Davi Kopenawa recebe título de Doutor Honoris Causa pela terceira vez: ‘Sou doutor da Amazônia’

Durante a cerimônia em que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Goiás (UEG), o líder xamã e Yanomami Davi Kopenawa convocou indígenas e não indígenas a se unirem em defesa da Amazônia, das florestas brasileiras e contra as ameaças aos territórios tradicionais. A homenagem foi realizada na noite desta terça-feira (11), na cidade de Goiás (GO), na Tenda Multiétnica do 26º Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica). A atividade ocorre em paralelo ao festival de cinema e vídeo ambiental, com foco na cultura, espiritualidade e saberes dos povos originários e comunidades tradicionais.

Este é o terceiro título de Doutor Honoris Causa recebido por Kopenawa. Antes da UEG, ele foi homenageado pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ao agradecer o reconhecimento, se autointitulou “doutor da Amazônia”. “Continuo lutando até o fim. Essa é a minha história. Vou deixar essa história para vocês lembrarem quem foi Davi”, discursou.

Ao lado de lideranças indígenas, autoridades públicas e representantes da comunidade acadêmica, o xamã combinou denúncia política, espiritualidade e gratidão. “Precisamos juntar nossa força para poder lutar contra invasores, contra a mineração, contra o marco temporal“, afirmou. “Davi não está sozinho. Davi está junto com toda a sua liderança do Brasil”, destacou.

“Xapiri vê tudo. É assim que eu falo por todos”

Kopenawa explicou que, embora não consiga estar fisicamente em todas as terras indígenas, sua luta está conectada espiritualmente a todos os territórios originários. “Eu não posso andar em todas as terras indígenas, mas Xapiri anda. Xapiri vê tudo. É o espírito que caminha entre os territórios. É assim que eu falo por todos.”

Na cosmovisão Yanomami, os xapiris são a ponte entre o mundo visível e o invisível, que ajudam na proteção da terra-floresta contra os males humanos e não-humanos.

O líder indígena também convidou as lideranças mais jovens e o público não indígena a romper os limites do olhar. “Quero que vocês sonhem. Sonhar é subir alto, olhar toda a terra, todo o planeta. É assim que nós, Yanomami, aprendemos a olhar longe”, contou.

Autor do livro A Queda do Céu, escrito em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert, Kopenawa destacou a obra como guia de sua trajetória. “Esse livro está na frente, na cabeceira dos caminhos. Ele é parte da minha luta”, pontuou.

A fala também foi marcada por críticas diretas ao projeto de destruição representado pelo agronegócio e pela mineração que ameaçam o futuro. “Floresta é saúde. Floresta é vida. Floresta traz benefício para todos. Não podemos destruir. Destruir é crime. Nós não podemos matar nossas florestas”, alertou.

Davi Kopenawa (centro) recebe título de Doutor Honoris Causa ao lado do reitor da UEG, Antonio Cruvinel, (à direita) e do superintendente de Atenção Especializada da Secretaria de Estado da Educação (Seduc/GO), Rupert Nickerson Sobrinho | Foto: Vinicius Schmidt/ Divulgação Fica | Foto: Vinicius Schmidt/ Divulgação Fica

Política com os pés na terra

Kopenawa ressaltou a diferença entre a política institucional e a forma de organização e resistência dos povos originários. “Nós não precisamos copiar os políticos. Nós somos diferentes, muito diferentes”, enfatizou.

Segundo ele, a política indígena nasce da vivência com a terra, da memória dos ancestrais e da espiritualidade. “Nós estamos juntos com o trovão, com o vento, com o sol, com a escuridão, com a claridade”, disse.

Ao longo da fala, lembrou das lideranças históricas que abriram caminhos, como cacique Raoni, Álvaro Tukano, Marcos Terena e Ailton Krenak, e destacou a força das mulheres, das crianças e dos novos líderes preparados para fazer a luta institucional “com governador, com senador, com deputado, com quem quiser tirar nossas terras”. “Não queremos seu dinheiro. Nós queremos a terra para plantar, para sustentar nossos filhos. Para ter comida para eles. É isso que nós queremos”, reforçou Kopenawa.

“Essa é a nossa lei do papel. Nós não precisamos da lei como vocês têm. Constituição vocês criaram, mas esqueceram. Nós temos a nossa, que dançamos na terra, que pedimos à floresta, que agradecemos com a pintura, com nosso canto e nossa festa”, concluiu o xamã.

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