Cientista que luta em defesa da pesquisa conta que já perdeu vaga por ser mulher: ‘professor disse que o trabalho era difícil’


Helena Dutra Lutens é ecóloga, pesquisadora e presidente da Associação de Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo. Helena Dutra Lutens, ecóloga, pesquisadora e presidente da Associação de Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC)
Coletivo Educação em Primeiro Lugar
Com toda certeza você já ouviu falar de Albert Einstein, Charles Darwin, Isaac Newton e Nikola Tesla, importantes cientistas que marcaram a sociedade com suas descobertas e invenções. E os nomes Marie Curie, Bertha Lutz, Graziela Barroso, você conhece? É provável que sua resposta seja não, pois a figura da mulher na ciência, por muito tempo, passou despercebida.
Assim como o os homens, as mulheres também desempenham um papel importante na área da pesquisa e no avanço tecnológico. De acordo com uma pesquisa realizada pela na Elsevier Gender Report de 2020, no Brasil, considerando todas as áreas da ciência, 72% dos artigos científicos são de autoria feminina.
No Dia Internacional da Mulher na Ciência, o g1 entrevista Helena Dutra Lutens, ecóloga, pesquisadora e presidente da Associação de Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), que tem sede em Campinas (SP), para contar sua trajetória e os desafios que enfrentou enquanto mulher para conquistar espaço em sua área de trabalho.
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Ciência por amor ❤🔬
Foi durante o ensino médio que o interesse pela área da biologia despertou em Helena. Por mais que inicialmente ela tenha dedicado quatro anos de sua vida fazendo cursinho para ser aprovada em medicina, o que realmente a encantava era a ecologia.
Nos anos 80, a pesquisadora ingressou na única faculdade da área que existia na América Latina, a Unesp de Rio Claro (SP). De acordo com Helena, na época sua sala era formada por apenas 20 alunos. Mais para frente, aquele número se reduziria a seis, dos quais cinco eram mulheres.
Helena Dutra Lutens realizando um trabalho de conscientização com agricultores
Katia Braga
Por mais que a predominância fosse feminina, a pesquisadora afirma que sua classe era um caso à parte e que enfrentou situações machistas ainda na faculdade. “Nos tínhamos uma disciplina de zoologia e o professor que ministrava essas aulas tinha como linha de pesquisa a biologia marinha, assunto que me interessava”.
“Ele disse no primeiro dia que se alguém daquela turma quisesse fazer estágio com ele, ele escolheria pelas notas, então quem tivesse as maiores notas conseguiria. Como eu queria muito o estágio, eu me dediquei bastante. Mas quando chegou no final do ano, eu e um outro colega empatamos”.
“Nós tínhamos a mesma média. Meu professor escolheu o meu colega por ser homem, falando que o estágio era um trabalho difícil”, relata.
Uma mulher pela natureza 🌳
O caminho não foi fácil, mas, depois de formada, Helena foi trabalhar no Instituto Florestal em São Paulo, onde consolidou boa parte de sua carreira como pesquisadora e desenvolveu trabalhos na área de conscientização da sociedade sobre a importância da preservação ambiental.
Entre projetos com crianças e comunidades com áreas preservadas, Helena também atuou em ONGs, sempre com o foco de promover a educação ambiental e envolver mais pessoas na luta por esta causa.
“Eu sempre trabalhei para que as unidades de conservação não fossem vistas como algo que tivesse que ficar guardado, sem o acesso do público. Sempre quis mostrar a efetividade do envolvimento da comunidade na conservação”, comenta a pesquisadora.
Em 2020, um projeto de lei que extinguia diversas instituições do estado de São Paulo, colocou fim no Istituto Florestal. Porém, Helena, enxergando a importância da pesquisa e da ciência no desenvolvimento da sociedade, se envolveu com a Associação de Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), onde desde início de 2024, atua como presidente.
Em luta pela causa ambiental 👊🌱
Abraçando causas ligadas a educação ambiental a pesquisadora, em conjunto com seus colegas de mandato, a cientista pelo fortalecimento da carreira de pesquisador e dos institutos de pesquisa do estado de São Paulo, com a missão de atender demandas da sociedade, por meio da Associação de Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC).
Helena acredita na importância da pesquisa pública de qualidade como forma de contribuir para a sociedade. Além disso, explica que, para pesquisadores públicos como ela, continuar desenvolvendo seus projetos durante as trocas de governo, que ocorrem a cada quatro anos, é uma das principais dificuldades.
“Temos que estar sempre na briga para que a população tenha acesso ao resultado de nossas pesquisas. Nossa demanda é da sociedade. Lutamos para que estes estudos continuem existindo, e que essa carreira de pesquisador público seja fortalecida.” , diz Helena.
Medalha de Mérito 🥇
Entrega do colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo à pesquisadora Helena Dutra
Coletivo Educação em Primeiro Lugar
Em 2023, Helena foi contemplada com a Medalha de Mérito Legislativo pelo trabalho que desenvolve junto a assembleia em prol das instituições de pesquisa, dos pesquisadores e em defesa da pesquisa científica ambiental.
Esta premiação contempla profissionais que tenham prestado serviços relevantes ao Poder Legislativo ou ao Brasil.
A luta da mulher não é só na ciência 💪
Durante a entrevista, a pesquisadora afirmou que enxerga um avanço na conquista do protagonismo feminino dentro da ciência nos dias de hoje, mas acredita que ainda há uma longa jornada a ser percorrida. Ela acrescenta que a luta pela igualdade entre homens e mulheres não é apenas dentro da área da pesquisa cientifica, mas uma causa da sociedade em geral.
“Sempre temos que estar demonstrando que somos competentes independente do gênero mas nós, como mulheres, temos uma necessidade maior de mostrar nossa competência. A mudança desse cenário é sempre com muita luta, e não apenas na áreas que eu atuo, que é a pesquisa, mas como um todo. Infelizmente o preconceito contra a capacidade da mulher ainda é muito presente.”, comenta a pesquisadora.
*Sob supervisão de Yasmin Castro.
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