A repressão do governo Donald Trump contra imigrantes nos Estados Unidos tem gerado reações intensas na Califórnia, especialmente em Los Angeles. No último fim de semana, protestos tomaram as ruas da cidade após detenções arbitrárias realizadas pela polícia migratória do país. Para Giorgio Romano Schutte, professor adjunto da Universidade Federal do ABC (UFABC), a escalada de tensão promovida pelo presidente americano é proposital e visa mantê-lo no poder.
“Trump tem necessidade de manter o tempo todo tensão, o tempo todo ele quer ficar na ofensiva”, afirma Romano em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. “Ele vive na polarização, então é isso que ele quer e está conseguindo”, avalia. Segundo o professor, a política migratória é uma das únicas áreas em que o ex-presidente mantém ou até amplia sua popularidade. “Infelizmente, essa pauta dá certo apoio para ele.”
Romano destaca ainda o envio da Guarda Nacional a Los Angeles, mesmo sem o aval do governador democrata Gavin Newsom, como parte da estratégia de radicalização. “Isso evidentemente é sem precedente”, diz o professor, que ressalta que a tropa estaria atualmente encarregada da proteção de instalações federais. “O próprio fato de esses dois mil componentes da Guarda Nacional terem chegado em Los Angeles é contrário à vontade do governador, que pediu para que eles saíssem”, destaca.
A medida ampliou o confronto político com autoridades locais. Para o professor, essa é mais uma tentativa de Trump de desviar o foco de crises recentes, como as brigas públicas com Elon Musk e impasses diplomáticos com líderes como o presidente russo Vladimir Putin.
Medidas de Trump têm ‘traços facistas’
Para o professor, o avanço dessas políticas e a forma como elas se sustentam mostram traços autoritários no governo Trump. “É sempre muito difícil fazer paralelos históricos, mas tem claramente traços fascistas”, analisa. Sobre a atuação da polícia migratória, criticada por usar agentes mascarados e sem identificação, Romano afirma que as cenas são “um horror”, mas pondera: “Eu não sei se ele está à margem da lei, mas Trump interpreta tudo do jeito dele, ele não está nem aí.”
Ele também alerta para os efeitos econômicos da perseguição a imigrantes, que ocupam postos essenciais na economia dos EUA. “Quem vai colher as uvas da Califórnia? […] Tem uma irracionalidade muito forte. […] Aparentemente complica ainda mais a situação das pequenas empresas”, questiona. Apesar disso, ele vê que a reação do governo Trump, em vez de recuar, tende a ser de intensificação da retórica e das ações. “A reação dele é ir para frente, com mais dessas políticas agressivas”, afirma.
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