
A corrida global pela inteligência artificial (IA) já está em andamento, e países como Estados Unidos, China e União Europeia disputam a liderança nessa revolução tecnológica. No entanto, o Brasil pode ter um diferencial competitivo único: sua capacidade energética e estrutura digital podem posicioná-lo como um hub estratégico para a IA no mundo.
Essa é a visão de Leonardo Santos, executivo da REAG Investimentos, que participou da Cúpula Global de Ação sobre IA, evento realizado na França e que reuniu alguns dos principais líderes mundiais do setor, incluindo Sam Altman (OpenAI) e Satya Nadella (Microsoft).
Santos destaca que o Brasil pode desempenhar um papel fundamental na nova economia da IA, comparando seu potencial de processamento computacional e infraestrutura energética ao “novo pré-sal” – uma referência às gigantescas reservas de petróleo que transformaram o país em um player global no setor energético. “Temos um verdadeiro ‘novo pré-sal’ em termos de capacidade computacional e geração de valor econômico. O Brasil pode se tornar um polo estratégico para essa revolução tecnológica.”
Essa vantagem, segundo ele, vem do fato de que o Brasil possui uma matriz elétrica com 89% de fontes renováveis, o que pode atrair empresas que buscam processamento de IA sustentável e infraestrutura confiável para data centers.
A Janela de Oportunidade do Brasil
Enquanto a União Europeia impõe regulamentações rígidas sobre a inteligência artificial, países como os Estados Unidos e a China já atraem empresas e investimentos massivos no setor. Segundo Santos, até mesmo a França já começa a questionar a regulação mais dura da União Europeia, percebendo que pode estar bloqueando a inovação.
“A França já se posiciona contra essa regulação mais rígida da União Europeia, porque percebe que está bloqueando o desenvolvimento da IA. Esse é o risco que o Brasil não pode correr. Somos um país em desenvolvimento com uma oportunidade gigantesca, considerando nossa multiculturalidade, nossa matriz energética sustentável e nossas relações comerciais internacionais.”
Para ele, o Brasil precisa aproveitar essa janela de oportunidade e consolidar-se como um centro de processamento e desenvolvimento de aplicações de IA.
Regulação da IA: O Brasil Deve Criar Seu Próprio Modelo
Santos defende que o Brasil não pode simplesmente copiar modelos regulatórios da União Europeia, como ocorreu com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que foi baseada no GDPR europeu.
“O Brasil realmente precisa se adaptar com uma lei mais localizada, mais regionalizada, não simplesmente pegando a base de uma lei aprovada na União Europeia. Nossa realidade econômica e social é muito diferente. Precisamos de uma regulamentação que favoreça a inovação e o desenvolvimento da inteligência artificial no nosso país.”
Para ele, a América Latina deve criar um modelo regulatório mais flexível e adaptado à sua realidade, para não perder investimentos e inovações para mercados mais abertos, como os Estados Unidos.
Setores Estratégicos para a IA no Brasil
Embora o Brasil tenha se destacado no setor financeiro, com inovações como o PIX, Santos vê outras áreas com grande potencial para a aplicação de inteligência artificial, como saúde, consumo digital e energia.
“O setor de saúde tem uma regulamentação local específica, mas há um enorme potencial para aplicações globais. O Brasil também é um dos mercados mais digitalizados no comércio eletrônico, o que abre um campo vasto para soluções de IA. E não podemos esquecer o setor energético, onde temos grande destaque no uso de matrizes sustentáveis.”
A inteligência artificial pode transformar a eficiência operacional das empresas, reduzindo custos e tornando processos mais ágeis e produtivos.
Veja a íntegra da entrevista com Leonardo Santos:
BM&C News – Você mencionou que o Brasil tem potencial para se tornar um hub estratégico de inteligência artificial, comparando a capacidade computacional do país a um “novo pré-sal”. Quais os principais desafios para que essa visão se concretize e quais setores podem ser os primeiros a se beneficiar dessa transformação?
Leonardo Santos – O Brasil realmente precisa se adaptar com uma lei mais localizada, mais regionalizada, não simplesmente pegando uma base de uma lei que foi aprovada na União Europeia, que foi exatamente o que aconteceu na LGPD, que é a Lei Geral de Proteção de Dados, baseada na GDPR europeia. A economia europeia é totalmente diferente e multissetorial, com fatores de proteção de mercado, PIB e renda per capita muito distintos da América Latina. Quando eu enxergo essa oportunidade, vejo que não podemos simplesmente colocar fatores de risco que travem o desenvolvimento da inovação e da inteligência artificial no nosso país e na América Latina. Um exemplo disso foi a recente discussão do presidente Macron no AI Action Summit, defendendo uma regulamentação de IA mais aberta, em contraponto ao que foi aprovado e está sendo implementado na União Europeia. A França já percebe que a regulação excessiva está bloqueando o desenvolvimento, e isso é algo que não podemos permitir que aconteça aqui no Brasil. Somos um país em desenvolvimento com uma oportunidade gigantesca, dado o nosso multiculturalismo, nossas regionalizações e nossas relações internacionais. Não é à toa que os Estados Unidos estão defendendo o Brasil e incentivando empreendedores e empresas a desenvolverem inteligência artificial por lá. A China também está avançando rapidamente, enquanto a União Europeia busca atrair investimentos para sua região. O Brasil tem um potencial enorme, mas não podemos perder essa janela de oportunidade que está se abrindo no mundo, principalmente na América Latina.

BM&C News – Você defende que a América Latina precisa de uma regulação própria para IA, em vez de simplesmente adotar modelos europeus. Quais seriam os principais pontos dessa regulação adaptada e como o Brasil pode equilibrar inovação e segurança no desenvolvimento da IA?
Leonardo Santos – O Brasil realmente precisa se adaptar com uma regulamentação mais localizada e regionalizada, sem simplesmente copiar modelos externos. Nossa juventude populacional e a necessidade urgente de crescimento econômico exigem uma abordagem regulatória ágil e contextualizada. Não podemos simplesmente importar leis da União Europeia sem considerar nossas especificidades.A América Latina tem desafios e oportunidades únicas que precisam ser consideradas. É essencial que o Brasil desenvolva uma regulação que proteja os cidadãos, mas que também incentive o desenvolvimento e atraia investimentos. Se formos muito restritivos desde o início, corremos o risco de afastar empresas e estagnar nossa capacidade de inovação no setor.
BM&C News – Como executivo da REAG Investimentos e atuante no setor de Venture Capital, quais tendências de investimento em IA você considera mais promissoras no Brasil e na América Latina? O mercado já está preparado para receber grandes aportes nessa área?
Leonardo Santos – Nós enxergamos o mercado de IA na camada de aplicação. Não acreditamos que o Brasil se tornará uma potência na produção de semicondutores ou no desenvolvimento de chips no curto prazo. No entanto, nos próximos cinco anos, vemos uma tendência clara para investimentos em soluções práticas baseadas em inteligência artificial e no suporte para exportação de processamento de IA.O Brasil e a América Latina têm um custo operacional alto para manter companhias e infraestrutura fabril. A inteligência artificial pode transformar essa realidade, otimizando a eficiência operacional e reduzindo custos significativamente. Por isso, há uma grande oportunidade para investimentos em IA aplicada à automação de processos, análise preditiva e soluções escaláveis para diversos setores. Apesar desse potencial, há desafios a serem superados, como a escassez de talentos especializados. No entanto, o interesse de investidores já está crescendo e a América Latina, em especial o Brasil, tem tudo para se destacar como um dos principais polos de IA no futuro.
BM&C News – O Brasil já se destacou globalmente com inovações como o PIX. Você acredita que há outros setores onde o país pode assumir um papel de liderança global em IA? Quais exemplos práticos poderiam reforçar essa posição?
Leonardo Santos – Sim, além do setor financeiro, há um grande potencial para o Brasil liderar globalmente em IA aplicada à saúde, ao consumo digital e à energia. No setor de saúde, temos uma regulamentação local específica, mas existem aplicações de IA que podem ser globalizadas. O Brasil pode inovar na implementação de inteligência artificial para diagnósticos, gestão hospitalar e otimização do atendimento médico, trazendo mais eficiência e acessibilidade ao sistema de saúde.
No consumo digital, o Brasil já é um dos mercados mais avançados em e-commerce e digitalização do varejo. Isso abre um grande espaço para o uso de IA em personalização de ofertas, análise de comportamento do consumidor e automação de atendimento. No setor de energia, o Brasil tem um dos maiores índices de uso de matrizes energéticas renováveis do mundo. Esse é um diferencial competitivo enorme. Podemos utilizar IA para otimizar o uso dessas fontes e tornar a matriz energética ainda mais eficiente. O Brasil já provou sua capacidade de inovar globalmente com o PIX, que revolucionou o mercado financeiro e serviu de modelo para outros países. Se tivermos políticas e incentivos adequados, podemos replicar esse sucesso em diversas outras áreas.
O post Executivo destaca potencial do Brasil como hub global de IA: “é o novo pré-sal” apareceu primeiro em BM&C NEWS.