Ambulantes cadastrados para vender nos blocos de SP apontam falhas na organização, filas e humilhação


Eles contam que não houve uma limitação formal do número de ambulantes por bloco. Centenas de vendedores passaram a noite de sábado (10) em claro para poder trabalhar, enfrentaram calor intenso e fizeram até revezamento para garantir vaga. Ambulantes cadastrados para vender nos blocos de SP apontam falhas na organização, filas e humilhação
Beatriz Backes/ TV Globo
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Centenas de vendedores ambulantes cadastrados para trabalhar no carnaval de rua deste ano passaram a noite de sábado (10) acampados no entorno do Parque Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo. A expectativa deles era conseguir trabalhar num dos megablocos que desfilarão no local neste domingo (11). A TV Globo registrou a cena e conversou com eles.
Sol, calor e irreverência marcam o esquenta do bloco da Pabllo no Ibirapuera
Em janeiro, cerca de 20 mil pessoas se inscreveram no site da prefeitura da capital para trabalhar de forma regularizada nos desfiles que acontecerão na cidade até o dia 18 de fevereiro. Após o cadastramento online, os vendedores tiveram que retirar o equipamento necessário em um posto da gestão municipal.
Contudo, muitos afirmam que a organização da folia está deixando a desejar.
À TV Globo, a vendedora Alessandra Costa contou que não foi estabelecido um limite de ambulantes por bloco — ao menos, não formalmente. Na sexta-feira (9), ela e outros colegas passaram a noite nas proximidades do Ibirapuera, mas não conseguiram entrar para trabalhar.
“Passamos a noite em claro e chegou uma determinada hora que eles barraram, não podia mais entrar”, relatou Alessandra. “Não foi avisado ‘olha, no Ibirapuera ou em tal lugar vai ter número determinado de ambulantes’. Não. Simplesmente deram o crachá, cadastraram 20 mil pessoas e ‘ó, vocês que lutem’. Eu chorei, passei mal debaixo de um sol de quase 35°C, numa fila”.
Ambulantes enfrentam filas durante a noite para ter acesso aos blocos
Beatriz Backes/ TV Globo
O relato da autônoma Aline dos Santos é parecido. Ela conta que os ambulantes estão acampando não apenas para conseguirem uma vaga nos blocos, mas também para conquistar uma posição no circuito do desfile que considerem mais vantajosa, com mais chances de venda.
“A gente tá passando por uma situação que tá sendo difícil pra todo mundo. Pra gente trabalhar no sábado, a gente teve que chegar aqui na sexta-feira, teve gente que chegou às 16h pra poder conseguir um lugar”, contou Aline.
“Nós é que resolvemos ficar aqui mesmo, fazer essa organização, pra gente ter um mínimo de decência no trabalho. Então, vem eu e o meu sobrinho, nós revezamos. Ele fica um pouco, eu vou em casa, tomo um banho, descanso. Depois eu volto e ele faz a mesma coisa”, diz o autônomo Wellington Lima.
A expectativa para quem se cadastrou na prefeitura para trabalhar como ambulante era de faturamento alto e organização. Mas, a sensação até agora é outra.
“Isso daqui, o que a gente tá passando este ano, pelo menos aqui no Ibirapuera, a palavra certa que a gente pode usar é humilhação”, diz Aline.
“O que a gente esperava em relação a lucro, esse ano aqui, sem chance. Não tem. A gente não tá tendo lucro. A gente tá aqui pra vender o que a gente tem e tirar o que a gente gastou”, afirma Wellington Lima.
Centenas de ambulantes estão acampados na rua Marechal Maurício Cardoso, próximo ao parque Ibirapuera
Beatriz Backes/TV Globo
O que fiz a Prefeitura
Segundo a prefeitura de São Paulo, a organização dos ambulantes é de responsabilidade do patrocinador do carnaval de rua, neste caso, a Ambev. O g1 entrou em contato com a fabricante de bebidas e aguarda retorno.
Veja abaixo a nota da prefeitura.
“A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB), não possui gerência sobre a distribuição dos vendedores nos blocos de rua. O patrocinador do Carnaval realizou o cadastramento, como também treinamento, orientação e apoio aos empreendedores autônomos.
A SMSUB é responsável pela fiscalização da comercialização de produtos. São 2400 fiscais que atuam de forma rigorosa para impedir a entrada de vidros ou outros objetos cortantes, contundentes e demais produtos que possam oferecer risco.”
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