A única vacina contra o vírus Marçal é deixá-lo de fora dos debates

Uma regra eleitoral estabelece que as emissoras de rádio e de televisão são obrigadas a convidar para debates só os candidatos filiados a partidos com representação mínima no Congresso. Quer dizer: o partido deve ter ali, no mínimo, cinco parlamentares.

O partido Novo, por exemplo, não tem. Por isso, o senador Eduardo Girão, candidato a prefeito de Fortaleza, foi retirado do debate promovido pela TV Otimista. Girão chegou a participar do primeiro bloco do programa. A Justiça Eleitoral ordenou sua saída.

Girão saiu dizendo que foi censurado:

“Quem é que tem medo do que a gente vai falar? Eu fico surpreso com isso no meio do debate. É um desrespeito com as pessoas que estão assistindo.”

O PRTB, partido de Pablo Marçal, não tem representantes no Congresso, e no último dia 14, a Justiça de São Paulo mandou despejá-lo de sua sede na Zona Sul da capital por dívida com aluguel. Por que Marçal, ainda assim, participa de debates?

Porque as emissoras o convidam a pretexto de oferecer espaço a diversas vozes. São 10 os candidatos a prefeito. Quatro deles sem voz nos debates até aqui: Altino Prazeres (PSTU), Bebeto Haddad (DC), João Pimenta (PCO) e Ricardo Senese (UP).

A razão que pesa a favor de Marçal é que ele dá Ibope, como se dizia no passado. Sem suas mentiras, provocações, desaforos, ataques de baixo nível aos adversários, a audiência seria definitivamente menor. O eleitor nega, mas baixaria o atrai.

Se Marçal dá mau exemplo, paciência. Se ele reforça a impressão de que a política é assim mesmo, e de que os políticos não prestam, paciência. Se ele dissemina as notícias falsas que o bom jornalismo condena, paciência. Se a democracia perde com isso, paciência.

Debate migrou da órbita do jornalismo para a do entretenimento. Interesse público virou interesse do público. Se antes os jornalistas tapavam os ouvidos aos que os liam, viam e escutavam, hoje se rendem aos instintos mais primitivos da plateia.

No que tudo isso vai dar, não sei. Mas pelo andar da carruagem, imagino que não dará em coisa boa.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.