
Muitos investidores dedicam grande parte do tempo tentando encontrar os melhores produtos financeiros, seja o fundo de investimento com maior retorno, a ação mais promissora ou o título mais rentável. No entanto, uma série de estudos acadêmicos aponta que a principal responsável pelos retornos de uma carteira de investimentos ao longo do tempo não é a escolha de produtos específicos, mas sim a estratégia de alocação de ativos, também conhecida como asset allocation.
Um estudo clássico dos americanos Gary P. Brinson, Randolph Hood e Gilbert L. Beebower, publicado em 1986 na Financial Analysts Journal, analisou o desempenho de 91 fundos de pensão entre 1974 e 1983. A pesquisa concluiu que 93,6% da variação dos retornos das carteiras estavam diretamente ligados à alocação de ativos, e não à seleção de ativos individuais ou ao market timing (tentar prever os melhores momentos para entrar ou sair do mercado). Essa descoberta mudou a forma como os investidores encaram a gestão de portfólios e reforçou a importância da diversificação e do planejamento estratégico.
Em 1991, Brinson, Singer e Beebower revisaram o estudo e encontraram uma variação de 91,5%, reforçando a conclusão inicial. Em 2000, os americanos Roger G. Ibbotson e Paul D. Kaplan expandiram essa análise e demonstraram que a alocação de ativos explica cerca de 40% das diferenças de retorno entre fundos, mas representa quase 100% do retorno absoluto de um portfólio ao longo do tempo.
Ou seja, embora existam diferenças de desempenho entre gestores e produtos individuais, a rentabilidade de uma carteira está fundamentalmente atrelada à forma como os ativos são distribuídos entre classes como renda fixa, renda variável, fundos de investimento.
O que isso significa na prática?
- A distribuição entre classes de ativos é mais relevante do que a escolha individual dos ativos dentro dessas classes.
- A diversificação reduz riscos e melhora o retorno ajustado ao risco, tornando a carteira mais resistente a oscilações do mercado.
- Mesmo os melhores produtos financeiros perdem relevância se estiverem inseridos em uma estratégia inadequada. Um fundo de ações excelente não trará resultados se o investidor estiver sobrecarregado de renda variável quando o mercado cair.
Embora os estudos mostrem que a alocação de ativos explica a maior parte da variabilidade dos retornos, algumas interpretações errôneas precisam ser esclarecidas:
- A escolha de produtos ainda importa. Os estudos não dizem que selecionar bons produtos não faz diferença, mas que a alocação entre classes de ativos é mais relevante do que a seleção individual.
- O market timing pode influenciar, mas não substitui uma boa alocação. Tentar prever o mercado pode gerar ganhos pontuais, mas no longo prazo, é a estratégia consistente de diversificação que faz a diferença.
- A alocação de ativos não é estática. Ela deve ser revisada periodicamente para refletir mudanças no mercado e na tolerância ao risco do investidor.
A grande conclusão dos estudos sobre asset allocation é que o sucesso de um portfólio depende muito mais da estratégia de diversificação entre classes de ativos do que da escolha de produtos individuais. Investidores que gastam tempo tentando selecionar as melhores ações, fundos ou títulos podem estar negligenciando o fator mais importante para o sucesso de longo prazo.
Em vez de buscar incessantemente o próximo investimento mais lucrativo, o foco deve estar na construção de um portfólio equilibrado, alinhado aos objetivos financeiros e ao perfil de risco, garantindo uma alocação eficiente que maximize os retornos ajustados ao risco.
No final das contas, o que define o sucesso de uma carteira de investimentos não é apenas a escolha dos produtos, mas a estruturação da estratégia de investimento em classes de ativos.
*Artigo escrito por Carlos Castro, planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico.
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