O mistério geológico do Olho da África, que só é visto do espaço

O mistério geológico do Olho da África, que só é visto do espaçoAugusto Dala Costa

Caso você tenha, um dia, a oportunidade de viajar sobre o Deserto do Saara na região da Mauritânia, poderá ver o Olho da África, uma área com 50 km de diâmetro contendo uma série de “ondas” rochosas dispostas em círculo. O mistério geológico gerou desde teorias da conspiração a hipóteses científicas numerosas, mas segue sem solução definitiva. Pelo seu tamanho, ela só pode ser parcialmente apreciada de um avião ou, em toda a sua glória, do espaço.

É provável que sua formação tenha ocorrido por meio de um processo chamado de dobra geológica, criando um anticlinal simétrico — uma espécie de “lombada” das camadas da Terra, com a mais recente na parte de cima. O Olho da África foi usado pelos astronautas do Projeto Gemini, nos anos 1965, como ponto de referência, momento em que foi descoberto. Também chamado de Estrutura Richat, por muito tempo se pensou que fosse uma cratera de impacto de asteroide. Isso está longe de ser verdade.

O que formou o Olho do Saara?

Datações geológicas indicam que as rochas sedimentares do domo central da estrutura datam do final do éon Proterozoico, o segundo mais antigo do planeta, entre 1 bilhão e 542 milhões de anos atrás. Há quem acredite que, por conta do formato circular, os restos rochosos seriam ruínas perdidas de Atlântida, já que foi assim que Platão descreveu o continente, mas não há prova alguma disso.

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Para a Estrutura Richat ter sido feita por uma dobra geológica, forças tectônicas teriam de agir de algum dos lados, espremendo as rochas sedimentares — quando a rocha está fria, ela se quebra, mas, se está quente o suficiente, se dobra. Uma proposta publicada na revista científica Journal of African Earth Science em 2014, no entanto, sugeriu algo completamente diferente.

No estudo, cientistas da Universidade de Quebec notaram a presença de rochas vulcânicas, o que seria evidência do lançamento de minerais derretidos à superfície, tomando a forma de domo. Após se solidificar, a estrutura teria erodido até ficarem apenas os anéis rochosos que vemos atualmente. Os pesquisadores ainda sugeriram que a separação do supercontinente da Pangeia teria auxiliado na formação vulcânica e mudanças tectônicas responsáveis pelo fenômeno.

O Olho da África é feito de uma mistura de rochas sedimentares e ígneas, com a superfície sendo composta de riolito fino e gabro cristalino e áspero, modificado por atividade hidrotermal. Ao longo dos anéis, são encontrados minerais que erodiram em velocidades diferentes, deixando padrões coloridos muito diversos por toda a estrutura. Pedaços agudos e afiados de megabrecha, uma rocha sedimentar de granulação grossa, ajudam a colorir ainda mais o local.

Já o centro do domo apresenta uma camada de calcário e dolomita, com brechas de até um quilômetro de diâmetro, diques anelares e rocha vulcânica alcalina. Desde que os geólogos descobriram a Estrutura Richat, desvendar o mistério de seu surgimento tem sido um desafio, com nenhuma explicação satisfazendo a ciência. Em 2022, ela se tornou um dos 100 primeiros patrimônios geológicos reconhecidos pela União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS).

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