O cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), avalia que os ataques recentes de parlamentares bolsonaristas aos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Marina Silva, do Meio Ambiente, fazem parte de uma estratégia articulada de desgaste do governo Lula (PT) até as eleições de 2026.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta quinta-feira (12), Niccoli classifica o comportamento da extrema direita como uma “performance vazia”. Ele acredita que esses parlamentares não estão interessados em debater políticas públicas, mas em criar conteúdos para gerar engajamento nas redes sociais. “Essa oposição de extrema direita não debate, ela late. Late muito, grita, mas não é capaz de discutir, porque quando tenta, é sempre derrotada”, afirma.
O professor destaca o episódio recente na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, quando o ministro Haddad foi interrompido por deputados bolsonaristas, entre eles Nikolas Ferreira (PL-MG). “Nikolas latiu bastante, chegou a dizer que o governo Bolsonaro teve superávit, e Haddad respondeu dizendo que esse superávit foi fictício. […] Em um segundo momento, com outros deputados, eles se ausentaram. Não quiseram debater de fato”, analisa.
Para Niccoli, o movimento trata-se de uma “anulação da política” que, ele prevê, se intensificará no período pré-eleitoral. “O espaço político, Congresso, Senado, é um local de debate, de oposição de ideias, divisões de mundos opostos, saudável para a democracia. Mas os bolsonaristas são incapazes de debater. […] Fizeram isso com Marina Silva, o que foi absolutamente patético, a colocaram numa condição constrangedora por ser mulher, negra, ministra e ambientalista”, relembra, comparando as duas situações recentes.
O cientista político avalia que, diante desse cenário, é preciso fortalecer a comunicação com a população. “Embora existam procedimentos legítimos, como o aumento do IOF [Imposto sobre Operações Financeiras] ou a questão da taxação do Pix acima de R$ 5 mil, o governo não coloca isso em debate primeiro diante da sociedade”, critica. Segundo ele, essa falta de mediação abre espaço para distorções e manipulações na internet.
Na análise do professor, a atuação dos bolsonaristas compromete a democracia brasileira. “Ovacionam tentativas de golpe, ovacionam torturadores e ovacionam o Estado mínimo, quando, na verdade, o Estado é mínimo para a população e máximo para as elites”, aponta. “O que eles praticam é antipolítica, a decadência da arte da política em nome do fascismo, do autoritarismo e do silenciamento”, complementa.
Repercussão de ataques é desfavorável e pode prejudicar oposição
Apesar dos ataques, Niccoli ressalta que a repercussão da mídia tradicional tem sido desfavorável à extrema direita. “O que soou mais do que os latidos da extrema direita foi a resposta de Haddad, inclusive acusando Nikolas de ter feito ‘molecagem’”, observa.
Para ele, é possível que a “antipolítica” promovida pela oposição tenha resultados contrários ao esperado. “Isso vai irritando gradativamente o eleitorado também porque a política, por mais que tenhamos ideologias diferentes, é o lugar do embate, da oposição de ideias, e nem isso nós estamos tendo mais”, indica.
O cientista político acredita, ao mesmo tempo, que “a esquerda tem aprendido a rebater fazendo memes, mostrando a incapacidade dos políticos de extrema direita no exercício legítimo da política”. “Esses influenciadores, que eu não consigo nem chamar de políticos, apenas têm um cargo, mas não têm nenhum conhecimento das práticas políticas”, declara.
Para ouvir e assistir
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