Beija-flor-tesoura se alimentando de caju chama a atenção de biólogo; veja vídeo


Espécie mais comum de colibri foi flagrada no Ceará bebendo o suco da polpa da fruta. Atividade é pouco documentada na ciência. Ornitólogo se surpreende com beija-flor-tesoura se alimentado de caju
Ciro Albano/VC no TG
Que a natureza sempre nos surpreende não é novidade para ninguém. Mas um flagrante curioso feito pelo ornitólogo Ciro Albano na praia da Taíba, localizada no município de São Gonçalo de Amarante (CE), chamou a atenção. Mesmo com uma larga carreira como guia de observação de aves, ele nunca tinha visto a cena inusitada: um beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura) se alimentando de um caju.
Beija-flor-tesoura se alimentando de caju chama a atenção de biólogo; veja vídeo
“Eu tinha ido visitar meu sobrinho, estava à passeio então não tinha equipamento algum comigo. De repente, sentado na varanda, vejo esse beija-flor-tesoura passando de um lado para outro no cajueiro. Eu achei que ele estava visitando a flor do caju, porque eu sei que eles gostam, mas na verdade ele estava indo direto era no fruto mesmo. E o mais engraçado é que ele ficava pousado no cajueiro, defendendo o alimento dele”, conta o ornitólogo.
Ciro chamou a cena de “incomum” nas redes sociais, embora haja registros na literatura científica de beija-flores se alimentando do néctar de frutos. O Terra da Gente, inclusive, já mostrou um flagrante feito em Jaraguá do Sul (SC) de um indivíduo de beija-flor-cinza se alimentando de uma melancia.
Um dos visitantes mais comuns de bebedouros de água com açúcar, beija-flor-tesoura é extremamente territorialista
Aldo J. Nunes
Um artigo publicado em 2014 descreveu pela primeira vez o consumo de frutos de calabura (Mutingia calabura) pelo beija-flor-de-garganta-azul (Chlorostilbon notatus), registrado em Porto Velho, capital rondoniense.
A calabura, também conhecida como pau-seda, cereja e bagas, dá frutos pequenos e muito doces, sendo muito apreciados por aves, como cambacicas, gaturamos e sanhaços, além de morcegos.
O líquido doce da fruta atraiu a ave
Marcelo Schmidt Roberti/VC no TG
A bióloga e especialista em beija-flores Nathália Diniz explica que os beija-flores têm preferência por frutos deiscentes, aqueles que quando maduros se abrem naturalmente deixando a polpa exposta. No entanto, a casca macia de alguns oferece pouca resistência ao bico dos beija-flores, como é o caso do caju e do caqui.
“Eles também podem aproveitar furos feitos por outras aves. Em todos os casos, os beija-flores usam a língua para beber o suco da polpa da fruta, similar ao que fazem com o néctar das flores”, pontua.
Por que o caju?
De acordo com Nathália Diniz, o caju é uma fruta que apresenta alto teor de frutose e glicose, açúcares que também são encontrados no néctar das flores.
Casca macia de alguns frutos oferece pouca resistência ao bico dos beija-flores, como é o caso do caju e do caqui
Leonardo Casadei
“Desta forma, o consumo da fruta também deve servir como fonte de energia rápida para estas aves. Foi isso que chamou a atenção do colibri, que consumiu o caju como se fosse um néctar”.
Beija-flores usam a língua para beber o suco da polpa da fruta, similar ao que fazem com o néctar das flores
Ciro Albano
A especialista explica que ainda não se sabe se este é um hábito de todos os beija-flores, pois os registros são escassos e pontuais. Mas algumas espécies que ocorrem no Brasil já foram registradas se alimentando de frutos, como: besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus), beija-flor-de-veste-preta (Anthracothorax nigricollis) e beija-flor-dourado (Hylocharis chrysura).
Indisponibilidade floral?
Segundo Nathália, grande parte dos pesquisadores acredita que a frugivoria em beija-flores tenha relação com a quantidade de recursos florais disponíveis.
Beija-flor-tesoura é um dos maiores beija-flores brasileiros e considerado o colibri mais comum do país
Leonardo Vilela/TG
“Diante de uma escassez floral, estas aves buscam outros recursos para complementar sua demanda energética. Mas ainda não há um consenso na comunidade científica acerca deste fato”, destaca.
Ainda de acordo com ela, que trabalha com beija-flores há 10 anos, estudos que avaliem a importância da frugivoria para os beija-flores ainda são necessários para entender melhor os processos aos quais este comportamento está atrelado e assim gerar conclusões mais robustas sobre esta interação.
VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente
Adicionar aos favoritos o Link permanente.