Como organizar as ideias e as finanças para começar a empreender


Podcast Educação Financeira conversou com empreendedores para entender como a falta de um produto ou serviço inspirou as ideias de suas empresas. Especialistas dá dicas para que novos empreendedores não errem logo no início da jornada. Bebida que muda de cor da We Drink Lilac
Reprodução/Instagram
Só no ano passado, cerca de 3,8 milhões de empresas foram abertas no país, segundo dados do Mapa das Empresas, do governo federal. Com tantos empresários tentando navegar em novos negócios, um dos desafios que mais trava o processo é pensar em como atacar uma lacuna que ainda não foi preenchida no mercado.
Para Fernanda Konradt, consultora do Centelha, um programa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para a promoção do empreendedorismo no Brasil, uma das principais virtudes que destaca os bons empresários é o olhar atento aos problemas à sua volta.
“Para abrir seu próprio negócio, a pessoa precisa primeiro identificar um problema que precisa ser resolvido — e a gente sabe que, tanto no país quanto no mundo todo, problemas não faltam”, comenta.
Nesta semana, o podcast Educação Financeira conversou com empreendedores que pudessem demonstrar esse conceito: como a falta de um produto ou serviço fez com que as ideias de suas empresas nascessem.
O episódio traz as origens de uma marca de bebias alcoólicas com sabores focados no paladar feminino, uma empresa de absorventes orgânicos e um hospital veterinário com estrutura especial para maior privacidade aos tutores no cuidado com seus animais. Ouça abaixo.
Nesta reportagem, os ensinamentos serão aprofundados e servirão para nortear quem quer seguir o mesmo caminho. Serão demonstradas as formas que os empresários puderam:
🔎 Identificar o problema;
🎯 Pensar em soluções inovadoras;
👩‍🔬 Buscar especialistas;
💰 Testar a viabilidade do negócio.
🔎 Identificando o problema
A empresa de absorventes orgânicos amai nasceu de desabafos entre as amigas Luri Minami e Erika Tomi. Luri sentia desconfortos durante a menstruação por conta dos absorventes, e a dupla observou que isso poderia ser uma reação alérgica que atingia outras mulheres.
Então, Luri e Erika expandiram as conversas e descobriram que muitas mulheres relatavam os mesmos desconfortos. A ideia foi desenvolver um absorvente com produtos e matérias-primas mais naturais.
Erika e Luri, sócias e fundadoras da amai
Reprodução/Instagram
Também foi por uma dor que surgiu o projeto do hospital veterinário AmarVets. O empresário Cesar Rosa precisou internar sua cachorra em uma clínica que não tinha espaços reservados de internação para cada paciente. O ambiente juntava tanto os que estavam se recuperando, quanto os que pioravam.
Pensando na angústia dos tutores, resolveu criar um hospital com atendimento e estruturas individualizados, com a possibilidade, inclusive, do dono passar a noite com o animal no espaço.
Já Deise Reis, Ellen Bernardi e Ivana Rebeschini faziam parte de um workshop de mulheres que apreciavam drinks, e perceberam que o mercado ainda não tinha nenhuma bebida focada no paladar feminino. Criaram, então, a marca de bebidas We Drink Lilac, com público-alvo bem definido.
São três exemplos práticos do que Fernanda Konradt, do Centelha, explica: as lacunas para empreender estão no dia a dia e é necessário um olhar atento para perceber as oportunidades.
🎯 Pensando em soluções inovadoras
A partir do momento em que o problema é identificado, o próximo passo é pensar uma solução. Uma boa solução é ir para a rua e conversar com as pessoas que enfrentam o mesmo desafio.
O Cesar, da AmarVets, conta que, enquanto sua cachorra estava internada, ele passou a frequentar a clínica todos os dias para ouvir as conversas dos corredores, além de conversar com clientes e funcionários.
Trata-se de uma pesquisa de campo, para entender o que podia ser melhorado no atendimento, o que seria um diferencial competitivo etc. Assim, ele percebeu que esse é um mercado que movimenta bastante dinheiro, e que havia espaço para que os clientes pagassem um pouco mais caro para ter uma experiência mais personalizada.
Suíte para tutores passarem a noite com o cachorro na AmarVets
Divulgação/AmarVets
Outra alternativa é a famosa “tentativa e erro”, caso das sócias da We Drink Lilac. Além de desenvolverem uma bebida específica para mulheres, elas buscaram uma forma de desenvolver uma bebida que mudasse de cor como um diferencial de inovação.
A primeira ideia era promover a mudança de cor ao adicionar gin ou espumante. Enviaram a experiência para as mulheres que participavam do workshop de drinks e, com os feedbacks, foram aperfeiçoando o produto.
Já as fundadoras da amai recorreram às redes sociais para conseguir colher a opinião do público. Elas fizeram um post patrocinado nas redes, direcionado para mulheres em idade menstrual, perguntando se sentiam incomodo durante a menstruação.
As mulheres que respondiam que sim eram direcionadas para um questionário, onde deixavam um número de telefone para contato. Então, as sócias faziam as ligações, levantando todos os pontos de desconforto e como podiam aliviar os sintomas.
Fernanda Konradt, do Centelha, destaca que conversar com os possíveis consumidores do produto ou serviço é importante, mas observar e analisar o comportamento das pessoas em relação ao problema é ainda mais relevante.
A especialista comenta que, muitas vezes, o entrevistado nem sabe o que precisa, pois a solução ainda não foi criada.
“Tem uma frase superfamosa do Ford que disse ‘se eu fosse perguntar para os meus clientes o que que eles queriam, eles diriam que queriam cavalos mais rápidos’. Então, ele teve que desenvolver um outro produto, uma outra solução”, diz Fernanda.
👩‍🔬 Buscando especialistas
Mais uma dica importante de Fernanda Konradt, do Centelha, é que o empreendedor entenda desde o início que não pode fazer tudo sozinho, justamente por não dominar todas as áreas que envolvem um negócio.
Buscar a opinião e o conhecimento de especialistas de outras áreas é uma tarefa que pode fazer toda a diferença para a estruturação e a viabilização do projeto.
Cesar, da AmarVets, já é um empresário experiente, mas precisou encontrar uma médica veterinária em que confiasse para entender as peculiaridades desse mercado e os conhecimentos técnicos do projeto.
Essa busca por especialistas não precisa envolver muitos gastos. As sócias da amai, que não tinham experiência alguma com a produção de absorventes, buscavam os produtores dessa área pelo LinkedIn e marcavam conversas informais com eles para aprender. Só depois de meses de pesquisa que produziram a primeira leva do produto.
💰 Testando a viabilidade
Por fim, um consenso entre todos os entrevistados é que não tem como tirar uma ideia de negócio do papel sem antes testar sua viabilidade financeira.
No caso da We Drink Lilac, o próprio processo de tentativa e erro já foi capaz de mostrar quais cuidados tomar. Ao produzir poucas unidades para um público específico, as fundadoras da empresa puderam entender o nível de aceitação da bebida e aumentaram a produção aos poucos.
Com a amai o processo foi um pouco mais lento, porque não havia como produzir menos que um lote inteiro dos absorventes orgânicos. As sócias contam que o investimento inicial foi de R$ 400 mil e, por isso, pesquisaram muito entre as possíveis compradoras para definir um preço de venda e tomar a decisão de investir.
Fernanda, do programa Centelha, explica que é só com essas pesquisas que se consegue entender a viabilidade do projeto, mas destaca que ainda é possível buscar incentivo de programas de apoio ao empreendedorismo, como o próprio Centelha, para receber uma ajuda financeira para tirar a ideia do papel.
Para isso, os outros pontos destacados até aqui precisam estar muito bem trabalhados e conectados, a fim de que o potencial investidor consiga enxergar valor no negócio.
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