2GO Bank e InvBank: o que fazem as fintechs acusadas pela PF de lavar dinheiro para o PCC


Nenhuma das empresas consta na relação de empresas reguladas ou supervisionadas pelo Banco Central (BC). Policial Civil de SP é preso em operação contra fintechs ligadas ao PCC
Uma ação deflagrada nesta terça-feira (25) pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público e a Polícia Federal apura como a facção criminosa PCC lavava dinheiro por meio de duas fintechs.
A 2GO Bank é uma fintech que diz oferecer “soluções financeiras e digitais para pessoas, empresas e clubes de futebol, com o objetivo de facilitar o dia a dia das operações”.
O policial civil Cyllas Elia Junior, que também se apresenta como o CEO da 2GO Bank, foi preso nesta manhã.
A segunda empresa investigada é o InvBank, que dispõe de serviços financeiros comuns, como pagamentos, transferências e empréstimos.
Nenhuma das empresas consta na relação de empresas reguladas ou supervisionadas pelo Banco Central (BC). Procuradas pelo g1, elas não responderam aos contatos.
Entenda abaixo o que fazem as fintechs, e qual a suposta relação com a lavagem de dinheiro.
Cyllas Elia Junior
Reprodução/Redes sociais
2GO Bank
A 2GO Bank afirma em sua página na internet que foi criada em 2015, com foco na automação das contas bancárias para atender “todas as necessidades dos clientes”.
Em outras palavras, a empresa utiliza tecnologia para reduzir ou eliminar a necessidade de trabalho humano em tarefas financeiras.
Para pessoas físicas, a fintech oferece conta digital, disponibiliza empréstimos e afirma ter a infraestrutura necessária para investimentos em criptomoedas;
Para empresas e clubes, a fintech oferece serviços de pagamentos e cobranças, operações de câmbio, transações na blockchain (um tipo de registro geral de transações online e descentralizado), além de uma tecnologia que permite ao contratante usar todos os serviços oferecidos com um layout próprio para sua empresa.
A empresa também mantinha uma participação ativa nas redes sociais, com postagens frequentes no LinkedIn e no Instagram sobre seus serviços e novidades. No entanto, desde agosto do ano passado, não há mais publicações, e os comentários no Instagram foram fechados.
Consumidores relatam problemas com a fintech em sites de reclamações na internet. Muitos dos clientes pessoa física são torcedores que chegaram à instituição por meio dos times que torcem.
Os problemas relatados incluem dificuldades para concluir cadastros de contas ou realizar movimentações financeiras. Alguns usuários afirmam que tiveram o limite de transações bloqueado sem terem feito nenhuma movimentação.
Empreendedores também estão entre os reclamantes, afirmando que não conseguem receber os valores das vendas que realizam.
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InvBank
O InvBank foi fundado em 2013 e tem André Luiz da Silva como sócio-diretor, conforme seu perfil no LinkedIn.
A instituição é bastante ativa nas redes sociais e continua compartilhando conteúdos no Instagram, mesmo após a notícia da investigação.
O InvBank afirma que utiliza aplicativos móveis para realizar negócios, comercializando produtos e serviços próprios e de parceiros.
Para pessoas físicas, a empresa oferece serviços como consulta de saldo e extratos, pagamento de contas e boletos, envio e recebimento de valores via TED ou PIX, e transferências para outras contas digitais.
Para empreendedores, o InvBank disponibiliza máquinas de cartão que permitem vendas parceladas em até 12 vezes, aceitando as principais bandeiras. O banco promete o recebimento no dia seguinte para vendas no débito.
Apesar da presença nas redes sociais, o g1 não encontrou registros de reclamações sobre o InvBank em sites especializados.
Material apreendido na operação do Gaeco e da PF contra fintechs 2Go Bank e InvBank
Reprodução
Como as fintechs foram usadas para lavagem de dinheiro do PCC
As fintechs trazem inovações ao mercado financeiro por meio do uso intensivo de tecnologia, como o envio de pagamentos para o exterior. No Brasil, existem várias categorias de fintechs: crédito, pagamento, gestão financeira, empréstimo, investimento, financiamento e câmbio, entre outras.
No entanto, segundo os investigadores, a regulamentação atual possui brechas que permitem que as operações dessas empresas não sejam detectadas pelo Banco Central.
As duas fintechs alvo da operação desta terça-feira movimentaram cifras bilionárias, segundo a Polícia Federal. Os valores chegam a aproximadamente R$ 30 milhões.
Em 2022, o 2GO Bank organizou um evento em São Paulo sobre segurança bancária na internet, com a participação de várias autoridades, incluindo o delegado-geral da Polícia Civil de SP, Artur Dian, o promotor de Justiça Richard Encinas, do Cyber Gaeco, e o ex-chefe da Divisão de Crimes Cibernéticos do Deic Carlos Afonso.
Investigações conduzidas por promotores e analistas do Gaeco, em conjunto com a Polícia Federal, apuram “um complexo esquema ilícito, engendrado por intermédio do emprego indevido de empresas de tecnologia financeira”.
As duas empresas são suspeitas de receber valores em espécie e depois movimentá-los e alocá-los, dando uma falsa aparência de licitude para beneficiar o PCC.
Os investigadores afirmam que essas fintechs direcionavam os depósitos recebidos para contas de “laranjas”, mantendo pleno controle dessas contas.
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