
Thiago Flausino, de 13 anos, foi morto durante uma operação na madrugada de 7 de agosto de 2023. Na mesma decisão, justiça mandou soltar outros 2 agentes. Thiago Menezes Flausino
Reprodução
Dois policiais militares irão à júri popular pela morte o estudante Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, assassinado a tiros durante uma operação na Cidade de Deus, Zona Oeste, em 2023. Ainda não a data para o julgamento.
Desde maio do ano passado, os 4 cabos do Batalhão de Choque, uma das tropas de elite da Polícia Militar do Rio, estão presos pelo crime de homicídio.
Nesta quarta-feira (11), a juíza Elizabeth Machado Louro entendeu que apenas 2 agentes participaram efetivamente do assassinato de Thiago: Diego Pereira Leal e Aslan Wagner Ribeiro de Faria. Em depoimento, ambos confirmaram que atiraram contra o menino.
Na mesma decisão, a magistrada mandou soltar Silvio Gomes dos Santos e Roni Cordeiro de Lima, por entender que eles não tiveram participação na morte.
Para dar a sentença, a magistrada analisou alguns depoimentos, dentre eles o de um amigo da vítima, que presenciou o ocorrido.
A TV Globo está tentando contato com a defesa dos dois policiais Diego Pereira Leal e Aslan Wagner Ribeiro de Faria.
Os 4 PMs que estão presos pela morte do adolescente Thiago Flausino
Reprodução/TV Globo
Depoimentos
Segundo a testemunha, os dois estavam circulando na comunidade na motocicleta do pai de Thiago quando, em certo ponto, acabaram perdendo o equilíbrio e caíram. O rapaz contou que, enquanto tentavam reerguer a motocicleta, foram surpreendidos com a aproximação de um carro descaracterizado, de onde os ocupantes saíram já efetuando disparos contra eles.
O rapaz contou ainda que conseguiu fugir ao embarcar na garupa de um mototaxista e seguir em direção a sua casa, enquanto Thiago permaneceu caído.
O sobrevivente disse ainda que viu apenas o ocupante do banco do carona sair do carro, o qual teria disparado contra ele. No entanto, ele não conseguiu reconhecer o rosto de nenhum dos acusados.
PMs confirmaram operação na CDD
No depoimento dos 4 PMs, no dia da morte de Thiago havia uma operação na comunidade da Cidade de Deus para coibir a realização de um baile funk irregular.
Eles alegaram que estariam utilizando o automóvel de Roni Cordeiro, atendendo a pedido de seus superiores para que pudessem operar dois drones, a fim de monitorar a região e identificar a melhor estratégia para que as equipes pudessem acessar o interior da comunidade.
Ainda segundo os policiais, com o fim da operação com os drones, seguiram para um posto de combustível próximo à comunidade, onde os acusados se juntariam aos demais policiais envolvidos na operação, à exceção apenas de Roni, que estava à paisana e voltaria para o batalhão em seu próprio carro.
Enquanto eles aguardavam embarcados no veículo, a motocicleta das vítimas teria passado pelo posto de combustível, momento em que alegam terem visto Thiago portando uma arma.
Os agentes afirmam que resolveram seguir as vítimas e quando elas caíram com a motocicleta, resolveram abordá-las. Na sequência, Aslan teria, então, descido do banco de trás, atrás do motorista, e ido em direção às vítimas para abordá-las, momento em que, segundo relato dos réus, teriam sido efetuados disparos contra a equipe.
De acordo com o depoimento de Diego Leal, ele estava sentado no banco do carona e, ao ouvir os disparos, desceu do carro e pôde ver Thiago atirando contra eles, confirmando que disparou contra ele nesse momento.
Já Aslan confirmou que foi o primeiro a desembarcar, contando que deu ordem de parada para as vítimas, mas que, nesse momento, Thiago teria atirado contra ele, que revidou, efetuando dois disparos contra a vítima, embora não saiba dizer se foram esses os tiros que o atingiram.
“A prova também evidenciou que, dos quatro acusados, apenas Diego e Aslan efetuaram disparos contra as vítimas, o que admitem os próprios réus, embora alegue que o fizeram em legítima defesa. Sendo assim, restou suficientemente indiciada a autoria quanto aos acusados Diego e Aslan, porém, não em relação a Silvio e Roni, o que, inclusive, faz com que o órgão da acusação requeira sejam eles impronunciados”, diz um trecho da decisão.
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O que diz a família
Familiares afirmam que o jovem foi executado pelos policiais e falaram em cena forjada pela PM. O tio de Thiago disse que o sobrinho foi executado por um policial quando já estava caído no chão.
“O Thiaguinho estava passeando de moto com um amigo, saindo da Cidade de Deus, que foi abordada já a tiro. Um tiro pegou na perna, o Thiaguinho caiu, aí a gente tem um trechinho da imagem, que vê o Thiago no chão, ainda vivo, e o policial acaba de executar ele”, descreveu Hamilton Bezerra Flausino.
“Não teve tiroteio, não teve tiroteio. Até porque o pessoal foi se chegando para fazer tipo uma manifestação ali. Nós, familiares, já estávamos ali, chegamos muito rápido. Então a gente ia comandando, gente, não precisa fazer negócio de queimar pneu. Não, não, não, está tranquilo, deixa que a gente vai resolver pacífico. E assim foi, mas eles forjaram um tiroteio, dando um tiro”, acrescentou.
Mãe de Thiago, Priscila Menezes disse que a família está muito abalada “com o fato de estarem acusando uma criança de 13 anos de ser envolvida com tráfico”.
“Ele não era nada. Ele era apenas um adolescente ceifado por essa necropolícia que a gente tem no nosso estado. Mais uma vítima que entra para a estatística.”
Durante a investigação, ficou comprovado que Thiago Flausino levou três tiros, um na parte traseira da perna, um nas costas e outro que perfurou as duas canelas do jovem. Ainda de acordo com a apuração, nem Thiago e nem o condutor da moto tinham ficha criminal ou envolvimento com o tráfico.