Mãe de ex-jogador de futsal espancado fala sobre condenação de advogado dez anos após crime: ‘Encerramos essa história’


Diego Pietro Gonçalves foi condenado a três anos de prisão em regime aberto por lesão corporal dolosa. André Machado chegou a perder o movimento das pernas após as agressões. Claudete, mãe de André (à esquerda), encara condenação como ‘episódio encerrado’
Arquivo pessoal
Ao longo dos últimos dez anos, André Machado lutou para retomar a vida que tinha antes da noite de 7 de abril de 2014. O jovem é o ex-jogador de futsal que foi espancado ao sair de uma casa de shows em Sorocaba, no interior de São Paulo.
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André chegou a perder o movimento das pernas após as agressões (relembre o caso abaixo). Durante a jornada de recuperação, que contou com cirurgias e fisioterapia, cada passo era celebrado por ele e pela família, incluindo a mãe, Claudete Alves. Foi durante a tarde de quinta-feira (1º) que o último passo, talvez o mais importante até aqui, foi dado: a condenação de quem o espancou.
O advogado Diego Pietro Gonçalves foi condenado a três anos de prisão em regime aberto. Neste caso, a pessoa cumpre pena em liberdade, mas precisa seguir algumas regras determinadas pela Justiça. De acordo com o TJ-SP, Diego foi condenado por lesão corporal dolosa, que consiste em agredir com violência ou grave ameaça. Cabe recurso da decisão.
“Encerramos essa história, pelo menos esperamos que sim. [Agora] é seguir da melhor maneira possível, sempre com Deus no comando”, relata Claudete.
De acordo com o processo do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), por maioria dos votos, os jurados desclassificaram a imputação referente ao crime de homicídio qualificado tentado contra a vítima. A tese de legítima defesa, apontada pela defesa de Diego, não foi aceita pelo júri.
Para Claudete, enfrentar horas e horas de julgamento à espera de um resultado foi doloroso, mas a esperança de que tudo chegasse ao fim falou mais alto.
“Chorei por 12 horas. Ver e relembrar de tudo… Só imaginava como meu filho sofreu naquele momento ao ser espancado, mas a força era maior para que tudo se resolvesse da melhor maneira possível e que houvesse a condenação, era o mínimo para seguirmos as nossas vidas”, afirma.
“É claro que nada vai apagar todo o sofrimento, tudo o que o meu filho perdeu e que não vai mais conquistar, falando especificamente de futebol, que era a paixão da vida dele. Esperamos que, com a condenação, outros jovens pensem melhor nas atitudes e que tenha menos violência. Que menos mães e familiares passem pelo que passamos”, completa.
Júri chegou a ser adiado
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O júri deveria ter ocorrido no dia 31 de agosto de 2023. No entanto, segundo apurado pela TV TEM, das cinco testemunhas arroladas, uma não compareceu por problemas de saúde. Por conta disso, o julgamento foi suspenso e remarcado para quinta-feira.
Segundo o TJ-SP, desta vez, foram arroladas quatro testemunhas pela defesa e uma pela acusação. O júri foi composto por sete mulheres.
Familiares da vítima foram até o fórum para acompanhar o julgamento. A mãe de André pediu por justiça para “virar a página”.
“Não faz diferença se ele for condenado ou não. Mas eu queria uma paz de espírito, eu queria virar a página da nossa vida para a gente seguir em frente. Enquanto isso não acabar, a gente não consegue sair disso”, desabafou.
Em agosto, quando o júri deveria ter ocorrido, familiares e amigos da vítima fizeram uma manifestação em frente ao fórum de Sorocaba, com cartazes pedindo por justiça. André, que tinha 21 anos na época, chegou a perder os movimentos dos braços e das pernas após as agressões.
Familiares e amigos da vítima fizeram manifestação pedindo justiça
Antonio Ferreira/TV TEM
Pouco tempo após o crime, Diego foi indiciado por lesão corporal gravíssima e, em dezembro de 2015, a Justiça decretou a prisão dele por tentativa de homicídio. O agressor foi levado à delegacia e, depois, levado para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Sorocaba.
Em 2016, Diego ganhou o direito de responder ao processo em liberdade. A defesa informou que o juiz havia aceitado o pedido para revogar a prisão preventiva do rapaz.
Claudete Machado, mãe de André, mostra as medalhas que o filho ganhou como jogador de futsal
Antonio Ferreira/TV TEM
A defesa de André Machado informou que avalia, junto com o Ministério Público, se vai apresentar algum recurso. “Ainda não há uma certeza por dois motivos principais. O primeiro é o fato de a promotoria ter provado a conduta criminal do réu. Nós conseguimos mostrar para os jurados que não houve atropelamento e que tudo foi ocasionado por conta de uma lesão corporal causada pelo acusado”.
Já a segunda é justamente o entendimento por parte da família de comprovar as agressões. “Com a condenação, ainda que tenha havido a desclassificação da tentativa de homicídio para o crime de lesão corporal, a família entendeu que a justiça foi feita. A extensão do processo postergaria, ainda mais, um desgaste que já dura dez anos”, completou o advogado Walther Afonso da Silva.
Conforme apurado pelo g1, Diego, que é advogado, fez a sua própria defesa, ao lado de outras três advogadas.
Após a condenação, a defesa de Diego celebrou a desclassificação da imputação pelo crime de homicídio qualificado tentado durante o júri.
“Um Plenário com mais de 12 horas de duração e muitas semanas antecedentes de estudo e dedicação, contando com o Ministério Público e seus assistentes de acusação sustentando em seus debates a Tentativa de Homicídio com as três qualificadoras, a Defesa logrou êxito nessa árdua batalha”, pontuou a advogada Danielli Del Cistia.
O caso
O caso ocorreu no dia 7 de abril de 2014, em frente a uma casa de shows no Jardim Iguatemi, em Sorocaba.
Segundo testemunhas, André, o irmão e os amigos estavam indo embora quando a vítima teria sido confundida com um dos jovens envolvidos em uma briga que havia acabado de acontecer. Ele foi agredido com chutes, socos e pontapés. Momentos depois, desmaiou e foi levado para o hospital.
Antes da agressão, André era jogador de futsal e passou por times grandes do estado. Ele foi submetido a uma cirurgia na medula, que foi realizada em um hospital de Itu (SP), conseguindo recuperar gradativamente o movimento das pernas e braços.
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