Em contato com o Brasil de Fato, o ativista Thiago Ávila, um dos 12 tripulantes do veleiro Madleen, da Coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC, na sigla em inglês), afirmou neste domingo (8) que o grupo está sob “risco de vida concreto” e que “Israel está prestes a cometer um novo crime de guerra”.
“A gente sabe o quanto essa ameaça é grave, porque já assassinaram 10 membros da flotilha 15 anos atrás, bombardearam o nosso barco um mês atrás, em Malta. Então a gente sabe que isso é um risco de vida muito concreto”, afirmou Ávila.
“Israel está prestes a cometer um novo crime de guerra. Neste momento, nós estamos fazendo toda a mobilização possível para tentar salvar essa missão, salvar a ajuda humanitária que está aqui e tentar preservar também a nossa saúde, a nossa vida, a nossa integridade física e a nossa liberdade”, disse o ativista.
Segundo ele, a flotilha humanitária encontra-se em águas internacionais, a 150 milhas náuticas, ou cerca de 270 km da costa de Gaza, próximo ao Egito. O ativista denuncia as ameaças do governo israelense nos últimos dias. O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, afirmou neste domingo (8) que deu instruções ao Exército para impedir a chegada do Madleen a Gaza.
“À Greta, a antissemita, e aos seus companheiros, porta-vozes da propaganda do Hamas, digo claramente: voltem, porque não chegarão a Gaza”, em um comunicado de seu gabinete.
“O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, ameaçou bloquear a passagem, prender os participantes e até mesmo eliminá-los caso haja risco de segurança, uma ameaça considerada grave pelos organizadores devido a incidentes anteriores”, comentou Thiago Ávila, que ressalta a violação do regramento internacional pelo Estado sionista.
“A ordem de bloqueio é ilegal, visto que Israel não tem jurisdição em águas internacionais ou território palestino, e essa interceptação configuraria um crime de guerra, de acordo com a Corte Internacional de Justiça e o Tribunal Penal Internacional”, disse o ativista, reafirmando que a determinação do grupo de chegar ao território palestino com a ajuda humanitária.
“Não podemos parar diante das ameaças deles, senão eles vencem”, finalizou Ávila, que fez um chamado à mobilização. “Todo mundo precisa se mobilizar.”
Além de Ávila, outros 11 ativistas estão a bordo do Madleen, entre eles a ativista e ambientalista sueca Greta Thunberg. Fora eles, cidadãos da Alemanha, França, Turquia, Espanha e Holanda estão no barco. O veleiro saiu no domingo (1) da Sicília, na Itália, em direção a Gaza. O objetivo é fornecer ajuda humanitária e “romper o bloqueio israelense” imposto ao território palestino por Israel.

O Ministério da Saúde de Gaza afirma que desde o começo dos ataques, em outubro de 2023, 54.880 pessoas foram assassinadas no território pelas forças israelenses, a maioria civis. Além da agressão armada, Israel impõe um bloqueio naval a Gaza e controla a entrada de ajuda humanitária no território. Segundo organizações internacionais, já foram registradas dezenas de mortes por fome, a maioria de crianças pequenas e idosos.
Lula condena ataques, mas não rompe relações… ainda
Em viagem oficial à França, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a condenar o que classificou como “genocídio” em Gaza e chegou a comparar o tratamento dado pela comunidade internacional à guerra na Ucrânia, com o massacre palestino.
“Tão grave quanto a Ucrânia é Gaza. A guerra entre Ucrânia e Rússia são dois exércitos formais brigando. Em Gaza não, é um exército altamente profissionalizado matando mulheres e crianças”, afirmou o presidente, que denunciou o “silêncio do mundo” em relação ao genocídio do povo palestino.
“Eu fico pasmo com o silêncio do mundo. Parece que não existe mais humanismo nas pessoas. ‘Ah, palestino pode morrer’. Palestino não é ser inferior, palestino é gente como nós. Ele tem o direito de ter o terreno dele. Foi demarcada em 1967 a área em que os palestinos poderiam construir o seu país. Está sendo tomada essa terra demarcada em 1967”, declarou o presidente.
No entanto, Lula ainda não respondeu ao apelo de dezenas de artistas, intelectuais, acadêmicos e personalidades brasileiras, que pedem que o governo do Brasil rompa relações comerciais com Israel. O documento destaca que o país segue exportando petróleo ao governo de Benjamin Netanyahu, além de manter acordos e negociações em curso que envolvem, inclusive, a compra e venda de equipamentos militantes israelenses.
“É indispensável que o Brasil se junte às demais nações que aplicaram sanções ao regime israelense, rompendo relações diplomáticas e comerciais com o estado sionista de Israel, através de embargo militar bilateral e embargo enérgico, e revogue o tratado de livre comércio em vigor, alinhando-se ao parecer de especialistas das Nações Unidas que prevê que, para o cumprimento da decisão da [Corte Internacional de Justiça] CIJ, os Estados devem cancelar ou suspender relações econômicas, acordos comerciais e relações acadêmicas com Israel’ até que este cumpra as determinações para pôr fim ao genocídio, ocupação e apartheid e respeitar a autodeterminação do povo palestino”, afirma a petição.
O formulário aberto possui mais de 12 mil assinaturas. Entre os signatários estão como Chico Buarque, Érika Hilton, Glauber Braga, Gregório Duvivier, Luiza Erundina, Milton Hatoum, Ney Matogrosso, Paulo Sérgio Pinheiro, além de dezenas de entidades e movimentos da sociedade civil.