O Maranhão é o estado com o maior índice de desmatamento pelo segundo ano consecutivo, registrando 218.298,4 hectares desmatados, com a maioria (95,4%) ocorrendo no Cerrado e 4,6% nos territórios da Amazônia Legal, segundo dados divulgados pela rede MapBiomas.O estado ainda acumula a liderança em violência no campo, com o maior número de lideranças quilombolas assassinadas no Brasil nos últimos quatro anos, segundo a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq).
O estado integra a região Matopiba, fronteira de expansão do agrícola que corresponde também aos estados Tocantins, Piauí e Bahia, onde, juntos, concentram 75% do desmatamento do bioma Cerrado de todo o país.
Marli Borges, liderança do Quilombo Guerreiro, localizado no município de Parnarama e um dos mais ameaçados pela expansão do agronegócio no Maranhão, denuncia os impactos socioambientais desse desmatamento.
“[O desmatamento] acaba com toda a nossa fruta do Cerrado, acaba com nossas caças, com os animais, com nossos locais de colocar roça, com nossas árvores medicinais, e agora, depois dessa pulverização aérea que está acontecendo de 2021 para cá, as coisas pioraram. A nossa saúde está péssima. A nossa renda, a gente tira da nossa terra, da nossa mãe natureza e do nosso modo de vida e está se acabando. Esse programa Matopiba veio para matar a população, matar a natureza, matar os animais, acabar com o ar que a gente respira e acabar com tudo”, explica Marli.
No Maranhão, uma das práticas brutais de desmatamento utilizada é o “correntão”, técnica capaz de devastar até dez campos de futebol por dia. A prática resultou na criação do Projeto de Lei 5.268/2020, que propõe a alteração do Código Florestal e da Lei de Crimes Ambientais para criminalizar expressamente o método e aumentar penas para quem o adotar.
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O estado seguiu a tendência nacional e registrou uma queda na área desmatada, mas ainda preocupa pesquisadores, como explica a cientista ambiental e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Roberta Rocha.
“O estado teve uma queda de 35% na área desmatada, quando comparamos com 2023, então a área total desmatada no estado foi de 218.298 hectares, sendo que 208.151 hectares foram na porção de Cerrado no Maranhão. Então em 2024 temos um cenário melhor do que em 2023, com uma queda do desmatamento no Cerrado e nos estados do Cerrado, com enfoque no Maranhão, mas precisamos continuar reduzindo o desmatamento no bioma e respectivamente nos estados”, pontua a pesquisadora.

Conflitos agrários
Junto aos altos índices de desmatamento, o Maranhão acumula também a liderança em violência no campo. Segundo a Conaq, é o estado com maior índice de assassinatos de quilombolas de 2019 a 2024, tendo como a principal motivação a disputa pela terra.
“Nós precisamos lutar pela liberdade do nosso território. Assim como nossos ancestrais lutaram para se libertarem e não serem escravizados, hoje nós estamos lutando para sobreviver, porque todo trabalho do agronegócio é para matar a população, e nós, principalmente os quilombolas, temos violados nossos direitos a cada momento”, desabafa a liderança Marli.
Em nota, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) destaca que apesar de liderar o ranking nacional, o estado garantiu a redução dos índices de desmatamento por meio de ações como o Planos de Prevenções e programas como Maranhão Sem Queimadas e Floresta Viva, além do fortalecimento da fiscalização e da regularização fundiária e ambiental.