
Jorge Leal Medeiros, professor de engenharia aeronáutica da USP, estranhou que o trem de pouso não estava recolhido e que, aparentemente, os flaps não estavam estendidos. Não é possível ter certeza por causa da qualidade das imagens. Desastre do Boeing da Air India: imagens dos flaps e do trem de pouso chamam a atenção
Reprodução/TV Globo
No mundo todo, pilotos e especialistas analisam os vídeos do Boeing da Air India em busca de explicações para o desastre.
Duas imagens chamaram a atenção:
a dos flaps, que são essas abas articuladas que entram e saem das asas para ajudar no controle de velocidade e sustentação do avião;
e a do trem de pouso – conjunto de amortecedores e pneus que rodam sustentando pousos e devem ser recolhidos logo depois das decolagens para diminuir o atrito com o ar e o avião ganhar velocidade.
O professor de engenharia aeronáutica da USP, Jorge Leal Medeiros, estranhou que o trem de pouso não estava recolhido e que, aparentemente, os flaps não estavam estendidos. Não é possível ter certeza por causa da qualidade das imagens.
“Esse flap pode ser usado um pouquinho para decolagem. Quando a pista não é muito longa, você decola com um pouquinho de flap. O que pareceu é que esse avião estava decolando com zero flap. Aparentemente. A gente está estimando. Agora, ele decolar com zero flap é até razoável, mas ele decolar e cair com trem de pouso embaixo é estranho”, afirma Jorge Leal Medeiros, engenheiro aeronáutico, professor da USP e piloto privado.
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Também professor de aeronáutica da USP, James Waterhouse levanta uma hipótese:
“Mais provável é que tenha sido falha de motores. Não de um motor só, porque todo avião voa e decola muito bem com apenas um motor. E esse tipo de falha pode ocorrer com o impacto de pássaros”.
O especialista em gerenciamento de risco diz que as imagens sugerem que o avião perdeu potência ou que estava com excesso de peso:
“A aeronave estava até com uma atitude aparentemente de ascender, mas não estava conseguindo se sustentar e acabou chegando ao solo. Isso é um forte indicativo de que tenha sido um problema de carga ou de potência, diz Gerardo Portela, engenheiro e PhD em riscos e segurança.
Também é possível ver um objeto escuro no ar um segundo antes da explosão do Boeing. Segundo a torre de controle do aeroporto, a cabine declarou “Mayday” segundos depois e ficou em silêncio.
“O ‘Mayday, Mayday’ significa que o avião está realmente caindo. Então, é uma emergência mais radical, onde ele não tem muito o que fazer”, explica Gerardo Portela.
Só a abertura das caixas-pretas e o final das investigações trarão as respostas.
O avião 787-8 faz parte do que a Boeing apelidou de Dreamliners – a linha dos sonhos. O modelo foi lançado em 2011, e não há registros de acidentes graves com mortes com esse modelo até a tragédia desta quinta-feira (12).
Esse modelo, considerado um dos mais modernos do mundo, já apresentou problemas operacionais e chegou a ter as entregas suspensas em 2021. Em 2024, autoridades americanas investigaram informações de supostos problemas na montagem do Dreamliner. A Boeing realizou uma série de testes que destacaram qualquer falha.
“Esse avião passou por alguns problemas de bateria, sistema elétrico, mas tudo já foi recertificado, já foi liberado para o voo. Então, a gente não pode — é muito prematuro — conectar qualquer coisa do passado a um incidente desse, a um acidente desse. Nenhum avião que ofereça qualquer risco, nos dias de hoje, vai ser liberado por órgãos reguladores de qualquer lugar do mundo para ele poder operar”, afirma o aviador Fernando Borthole.
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