De Tancredo a Pablo Marçal (por Ricardo Guedes)

Ó gente! “O que foi que aconteceu, com a música popular brasileira?”, na pergunta de Rita Lee. “Chose de loque”, como se diz na gíria.

Vamos e convenhamos. Para um país que já teve Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, como outros tantos como Ulisses Guimarães e Mário Covas, ter um Pablo Marçal disputando a Prefeitura de São Paulo, e aterrorizando os cidadãos da cidade, é algo de estarrecer.

Há uma deterioração na qualidade dos políticos a nível mundial. Anteriormente, tivemos um Franklin Roosevelt, na formulação de um paradigma e formatação de uma nação; de um Winston Churchill, na unidade da Inglaterra e derrota ao Nazismo; de um Charles De Gaulle, no emergir de uma nova França. Hoje, na política mundial, temos Trump, Orban, Bolsonaro e Milei, simbolizados, neste momento, na figura expoente de Pablo Marçal.

Os motivos do Fascismo são bem conhecidos, nos trabalhos de Hannah Arendt, De Felice e George Mosse. Em sociedades onde a classe média declina, com a diminuição da representatividade das lideranças tradicionais, surgem os salvadores da pátria, que grassam sobre a ignorância, no extremismo do poder pelo poder. Por que Pablo Marçal e Bolsonaro não se entendem? Porque o Fascismo não tem ideologia, não é um grupo, é o personalismo pelo poder. Assim, quem sobe, ou quem está na iminência de subir, elimina os seus opositores, e mesmo os supostos amigos, porque o que importa não é poder de um grupo, mas quem manda e do que a usufruir, sobre a imbecilidade reinante. Hoje, a baixaria impera nos debates eleitorais no país, como nunca se viu antes. O fake é a norma. O episódio protagonizado por Datena e Marçal é um dos mais lamentáveis da história dos debates políticos da TV brasileira, o escárnio dos troféus.

Mas a sociedade Paulista pode se acalmar. Dificilmente Pablo Marçal se elegerá. As pesquisas eleitorais, de uma maneira geral, devem ser analisadas segundo quatro indicadores: o voto espontâneo, o voto estimulado, a rejeição individual, e a aprovação do governante, se concorrendo. Hoje, no voto estimulado, Nunes, Boulos e Marçal estão basicamente empatados, com o voto espontâneo ainda muito distante do estimulado, o que significa pouca definição. Entretanto, Boulos, percebido como extrema esquerda, e Marçal, visto como extrema direita, apresentam rejeições acima de 40%, o que inviabiliza o candidato em 2º turno, já que do total do eleitorado 20% vão para abstenção, brancos e nulos, e dos 80% de votos válidos restantes, quem tem rejeição acima de 40% não passa pelo 2º turno. Datena e Tabata, no momento, pouco ameaçam. No caso de São Paulo, sobra a análise da aprovação da administração de Nunes, hoje por volta dos 35%. Quando o incumbente tem aprovação acima dos 55%, sua reeleição é líquida. Entre 40% e 50%, concorre nas eleições. Abaixo de 40%, dificilmente se reelege. Mas se os oponentes não são representativos do eleitorado em geral, e com alta rejeição, como é o caso, permanece a “lei da inércia”, na falta de uma escolha melhor. Essa é a tendência. Entretanto, os tempos de hoje são de muita incerteza, propício a surpresas, onde em ambientes politicamente instáveis sempre pode surgir o imprevisível, característico dos movimentos de última hora, que aumentam a disparidade entre o medido nas pesquisas e o ocorrido nas eleições, as vezes com desfechos inimagináveis.

Mas São Paulo “não pode parar”, e o Paulista, em princípio, não quer arriscar. São Paulo é a nossa megalópole, complexamente constituída, que, no geral, tende a aparar os extremismos mais ufanos.

A ver.

Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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