Recuo do governo em aumento de IOF mostra poder do lobby financeiro, diz economista

O recuo do governo federal em relação ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para aplicações no exterior evidenciou o peso do lobby do sistema financeiro na formulação da política econômica do país. A avaliação é do economista Paulo Kliass, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, após a decisão de revogar parte da medida, publicada e retirada do Diário Oficial em poucas horas.

“Os dois foram tiros no pé”, afirmou Kliass, ao ser questionado sobre o impacto da tentativa de aumentar a arrecadação e o posterior recuo do governo. “Caiu muito mal porque o governo foi obrigado a recuar depois dessa entrevista coletiva. Você imagina nos bastidores o que aconteceu, a ponto de pegar uma edição extraordinária do Diário Oficial para retirar uma parcela do IOF que já estava publicada”, comentou.

Segundo ele, o movimento contrário à taxação veio de setores da elite financeira. “A Faria Lima entrou em ‘modo pânico’, fazendo seu lobby. […] Quer dizer, vemos desse ponto de vista o lobby que o sistema financeiro exerce sobre o governo.”

Kliass também criticou a tentativa de agradar o mercado por parte da equipe econômica. “A força desse pessoal é tão grande, e o medo do governo, por um lado, e a tentativa do ministro Haddad de agradar o sistema financeiro, por outro, são tão fortes que eles recuaram publicamente em questão de horas.”

A proposta previa a elevação do IOF sobre aplicações financeiras no exterior, medida que, segundo Kliass, afetaria diretamente o topo da pirâmide social e econômica. “Quem paga imposto no Brasil é a base, é a grande maioria da população que tem renda do trabalho e renda muito baixa. O topo da pirâmide, o 1% ou 0,1%, como quiser, não paga imposto nenhum”, afirmou.

Para o economista, o episódio escancara as dificuldades enfrentadas pelo governo para avançar em propostas de justiça fiscal. “A quem o interesse está sendo atendido do ponto de vista da implementação da política econômica?”, questionou.

A revogação foi feita apenas sobre as aplicações de investimentos de fundos nacionais no exterior. Horas antes, havia sido anunciado um aumento para 3,5% para este tipo de investimento. O aumento continua nos demais casos: compras com cartões internacionais, remessas ao exterior e empréstimos externos de curto prazo.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.