‘Oposição que parecia morta desperta’, diz jornalista argentina sobre prisão de Cristina Kirchner

A decisão da Suprema Corte de Justiça da Argentina de manter a condenação da ex-presidente Cristina Kirchner acendeu o alerta entre setores progressistas e provocou uma série de mobilizações em diversas cidades do país. A sentença ratificada nesta terça-feira (10) prevê seis anos de prisão e inabilitação perpétua para cargos públicos, o que impede Cristina de disputar as próximas eleições.

Em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a jornalista argentina Érika Gimenez, coordenadora do meio de comunicação popular ARGMedios, classificou a condenação como “extremamente política” e cheia de irregularidades. Segundo ela, não foram apresentadas provas concretas que justificassem a responsabilização direta da ex-presidenta no caso de sobrepreço em obras públicas.

Segundo a jornalista, a resposta popular foi imediata. “Agora, a oposição que parecia morta desperta”, avalia. Há bloqueios em rodovias e manifestações nas principais praças do país. Ao mesmo tempo, ela denuncia um forte esquema de repressão nas ruas, com atuação ostensiva das forças de segurança. “Isso também é um dado preocupante, todas as forças de segurança [estão sendo mandadas] para as ruas. […] É possível que haja muita violência na rua pelas forças de segurança”, alerta.

A jornalista avalia que o episódio pode fortalecer o peronismo, movimento popular e nacionalista ligado ao ex-presidente Juan Domingo Perón, vinculado aos trabalhadores, e rearticular a oposição ao governo de Javier Milei, marcado por medidas de arrocho fiscal e autoritarismo. “O peronismo sempre é assim: precisa de uma causa, um caso, algum fato político para reviver”, aponta. No julgamento anterior de Kirchner, milhares de pessoas formaram um cordão em frente à casa da ex-presidenta.

Para Gimenez, o episódio tem semelhanças com o que ocorreu no Brasil com a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2018, ano da eleição presidencial que elegeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), hoje inelegível e réu no Supremo Tribunal Federal (STF). “É interessante ver como não é uma coisa só da Argentina, [o caso] é parecido com o que aconteceu com Lula”, compara. De acordo com ela, Cristina Kirchner é “a pessoa mais importante opositora da Argentina” e sua condenação teria como objetivo impedir a sua eleição.

Prisão sem provas é risco para democracia argentina

A condenação ocorre poucos dias após Cristina Kirchner anunciar sua candidatura a deputada pela terceira seção eleitoral da província de Buenos Aires, uma das mais importantes do país. Para Gimenez, o momento escolhido pela Corte é “inentendível” e agrava a instabilidade institucional e política da Argentina. “É muito preocupante também para a democracia argentina”, lamenta.

“A delegação desse caso fala de sobrepreço em uma obra pública, mas Cristina não é diretamente a pessoa que tem que firmar essas cartas. Não é a presidenta. O ministro é o que assina essas cartas”, explica Gimenez. Segundo ela, as provas do processo contra a ex-presidente “nunca foram apresentadas”.

A jornalista destaca ainda a proximidade entre os juízes responsáveis pelo caso e o ex-presidente Mauricio Macri. Segundo ela, “isso é macrismo [corrente liberal e conservadora ligada a Macri, alinhada ao Judiciário e empresariado] puro”. “O poder judiciário aqui está muito ligado a ele. Muito mais ligado do que a uma lei. […] Esses três juízes, por exemplo, jogaram com ele tênis na Casa Rosada quando ele era presidente”, denuncia.

O promotor da causa, Diego Luciani, também foi criticado por Gimenez. “Ele não conseguiu apresentar nenhuma prova concreta da amizade ou da proximidade da ex-presidenta Cristina com o empresário Lázaro Báez”, afirma.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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