‘Israel testa limites da lei internacional há décadas’, diz historiadora sobre ‘captura ilegal’ da Flotilha da Liberdade

A historiadora Arlene Clemesha, professora da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em história árabe, classificou como “sequestro ilegal” a interceptação da Flotilha da Liberdade por Israel, na noite deste domingo (8). O barco Madleen, que seguia rumo à Faixa de Gaza com ajuda humanitária, transportava ativistas de diferentes países, incluindo a sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila, coordenador da embarcação. Desde então, o grupo está incomunicável.

“Eles foram ilegalmente sequestrados em águas internacionais. O cerco à Faixa de Gaza em si é ilegal. As declarações do governo israelense são absolutamente irrelevantes, uma flagrante demonstração da sua total desconsideração por tudo que é ordem internacional”, afirma Clemesha, em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.

A professora destaca que a ação faz parte de uma prática sistemática de desrespeito ao direito internacional. “Israel vem testando os limites da lei internacional, da paciência dos países, da aceitação, da conivência europeia há sete décadas. É por isso que está acontecendo o genocídio hoje”, declara.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel confirmou a detenção do barco e dos tripulantes. Pelas redes sociais, a pasta chamou ironicamente a missão de “iate das celebridades” e disse que todos “os passageiros devem retornar para seus países de origem”. Em um vídeo compartilhado pela conta oficial da Chancelaria israelense, é possível ver os tripulantes da Flotilha recebendo água e comida.

Segundo ela, há um histórico de desprezo às pressões diplomáticas internacionais, como ocorreu com a interceptação da primeira Flotilha, em 2010, quando dez ativistas foram mortos. “Israel vem agindo com total desrespeito e desconsideração pelos países, pelos governos, pelas embaixadas”, diz.

Boicote econômico é única saída

Ao comentar a posição brasileira diante do episódio, Clemesha elogiou a postura do Itamaraty, que exigiu a soltura dos ativistas e reafirmou que a ação ocorreu em águas internacionais. No entanto, alertou que a política externa não pode se curvar às disputas internas. “Essa questão da Palestina, do Oriente Médio, da paz mundial, não poderia ser atravessada pela agenda nacional. Ganhar simpatia da direita brasileira, o governo nunca vai ganhar. É uma batalha perdida”, defende.

A professora acredita que o momento requer medidas mais incisivas, como a suspensão de relações comerciais com Israel, incluindo exportações de petróleo e minerais usados na indústria militar. “Há um clamor crescente para que o Brasil se coloque à altura do que é o desafio global desse momento, que é a paz na Palestina e o fim desse genocídio”, afirma. Entre as ações possíveis, a professora destaca que o Brasil poderia, por exemplo, sair do tratado de livre comércio entre o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e Israel.

Clemesha também reforça a importância do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), iniciado em 2005 por organizações palestinas da sociedade civil. Para ela, o boicote econômico a Israel é a saída, já que os países não chegam a uma resolução por um cessar-fogo definitivo, principalmente com o apoio dos Estados Unidos. “A única solução que resta é essa: o mundo se juntar, os países se juntarem e isolarem economicamente o genocídio”, reivindica.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.