde desde o dia 6 de setembro, quando alcançou 922 μg/m³.
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Desde o dia 2 de setembro, o estado está encoberto por uma densa camada de fumaça causada pelas queimadas que têm ocorrido não apenas no Acre, mas também nos estados vizinhos, Amazonas e Rondônia, e nos países vizinhos, Peru e Bolívia, e se estabeleceu como uma das mais poluídas do país.
⚠️ A classificação da IQ Air, plataforma que monitora a qualidade do ar, varia entre “Bom”, “Moderado”, “Insalubre para grupos sensíveis”, “Insalubre”, “Muito insalubre” e “Perigoso”. Desde o início do mês, o Acre tem vivenciado principalmente as três últimas.
O mototaxista precisa trabalhar em meio a fumaça que cobre Rio Branco
Júnior Andrade/Rede Amazônica
A população acreana é a que mais sofre, como observa o mototaxista Michel Tamborini que, apesar da fumaça, precisa enfrentar para trabalhar.
“Infelizmente a gente tá passando por uma situação muito delicada, porque a gente tem que estar na rua. Às vezes tem uns amigos que podem se cuidar, outros infelizmente não podem, porque não tem máscara pra todo mundo, né? E assim, eu creio que cada dia que passa, se o ser humano não tomar consciência da situação, as coisas só tendem a piorar, cada vez mais”, lamenta ele.
O trabalhador ainda cita os cuidados que está tendo em casa. “Em casa, assim, quem também pode ter um ar condicionado pra filtrar um pouco melhor o clima dentro de casa, seria o ideal, mas infelizmente muita gente não pode, né? Aí hoje a gente está se cuidando da forma que pode, as coisas estão difíceis, cada dia que passa fica mais difícil”, diz Tamborini.
Levantamento aponta que incêndios já atingiram mais de 100 mil hectares no Acre
Quais as causas de tanta fumaça?
Segundo a pesquisadora, professora da Universidade Federal do Acre (Ufac) em Cruzeiro do Sul e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Sonaira Silva, a principal origem da fumaça que encobre boa parte dos municípios acreanos vem do preparo de pastagens. A especialista, que tem diversas pesquisas relacionadas a queimadas, porém, os incêndios florestais também estão contribuindo para que 2024 tenha um cenário intensificado de queimadas.
Conforme o monitoramento via satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Acre já registrou 2.688 focos de queimadas no mês de setembro. O número corresponde a 87% do acumulado do mês inteiro no ano passado.
Para a professora, este ano pode ser o pior nos índices de incêndios. De acordo com estudos atuais, Sonaira afirma que já foram destruídos mais de 100 mil hectares de vegetação este ano até o início de setembro.
“A gente teve vários momentos de seca extrema, de picos de queimada muito altos, como desde 87, 1998, 2005, 2010. Mas, geralmente, eles eram concentrados no leste, oeste, ou ali na parte central [do estado]. Então, não ocorriam de forma intensa em todo o Acre. O que a gente está vendo em 2024, pode ser um dos piores, ou até o pior ano. Está com um nível de queimada muito forte no estado inteiro, inclusive com incêndios florestais. Se a gente pensar num fogo de pastagem ou de desmatamento, o principal município é Feijó e Tarauacá, Cruzeiro do Sul. Mas, se a gente pensar no incêndio florestal, o fogo que está entrando na floresta, a gente tem municípios do Juruá e do Vale do Acre”, ressalta.
Os municípios que formam o Vale do Rio Juruá registraram, em um curto período de tempo, um número elevado de queimadas e que chegaram a grandes proporções.
Em menos de 10 dias, dois incêndios atingiram trechos do Parque Nacional da Serra do Divisor, em Mâncio Lima, no início de setembro, com mais de 100 hectares de floresta destruídos. No mesmo período, um outro incêndio atingiu uma área de mata na Vila Petencostes, em Cruzeiro do Sul, destruiu pelo menos 15 hectares de vegetação.
“Quando o fogo entra na floresta, a gente tem um prejuízo não só pra biodiversidade e ecologia dessa floresta. A gente fez um inventário em algumas dessas florestas e percebemos que elas não se recuperam mesmo depois de 20 anos. A gente estima que, dependendo do tipo de floresta, o impacto em espécies que a gente usa para construção, dos tipos madeireiros, ou então até as madeireiras, espécies que dão açaí e buriti, artesanato ou medicina, essa quantidade que a gente usa no dia a dia amazônico, pode reduzir de 20 a 100% dependendo do tipo de floresta. As florestas ali da Vila Pentecostes, que é um tipo muito sensível de floresta, endêmica, só existem nessas regiões isoladas, elas não são resistentes ao fogo. A gente estima que ali elas podem ter uma mortalidade de até 50% dessas árvores”, alerta Sonaira.
Incêndio atinge 110 hectares de vegetação na Serra do Divisor, no interior do Acre
Possível solução
Professora Sonaira Silva ressalta a necessidade de discutir o chamado ‘calendário do fogo”
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Uma possibilidade apontada pela professora para amenizar o número alarmante de queimadas no estado e, consequentemente, a nuvem de fumaça que encobre as cidades, é discutir o chamado “calendário do fogo”, período em que os órgãos de fiscalização ambiental concedem autorizações para a queimada no campo. As autorizações para uso controlado do fogo estão suspensas desde 25 de julho por portaria do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac).
O uso do fogo, segundo a pesquisadora, vai continuar sendo constante, porque muitas vezes os produtores rurais não têm acesso a novas tecnologias e precisam utilizar as queimadas como ferramenta de limpeza para renovação de lavoura, por exemplo.
Com isso, de acordo com a especialista, é preciso levar em conta possíveis períodos de seca extrema, que podem contribuir para a propagação descontrolada dos incêndios.
“O fogo ainda é utilizado com uma ferramenta agrícola muito importante, muito usual, não só no Acre mas na Amazônia inteira, para reforma de pastagens, limpeza do desmatamento para fazer roçados. Mas o manejo de pastagem ainda é o que utiliza mais e o que está causando mais fumaça e áreas queimadas. A principal proposta que a gente tem, é que precisa mudar o calendário de fogo, principalmente nesses períodos de seca mais forte. Talvez a gente não vai conseguir eliminar o fogo, porque muitos produtores não conseguem acesso a novas tecnologias, e ainda vã precisar usar o fogo. Mas, que a gente mude esse calendário”, acrescenta.
Colaborou os repórteres Júnior Andrade e Mazinho Rogério, da Rede Amazônica Acre.
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