
Thaíde lança o primeiro álbum solo em oito anos
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♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Corpo fechado – Mente aberta
Artista: Thaíde
Cotação: ★ ★ ★ ★
♬ “Como também faço parte do movimento / Digo com conhecimento de quem veio para aprender / O rap é pra quem tem algo a dizer”, sentencia Thaíde nos versos de Ritmo e poesia, primeira das 13 músicas do álbum Corpo fechado – Mente aberta.
Sim, o rapper paulistano tem autoridade e tem muito a dizer, e diz, no intenso fluxo de consciência negra que pauta o álbum lançado na sexta-feira, 23 de maio. Com produção musical de DJ Maxnosbeatz e Felipe Mayfield, o álbum Corpo fechado – Mente aberta flagra Altair Gonçalves em evolução, mas apegado aos sólidos valores socias que sempre moldaram o rap deste MC pioneiro.
Altair Gonçalves é nome que consta na certidão de nascimento desse artista que veio ao mundo em 5 de novembro de 1967 e foi criado na Vila Missionária, região periférica da zona sul da cidade de São Paulo (SP). Altair virou Thaíde quando se tornou b-boy dos grupos de dança Black Panthers e Dragon Breakers. De b-boy, Thaíde se tornou MC e, em dupla com DJ Hum, fez história e abriu portas no universo do rap.
O título do álbum reproduz o nome da música Corpo fechado, parceria de Thaíde com Marcos Telesphoro que abre o primeiro álbum de estúdio de Thaíde & DJ Hum, Pergunte a quem conhece (1989). “Essa obra conversa com minha trajetória sem fechar portas”, conceitua o rapper a respeito de Corpo fechado – Mente aberta, primeiro álbum solo de Thaíde desde que Vamo que vamo que o som não pode parar (2017), disco lançado há oito anos.
De fato, Thaíde se abre para novas sonoridades sem deixar de ser fiel à essência engajada do hip hop. Rap gravado com Nego Max, Campo minado é petardo explosivo sobre um Brasil racista que tem como alvo o povo preto. Faixa permeada pelo canto lírico de Negravat, Pega a visão também pisa nesse campo minado para meter o dedo na ferida aberta do racismo em versos divididos por Thaíde com Djonga.
Pega a visão é uma das músicas que Thaíde veio lançando em sucessivos singles desde janeiro de 2024, mês em que apresentou a faixa Terra da garoa como saudação aos 470 anos da cidade de São Paulo (SP).
Outras faixas foram reveladas paulatinamente, casos de Meu nome não é Xande – samba em que Thaíde brinca com o fato de ser confundido com Xande de Pilares – e Nosso rap, tema em que Thaíde e o convidado carioca MV Bill festejam a brasilidade do hip hop tupiniquim em gravação pontuada pelo toque de um berimbau.
Em que pese o baixo teor de novidade do repertório de Corpo fechado – Mente aberta, o álbum se sustenta como obra conceitual que equilibra temas pesados com outros mais amenos sem quebra da unidade.
Entre as novidades, há Go (exemplo da potência e atualidade dos beats de boa parte das 13 faixas), Rep com E (harmonização do rap com o repente em gravação com a dupla Caju & Castanha) e After party (faixa de clima festivo em que Thaíde segue o baile com Ana Preta, Arnaldo Tifu e Maloqueiro Anônimo).
Com capa que remete ao Pantera Negra, personagem da Marvel que simboliza a resistência e realeza negra, o álbum mostra que, para Thaíde, o rap sempre é compromisso e é por isso que, entre faixas mais festivas com bases calcadas no balanço dos bailes black, o rapper lembra em verso da música Perspectiva que o Brasil é pátria nada gentil com o povo preto.
Capa do álbum ‘Corpo fechado – Mente aberta’, de Thaíde
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