ES é o quarto estado do Brasil com a maior taxa de estudantes com autismo

Autismo
Foto: Freepik

Um estudo inédito no Espírito Santo revela dados sobre pessoas com deficiência e diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que classifica o Estado sendo o quarto do país com a maior taxa de estudantes maiores de seis anos com autismo.

Em território capixaba, 1,3% da população residente — o equivalente a 51.328 pessoas — foi diagnosticada com autismo. A prevalência também é maior entre os estudantes de 6 anos ou mais: 2,1% no Espírito Santo, frente a 1,7% no Brasil.

Os dados são do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). A análise foi a partir do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No gráfico, o estado fica atrás somente do Acre (2,5%), Ceará (2,2%) e Amapá (2,2%).

Para o diretor do Instituto, Pablo Lira, há possibilidade de existir uma subnotificação dos diagnósticos de autismo, por conta dos cortes de custos no último Censo e pela falta de acesso aos exames necessários por parte de algumas famílias.

“Em 2022, o governo federal cortou os custos do Censo e as próprias equipes tiveram dificuldades de acessar os domicílios. E, ainda, às vezes acessa o domicílio, mas a pessoa não tem condições de fazer um exame para diagnosticar se ela tem autismo ou não tem nem a informação para saber se é necessário um exame. Principalmente, nos grupos mais vulneráveis. Então, por esses dois fatores, provavelmente há uma subnotificação nos dados”, explicou.

No recorte por sexo, os homens representam 3,1% dos diagnosticados no Estado. Entre os indígenas capixabas, o percentual diagnosticado com TEA chega a 1,8%, superando o índice nacional entre os indígenas (1,5%).

O documento ainda detalha que 2,3% dos estudantes indígenas de 6 anos ou mais no Espírito Santo foram diagnosticados com autismo, quase o dobro do registrado no Brasil (1,1%). Entre os cursos frequentados, a Alfabetização de Jovens e Adultos aparece com 4,4% dos diagnosticados.

Na faixa etária de 25 anos ou mais, tanto o Brasil quanto o Espírito Santo apresentam o mesmo percentual de pessoas diagnosticadas com autismo: 0,9%.

A presidente da Associação dos Amigos dos Autistas do ES (AMAES), Pollyana Paraguassu, chama a atenção para a banalização dos laudos e da mercantilização da causa autista que, segundo ela, são os principais pontos que dificultam o tratamento dessas pessoas.

“A única preocupação nossa hoje, até enquanto instituição, é a banalização desses laudos que chegam e a mercantilização da nossa causa. É uma intervenção muito cara quando a gente fala do autismo. Colocam aí 30, 40, 20 horas de terapia. Uma terapia em média particular é R$ 150. Então, é uma intervenção custosa. E há mercantilização em cima da dor do outro. Por isso, as escolas precisam investir mais em adaptação. Focar nas adaptações para o ensino-aprendizagem. Realmente habilitar esse estudante para estar na escola. É um processo de habilitação, com atividades adaptadas”, contou.

Como é a escola para os estudantes com autismo?

Segundo dados da Secretaria Estadual de Educação (Sedu), com base no Censo Escolar, o ensino fundamental regular representa a maior parte do total de alunos matriculados na rede pública com TEA, 71%, totalizando 12,4 mil estudantes.

A gerente de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, Giovanne Berger, informou que os alunos que possuem alguma deficiência ou diagnosticados com autismo recebem atendimento especializado na rede pública.

“O trabalho ocorre tanto na sala de recurso multifuncional quanto no trabalho colaborativo dentro de sala de aula com os professores. Todos os estudantes com qualquer tipo de deficiência, TEA ou altas habilidades têm um atendimento educacional especializado garantido e individualizado, porque cada um necessita de uma intervenção pedagógica diferente”, explicou.

Quem faz a avaliação do atendimento especializado é a Sedu. A partir do momento em que o aluno com TEA é matriculado, é feito um estudo de caso junto da família para analisar quais as necessidades do aluno.

Depois, o diretor da instituição onde o aluno foi matriculado entra com um ofício para a superintendência, que vai analisar o pedido e começar o processo de contratação de profissionais para acompanhar o aluno, bem como as autorizações para os atendimentos especializados.

O professor especializado realiza um trabalho dentro e fora de sala de aula para acompanhar o aprendizado do aluno com TEA, como explica a coordenadora pedagógica e especialista em educação inclusiva, Alessandra Poleze.

Existem os dois tipos de atendimentos, que a gente chama de trabalho colaborativo, dentro e fora de sala de aula. Esse atendimento é importante porque são vários níveis de aprendizagem. Existem alunos autistas que conseguem aprender com muita facilidade e têm altas habilidades, mas também existem outros níveis que são mais severos e que o aluno tem muita dificuldade.

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