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A premiada cineasta e produtora catarinense Cíntia Domit Bittar não tem dúvidas do potencial do filme “Ainda Estou Aqui” no Oscar 2025. Impressão que vem desde antes do lançamento e posterior sucesso entre o público e a crítica. Cíntia é membro da Academia Brasileira de Cinema e integrou a comissão especial responsável por analisar os filmes pretendentes a representar o Brasil na indicação ao Oscar.
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Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui – Foto: Ainda Estou Aqui/Reprodução/ND
“Ainda Estou Aqui” foi escolhido de forma unânime pelo colegiado, e a catarinense não só reafirma o seu voto como até arrisca um palpite para domingo: duas estatuetas entre as três indicações.
Ao Grupo ND, ela conta sobre a escolha dos filmes e fala das suas expectativas.
Como acontece a escolha de um filme candidato ao Oscar?
O processo para escolha do filme brasileiro (para a disputa por uma indicação ao Oscar) se dá dentro da Academia Brasileira de Cinema. Temos uma comissão específica para o Oscar para receber os filmes inscritos que pleiteavam essa vaga para representar o Brasil. Coube a nós receber esses filmes, assisti-los e avaliá-los. No primeiro encontro da comissão, para fazer a “shortlist”, ficaram seis filmes e, depois, a reunião final, que escolheu “Ainda Estou Aqui” e foi unânime.
No caso do Oscar, isso requer outras condições para competir, não é?
Eu defendi que o filme teria fôlego para chegar à indicação ao Oscar e fazer a sua campanha. A gente sabe como é necessário tempo, investimentos e presença para chegar lá. A gente está falando de um filme que tinha condições para isso, distribuição pela Sony Pictures, volume de recursos, e o nome de Walter Salles envolvido. Tem a Fernanda Torres também, uma artista muito querida por nós e pelo cinema brasileiro, e isso é muito importante, porque viemos aí de anos de dificuldades para o audiovisual brasileiro.
O filme suscitou muitos debates, mas a impressão geral que fica é muito mais positiva do que controversa.
Essa campanha resgatou esse amor ao cinema brasileiro, fazendo o nosso povo ter orgulho do seu cinema, orgulho de si e da participação no Oscar.
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Cineasta Cíntia Domit Bittar é componente da Academia Brasileira de Cinema – Foto: Kamila Novaes/Divulgação/ND
O filme fala da ditadura militar instaurada em 1964, tema sensível ao país.
A questão do tema do filme é algo que me agrada. Temos poucos filmes sobre a ditadura militar no Brasil e sobre os golpes. São momentos que impactam muito no destino de um país e é muito interessante ver, hoje, “Ainda Estou Aqui” com toda essa repercussão interna e externa falando sobre as consequências de um golpe de Estado.
Em qual categoria você aposta que virá um Oscar?
A minha expectativa em relação ao Oscar é muito realista. Eu acho que vamos voltar com duas estatuetas. Acho que as nossas melhores chances são nas categorias Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. A indicação para Melhor Filme também é muito valiosa, é inédita. Acredito ser possível voltarmos com duas estatuetas e eu espero que isso aconteça. Temos que aproveitar essa boa onda do cinema brasileiro.
Brasil vive expectativa para o Oscar 2025
Com o drama “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, o Brasil renova as esperanças de conquistar um Oscar, premiação cobiçada há exatos 80 anos. O filme inspirado na obra homônima de Marcelo Rubens Paiva chega à premiação deste ano disputando as categorias de Melhor Filme Internacional/Estrangeiro, Melhor Filme e Melhor Atriz, para Fernanda Torres. Se será dessa vez, só vamos saber na cerimônia da premiação, neste domingo, às 21h, direto de Los Angeles (EUA).
“Ainda Estou Aqui” chega ao Oscar firme na disputa com chances, mas em todas as três categorias os páreos são duríssimos.
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Cineasta Cíntia Domit Bittar acredita em vitória do Brasil na categoria Melhor Filme Estrangeiro – Foto: Daniel Becker/Divulgação ND
Na categoria de Melhor Atriz, ao lado de Fernanda estão atrizes que protagonizaram grandes papéis como Demi Moore (por “A Substância”) e Karla Sofia Gascón, (por “Emilia Pérez”), que, apesar das polêmicas da protagonista, “Emília Perez” chega com chances de tirar as estatuetas do Brasil.
A história por trás do filme
O longa retrata a dolorosa jornada de Eunice Paiva durante a ditadura militar. Eunice é mãe do escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro “Ainda Estou Aqui”. A trama, ambientada nos anos 1970, destaca a luta de Eunice para descobrir o paradeiro do marido, o ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido após ser preso pelo regime em 1971.
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Fernanda Torres concorre na categorias de melhor atriz, quanto o filme ‘Ainda Estou Aqui’ concorre a melhor filme em língua estrangeira – Foto: Reprodução/ND
A narrativa aborda a transformação da matriarca de uma dona de casa para uma ativista dos direitos humanos, enquanto cria seus cinco filhos e busca justiça. Foi graças à sua atuação que a partir dos anos 1980 o Estado brasileiro passou a reconhecer os direitos dos familiares dos desaparecidos políticos e a responsabilidade sobre os casos de assassinatos, desaparecimentos e perseguições promovidos entre 1964 e 1985.